terça-feira, 20 de julho de 2010

O grito da arte


Eduard Munch pintou o quadro ao lado e deu-lhe o título de O Grito. No fim do século XX as artes plásticas se divorciaram das aparências do mundo, do elevar-se pelas cores e luzes do sublime que se esconde em nós, meras criaturas em busca de um sentido para nossa extenuante jornada efêmera. A arte moderna, pós-moderna, deu as mãos aos significados do mundo. O Grito não é pra se ver, mas sim ouvir. Munch pintou um quadro onde se ouve a agonia da existência. Por isso tem o mesmo efeito em preto e branco ou colorido.
As aparências do mundo, seu sentido e beleza, tornaram-se objetos da ciência. Um vídeo sobre física quântica é magistralmente feito para revelar a beleza das aparências das coisas. A simetria dos fractais, a explosão espetacular do átomo, a química levada à sua extrema potência, mais a admiração do espectador de olhos na tela de uma TV a cabo, são o novo palco dessa nova ciência que não busca mais o significado das coisas, mas sim o deleitar humano através das aparências dos fenômenos.
A música também passa por tal inversão similar. O RAP, o Hip Hop, o Funk super-valorizaram a prosa na música. Ou melhor, trocaram a melodia pela literatura, harmonias substituídas pela seqüência de palavras ditas sem fôlego, como nos mântras do hinduísmo e orações do islã. Uma música feita não só para dançar, mas para se falar enquanto se dança, com um gestual impositivo; os dedos indicadores denotando verdades, a cara franzida, sem paciência. O teor das letras é panfletário, ou sexualizado. Panfletos necessitam de postes, muros, para serem fixados. Esse é o novo papel da música, sons organizados para se transformarem em postes e muros para territorialização da música falada. A música por si só já não comove as massas. A música morreu e a sociedade de consumo nasceu. Os clips das MTVs podem ser vistos sem som, basta a imagem. São todos iguais, bocas fechadas ou não. O mesmo ritmo é executado até que o corpo anseie desesperado pela imobilidade e os ouvidos pelo silêncio. Como ouvintes, encontramos a felicidade no silêncio que vem depois da execução das peças da música pop moderna. O prazer está nos intervalos entre uma música e outra.
Ainda há velhas formas se propagando, logo não combinam com o moderno. Fósseis musicais. Talvez a culpa da decadência de hoje seja em função do reproduzir-se o mais rápido possível, e tudo dentro de uma fórmula que fosse vendável. ‘Tempo era e é dinheiro’. Afinal, qual o tempo da durabilidade da apreciação de uma obra de arte? Qual o tempo de sobrevivência de um disco? Seria sua vendagem ou seu impacto nas sensações humanas? Orfeu foi substituído por uma máquina de lavar roupas que propaga ruídos de engrenagens lubrificadas com sabão em pó. A arte grita. Era esse o recado de Munch?

Um comentário:

  1. O grito, de Eduard Munch. me inspirou cria um projeto que as suas propriedades comporia a respiração do cansado, ou da debilitada sociedade moderna, que não tem uma ideologia democrática capaz de apacentar os animos do homem secular. O GRITO DAS NAÇÕES, convida vc a raciocianar para uma porta do racional que se abre para uma esperança que se desabrocha com mais ênfase no século xxi, para substituir os conhecidos sistemas de escravidão que nós (Homens) criamos para nos auto governar, o sistema político, religioso e economico, que passou a ter os dias contados com uma intervenção divina na terra. com o nome de O GOVERNO DE DEUS. eu não vejo outra saida para a espécie humana continuar sobrevivendo no planeta terra. veja www.silvamaranhao.com.br

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