sexta-feira, 22 de outubro de 2010

E a Igreja se esqueceu de Frei Tito


A benção, Frei Tito

Em 1969 Frei Tito foi preso pela ditadura, acusado de dar apoio ao revolucionário Carlos Marhinguella. O Frei foi submetido à palmatória, choques elétricos e teve toda a sua pele queimada por pontas de cigarro. Enquanto ocorria a dor provinda das torturas e dos choques, o delegado Sérgio Paranhos Fleury (1933 - 1979), de maneira sádica, o aterrorizava tão desumanamente, que a loucura foi a única saída para o clérigo.

Durante todo o tempo em que passou pelo mais tenebroso inferno, não se deixou levar pelo possível conforto da delação. Não abriu a boca para transmitir informações do paradeiro ou de futuros planos do revolucionário Marhinguella. E Frei Tito os sabia, pois era solidário com os movimentos sociais, com o retorno da democracia ao país, com o afastamento do militares do poder. Não só Frei Tito defendia isso, mas Frei Beto, Dom Elder Câmara, Leonardo Boff e uma série de outros clérigos dedicados ao verdadeiro cristianismo, que deve ser aquele que busca a alteridade como soluções para os problemas sociais. — Um cristão alienado das causas sociais ainda não encontrou o significado verdadeiro da doutrina que pensa proferir.

Em 1970 Frei Tito foi banido do país. Foi para o Chile e depois se refugiou na França, no pequeno mosteiro de Le Corbusier, em Lyon. Mas foi ‘banido’ porque grupos revolucionários que lutavam contra a ditadura seqüestraram o embaixador da Suíça, Giovanni Bucher, e exigiram a libertação de seus companheiros detidos nas entranhas dos presídios comandados pelos milicos em troca do embaixador. Assim, dentro dessa barganha, Frei Tito conseguiu sair da prisão para tentar um recomeço, que aquela altura, já lhe seria impossível.

Os traumas se transformaram em loucura, em agonia, e Frei Tito, mesmo na França, em seu quarto no mosteiro, não conseguia esquecer as risadas sádicas do delegado Fleury. A dor não se transformava em passado, sua mente não conseguia mais definir o tempo, o lugar em que estava. A ditadura não havia apenas lhe causado danos físicos, havia extirpado sua mente. Aquilo que é o mais caro para um homem e para a nação que habita, seu pensamento, havia sido destruído. E tudo porque sonhava com a igualdade entre os homens. Porque desejava que não houvesse mais gente batendo às portas para pedir comida, e que todos pudessem sentar-se a uma mesma mesa onde houvesse pão e vinho. Morto por defender a alteridade.

Frei Tito não suportou o caos da própria mente e se enforcou numa árvore aos arredores do mosteiro, ainda em 1970. Era o general ‘médici’ (o minúsculo é proposital) quem “governava” o Brasil. Com a morte do Frei a ditadura poderia seguir em paz com seus projetos: a subserviência aos EUA estava garantida, a implantação do capitalismo selvagem podia seguir sem percalços, e a censura aos jornais, e àqueles todos que tinham o hábito de pensar e escrever o que viam, podia continuar sem entraves.

Ainda não entendi o porquê da destruição de homens que 'lutam' pela igualdade (ontem, hoje, sempre). Qual é o grande mal que os coletivistas, os adeptos da alteridade fizeram? Sonhar com o bem estar dos irmãos é crime ainda?. E tem gente que ainda defende a ditadura. Somos basicamente nossas escolhas e mais nada.

Um comentário:

  1. Meu irmão, fico sem ter o que dizer diante da capacidade que você tem de expressar as coisas, de colocá-las diante de nós com tanta clareza. Fica só um grande orgulho de você. Segue o bonde...Malu.

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