domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre um quadro de Seurat


É que eu desejo, às vezes, o sol tocando a clareira do bosque.

O chão claro, as folhas secas, melhor ainda se for à tarde.

Só a brisa balangando as árvores, o tempo pasmo,

o moinho imóvel e o canto lento dos pássaros claros.

Naquele calor ameno e doce, o mundo não acaba.

A lentidão da tarde é posse de eternidade.

É onde posso desfrutar de mim mesmo.

Me acho folha, um tronco que recebe sol.

Vejo ninfas no mar do sol vesperal.

Ateu, aceito o vinho de néctar doce.

Silenciosa harmonia do limo nas pedras do rio.

Pés molhados, olhos nas nuvens.


Livre de idéias prontas, sou feliz e abordo a

mim mesmo com voz de sangue de dentro do peito.

Leve e sereno, pelo sol da tarde, acho que é bom

ouvir e viver bem no fundo desse corpo, nessa

concha que irá polinizar o chão das flores do

vir a ser, do bem-me-quer, do envelhecer-se,

até que a noite glorifique o dia.

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