segunda-feira, 31 de janeiro de 2011





Foi minha mulher quem fez o vídeo.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Manuel de Barros


Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

presente do cão magno


sinceramente, não sei o que pensar dos mortos. eu sei, sou uma plasta de carne rodeada de mortos num campo virtual de meu cérebro. quando penso neles, estarão vivos em minha mente? parece filme, como os pequeninos nos jardins dos gigantes, depois de um pouso forçado, de uma viagem à outra dimensão: Terra de Gigantes. acho que era esse o nome. Mary Shelley pegou pedaços de mortos e criou um só morto-vivo, mas o que importava era a eletricidade. será que os mortos estão dentro das faíscas dos relâmpagos? a alma do mundo é a eletricidade? atrás de minha face há um nada em 'três dimensões', como diria o filósofo Gerson Harrison Silva?

dia desses, eu e um amigo, sob uma imensa árvore, ele cristão, conversávamos sobre os mortos e ele me disse que era melhor esquecê-los. por isso havia deixado de lado o kardecismo, que era uma chuteira com os pregos virados pra dentro, impossível de não se machucar os pés nas trilhas. melhor era seguir o conselho dos judeus: deixe os mortos em paz, eles são tão traiçoeiros quantos os vivos, só que não morrem mais. um cristão propagando um conselho judeu. ironia das especulações sobre os mortos. melhor foi o que josé arcadio buendía descobriu, que se morria várias vezes, porque depois da morte havia outra morte e depois outra e depois outra até que a loucura nos abençoe em nada. não mais ectoplasma. do plasma se fez o o ectoplasma, depois o nada.

para vencer a morte é preciso seduzir o tempo, corrompê-lo com canções, sartre disse isso, mas não somos eternos dentro da canção que amamos; mesmo a trilha sonora de nosso velório ficará fora do caixão, acima da terra que nos cobrirá. a vida é uma eterna adúltera que amamos profundamente. ela escolheu o tempo como seu amante, a nós, pobres traídos, cabe a tarefa de pagar as contas: articulações doloridas, remédios para dilatar artérias, para afinar o sangue, para funcionar o estômago, para evitar o sol do câncer, o sonífero, o estimulante. gustave flaubert, pai e gêmeo de madame bovary, ou ela é ele mesmo, disse que não há vida sem ereção. panis et circense. 'eu quis cantar', mas minha voz já não há. estou preocupado em morrer, não o quero. nem hoje, nem amanhã, nem depois do fim do mundo anunciado pelos maias, em 2012. e não acho possível a vida após o fim do concerto. ironia é o outro nome de minhas conclusões a respeito da vida. nada é mais contraditório do que o pronome, eu... 'filho do amoníaco e do carbono', substâncias semi-eternas; eu não o sou.


o capitalismo é a grande tentação de nós todos, santos antãos, ele está nos coagindo, quer-nos bandidos, pilantras, dissimulados e qualificados nisso tudo; doutores. é a força centrífuga que nos impele privada abaixo. eis a iniciativa privada, fezes em redemoinhos na viagem ao centro da terra. Creonte atravessa tranquilo o redemoinho de águas fétidas. mas lá está o herói, afundando com orgulho, mãos pra cima, o redemoinho o está tragando, o que é aquilo com que está acenando? ahh, uma bandeira dos estados unidos, dessas de quermesse, ela é a última a desaparecer no horizonte do umbigo do redemoinho de fezes do hades. quem ele quer comover com esse gesto mel gibson?

eu e um amigo, sob uma imensa árvore, um cristão que dá conselhos judáicos, ouvíamos vinil. the piper at get down.

se somos todos poeira de estrelas, 'ora, direi ouvires estrelas' só pode ser o coração.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

‘Espírito’ cético


Eu sou naturalmente cético. Sempre fui. Quando alguém me diz que viu um OVNI, imediatamente penso no nome da cachaça que foi ingerida e qual a quantidade. Aos fantasmas vistos em noites de trovões, eu associo ao consumo de alucinógenos. Já as vozes misteriosas me lembram esquizofrenia. Sócrates, filósofo grego antigo, dizia que ouvia constantemente uma voz dentro de sua cabeça. Não fundou religião nenhuma. Pelo contrário, casou-se com a razão e abraçou uma ética de princípios rígidos. Essa voz dentro de nossa cabeça, esse diálogo que fazemos de maneira constante, chama-se dianóia (razão discursiva) e é onde negamos, confirmamos ou testamos idéias e conceitos. Na cultura caipira se dá o nome a essa conversa do eu com o eu de ‘matutar’.
Quando ‘matuto’ em relação à reencarnação, sempre chego ao mesmo resultado: se estamos sempre reencarnado, de onde vem a multiplicação das almas? Deveria ser sempre o mesmo o número da população mundial, porém ocorre uma multiplicação exponencial, já somos 7 bilhões de terráqueos, multiplicamo-nos como os insetos e coelhos. Sem falar que em toda sessão de regressão ao passado imemorial dos indivíduos, os mesmos descobrem, sempre, que já foram Napoleão, Martin Luther King, Carmem Miranda, Leonardo da Vinci ou Airton Senna. Dias atrás me disseram que Neimar, craque do Santos, é a reencarnação de uma bailarina do Axé. Por isso baila ao comemorar os gols que faz.
Na Índia não sei quem disse que as águas do rio Ganges são sagradas. Milhões de pessoas se banham em transe, com bocas abertas, mãos aos céus, e engolem uma água que contém o maior número de coliformes fecais por cm3 do mundo. Não bastasse beber água com cocô, ainda transformaram a vaca num deus. Além disso, os indianos destruíram milhões de hectares de florestas tropicais para cremação de seus mortos, caso contrário, eles transformar-se-iam em vampiros.
No que diz respeito ao espiritismo, às cartas psicografadas, fico pensando nos surdos e mudos que morreram e, acredito, não podem ditar nada; também os espíritos analfabetos: como conseguem ‘escrever’ as cartas através dos guias? Claro que os mais empolgados dirão que é o guia quem as escreve e não o espírito, logo a gramática estaria preservada. Deve ser duro o dia em que um boxeador vier deixar uma mensagem, escrever com aquelas luvas não deve ser fácil, já que os espíritos atormentados mantêm suas obsessões num espaço que não é o céu nem a Terra, segundo o próprio kardecismo.
Com o decorrer do tempo entendi que eu não era o único cético a perambular pelo mundo. Há tempos um aluno me disse que a ascensão de Jesus deveria ser analisada no sentido metafórico ou de maneira totalmente espiritual. Fisicamente seria impossível, pois caso isso tivesse ocorrido, ainda seria possível observá-lo voando na galáxia, já que a redenção teria ocorrido a dois mil anos; logo ainda estaria ao alcance de telescópios e sondas espaciais. Nesse dia não respondi nada a meu aluno, que também disse que não conseguia entender os homens-bombas do islamismo. Acreditar que onze mil virgens estão esperando um herói que cobriu o corpo de explosivos e explodiu a si mesmo para glória maior de Alá é, no mínimo, estupidez. Encerrei com meu aluno, nesse dia, dizendo-lhe que era melhor não discutir religião. Normalmente somos mal interpretados e a conseqüência é o isolamento, e a ampliação de inimizades. E ele me respondeu:
— Então devo ser hipócrita, ignorar a razão que aprendo nas escolas e silenciar perante as ignorâncias?
Procurei a viscosidade dos quiabos para a resposta e disse-lhe que, somos maravilhosos porque criamos literatura e acreditamos que ela é tão real, tão viva, que passamos a praticá-la sem medo. Criadores de textos e criaturas da própria ficção. Por que não amar uma espécie que delira assim, de maneira tão maravilhosa?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O Bosque


Eu ando pelas calçadas e parece que a beleza do mundo se acabou. Os bosques estão sendo destruídos, as águas contaminadas e as pessoas, a passos firmes pelas ruas, doutores, mestres, graduados, exalam sorrisos plastificados e ameaçadores, são os saqueadores da civilização; sou um deles também, mas com um título menor. Alguns gurus da vida moderna dirão que meu problema é no espírito ou na mente, e é isso que deturpa minha visão do mundo; no fundo ele é bonito como o sorriso do Silvio Santos. Mas a idéia de que estão destruindo o bosque me entristece. Ou sou eu mesmo o lenhador a vender a madeira, numa autodestruição, para depois comprar antidepressivos e livros de auto-ajuda? Como não tenho resposta, me lembrei de um conto sem fadas, que é mais ou menos assim. Ele me lembra de algo muito próximo:
“Era uma vez uma aldeia ao lado de um bosque. Entre a aldeia e o bosque passava um rio e o povo era feliz porque ouvia os pássaros e bebia água limpa. Então vieram as máquinas e era preciso educar as crianças da aldeia para produzirem com qualidade. Começaram a cortar as árvores para fazer o papel dos livros didáticos, e nos livros vinha escrito que as crianças deveriam ser obedientes, honestas e ter fé no futuro. Ouviam que, depois de formadas, iriam construir um mundo cada vez melhor. Dentro das salas de aula os pequenos liam os textos que deixavam claro que era preciso preservar a natureza. Mas pelas janelas da sala de aula viam o bosque sendo corroído pelas máquinas, dragões metálicos que soltavam fumaça preta. Progresso, democracia, comunicação. O advento do mundo global havia chegado para sempre.
Enquanto as máquinas que cortavam árvores para produzir o papel que levaria a mensagem, “preserve a natureza”, num ritmo de “tempo é dinheiro”, assustavam as crianças, alguns filósofos perceberam a contradição de se cortar um bosque para se escrever mensagens ecológicas e iniciaram vários debates, que também gastavam quilos de papel na confecção de apostilas e textos críticos. Resultado: começaram a ganhar dinheiro com as palestras; inclusive dentro das próprias fábricas de papel, onde eram aplaudidos pelos grandes empresários e, mais do que rápido, os filósofos ascenderam socialmente: pagavam prestações de carros, casas e viagens a paraísos artificiais, como Miami. Quando entrevistados sobre a destruição contínua do bosque, respondiam que era o nosso mundo quem estava crescendo e não o bosque que diminuía.
Quando as árvores do bosque se acabaram, a aldeia começou a importar madeira de outras áreas. Para tentar amenizar a situação terminal, criaram leis que obrigavam o reflorestamento, mas as empresas não reflorestavam nem 10% daquilo que devastavam. Ninguém cobrava o cumprimento da lei. Então, para disfarçar, as empresas criaram propagandas onde tudo era verde de novo e lá estava o bosque, virtualmente novo. Nessas propagandas a música era de alegria. Não havia cidadão da aldeia que não aliviasse sua consciência com o teor das mensagens. O mundo era tão bom, que as empresas ainda ganhavam desconto nos impostos; e tudo graças às propagandas ecológicas.
O final foi lógico, por isso não há fadas nesse conto e nem milagres de Natal. A terra, sem as raízes das árvores, escorreu para o rio, que ficou assoreado. A aldeia foi inundada. Engenheiros, advogados, professores, políticos e empresários tentaram, em reuniões em sala com ar condicionado, uma solução de curto prazo. Ficou definido que, sempre que houvesse enchente, a aldeia estaria em estado de alerta e/ou emergência. E foram pra casa de helicóptero. O Estado estava salvo, pois tinha os seus asseclas.
O povo comum, que colocava cadeiras nas calçadas e tocava violão pra lua, foi-se embora com suas malas de papelão e trouxas de roupas na cabeça, pois não pertenciam mais àquele mundo. Haveria outro bosque e outro rio limpo nalgum canto da Terra. Por isso Deus havia errado ao fazer o mundo redondo, melhor que fosse achatado, infinitamente achatado, assim seria possível uma distância segura dos patetas acadêmicos neo-liberalizados que chegavam com o mundo globalizado; e chegavam como uma chuva de granizo sobre a simplicidade dos raros homens do mundo. Não há guarda-chuva que agüente o granizo, melhor fugir. Fim.”
Acima, tudo é uma metáfora, lógico: imagine que a sociedade seja um bosque e cada homem uma árvore. Cada vez que formamos um mestre, um doutor, um graduado é como se transformássemos uma árvore numa máquina fria e calculista, apta a ser a primeira num mundo competitivo que destrói a si mesmo de forma contínua e planejada. O que será do Bosque?

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Edward Hopper



Claude Levi-Strauss disse que, no Brasil, tudo o que era construção já parecia

ruína.



Hopper, sem palavras, revelou que tudo nos EUA, antes de seu auge, já era

solidão...



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Bárbaros




....foram os antigos gregos, quando ainda lutavam por Tróia, que usaram pela primeira vez o adjetivo, bárbaro, e foi dirigido aos cários, da Cárita, atual Turquia. A liga do exército grego, mesmo tendo uma profunda aversão a esse povo que produzia sons estranhos com a boca, pediu sua ajuda para o resgate de Helena - sim, para os gregos os sons que saiam da boca dos cários eram grunhidos canhestros, logo, bárbaros. Diga-se de passagem, foi a intransponibilidade das muralhas de Tróia que forçaram os gregos a dizerem, sim, às espadas que os cários ostentavam; mas ao 'idioma cário' e à cultura que representavam, tinham aversão; eram-lhes inferiores. Queriam longe aquela barbarofonia. Helena libertada, que os bárbaros voltassem ao seu chiqueiro.

A nossa língua brasileira se distanciou da lusofonia de nossa língua-mãe. Distante das caravelas portuguesas e do ritmo dos poemas de Camões e Pessoa, alguns menos avisados perguntam se não é possível traduzir Saramago para o brasileiro.


Ao fugirmos da lusofonia(aculturação ou incapacidade antropofágica), não caímos nos braços dos nossos bárbaros nordestinos, gaúchos ou caipiras, - que produzem uma bela musicalidade fonética, ao contrário dos cários, mas não menos bizarras na interpretação do 'sotaque oficial' do Brasil. Em épocas eleitorais, dizem que a cidade de São Paulo é a mais nordestina das cidades, mas não é. Não se fala nordestino nas rádios, nos jornais televisados, nas salas de aula, - na música, às vezes, aceita-se o sotaque, mas só depois dos corpos suados e do álcool no sangue, em plena epifania do forró nos embalos de sábado à noite. Ao contrário dos gregos, a elite paulistana necessita dos nordestinos para levantar muralhas de arranha-céus e prender Helena, hoje mais conhecida como especulação.

O sotaque nordestino é um gueto, calangos e cabras e carcarás proliferam o nordestinês; me parece uma cultura viva e sanguínea, mas marginalizada, atingindo o seu máximo quando adjetivada como exótica. Já o sul, com sotaque de origem italiana e alemã, mais a pitada hispânica e equina( sem o cavalo o gaúcho não é gaúcho), tende ao separatismo e à conservação de raízes ítalo-germânicas fascistizadas; e além do que, não menos bárbaros, com bolsos cheios e analfabetismo num crescendo, segundo IBGE, os sulistas mostram que a evolução da cultura não depende exclusivamente do poder aquisitivo; mas o poder aquisitivo gera preconceito e estagnação cultural, reafirmando nossa condição de fruto da exploração de tempos coloniais. O sudeste, em metamorfose, tem como objetivo ser o clone bastardo do Arizona. Ridiculamente reacionário, São Paulo é o covil da tucanagem e da convivência pacífica com as práticas homofóbicas.


Nossos compositores e cantores, em moto-perpetum, encaixam palavras nas melodias da música pop de fórmulas prontas, como se nosso idioma fosse o inglês. Buscam uma saxonização de nossa língua, (querem ser vistos na MTV), são máquinas de forjar distorções nas sílabas tônicas. Estão '(des)proparoxitando' as palavras, num mergulho vertiginoso ao monossílabo que ostentas estrelados na bandeira do Tio Sam. - Compare Tio Sam com Zé Carioca. Quantas sílabas nos separam e quanto preconceito edificado? 'Venha a nós o vosso reino e nos faça 'ameringleses', na linguagem da globalização'.


Precisamos ser bárbaros para destruir o império, eu nunca deixo de pensar nisso, mas quanto mais falarmos com identidade brasileira, - a maneira como se fala é a maneira como se pensa - mais rápido corroeremos o granito de Wall Street.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Rick Wright (Pink Floyd) em memória

Pink Floyd



Rick Wright era o tecladista do Pink Floyd

acordei lembrando de suas frases no piano, simples, como raios de sol mergulhados no meio do arvoredo em busca do chão do bosque. e ao redor, um caleidoscópio de cores e sombras do mundo misterioso do Pink Floyd. Remember day, essa música sempre me volta à cabeça, ela sobrevive mesmo diante da profusão de sons e lembraças que trazemos; a função das lembramças inócuas é a pulverização do que a música proporcionou. queria apagar parcialmente minha memória para poder ouvir, pela primeira vez de novo, as músicas que mudaram o meu modo de interpretar o mundo. a primeira música do Floyd que ouvi, foi Remember Day, de uma coletânea, Works, um vinil cinza inteiro na capa e uma lata de tinta cor de rosa aos pés de um trabalhador; ele num andaime a construir um asfixiante mundo metálico; eu ouvia a música e entendia que ela não combinava com a capa, era um concerto para a dança das sílfides da floresta dos elfos; o que tinha a ver as máquinas com um concerto tão onírico?


as coletâneas são um bom caminho para os iniciados na trilha sonora que não existe mais; porém, raras foram as capas que me chamaram a atenção nessas coletâneas. quem se importa com isso hoje? capas de trabalhos musicais! a identidade entre a pintura (artes plásticas) e a música; uma conexão para dar asas aos ouvidos diante do inefável. quem quer ouvir música e voar? melhor rastejar ao som da música moderna da MTV.

mas voltando:

pode-se ouvir tranquilamente Pink floyd sob os afrescos de Michelângelo, na capela sistina, ou Bach, ou Almir Satter ou uma lista gigantesca; Bohemian Rhapsody, Help, Going to Califórnia...........

é bom ouvir as canções de Rick Wright.....................summer 68




capa do LP A Saucerful of Secrets (Remember Day)


sábado, 15 de janeiro de 2011

Mauro Santayana:

"A vida é uma concessão fugaz de razões imperscrutáveis que fizeram surgir tempo e espaço e, neles, essa fantástica aventura da energia convertida em matéria e dotada da consciência de si mesma".

sobre a tragédia no Rio de Janeiro.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O telefone e o limbo



Quando chegou a primeira semana de janeiro, meu telefone completou mais de um mês mergulhado num silêncio total; nem aquela chiadeira esperançosa era possível de se ouvir. No começo foi bom, fiquei longe dos telefonemas inúteis que compõem a decoração da ‘civilização’: propagandas, agradecimentos de políticos eleitos, cobranças de coisas que não comprei, recados sem sentido e ad infinitum. Já estava até acostumado com aquele silêncio, quando de repente, tocou. Atendi:

— Alô.

— E aí, garoto, tudo certo? — Ninguém me chama de garoto hoje em dia.

— Quem é?

— Ora, o velho Charles Bukowski.

— O escritor?

— Quem mais tem esse nome?

Fiquei imbecilizado, mas do que já sou; era um escritor de proporções titânicas. Depois a ficha caiu:

— Ei, mas Charles Bukowski já morreu e faz tempo. É caô!!

— Garoto, você não sabe que quando os telefones estão mudos, ocorre uma conexão com o limbo?

— Como é?

Ele me explicou que quando as empresas de telefonia se atrapalhavam, a ponto de deixar centenas de telefones mudos, por ineficiência ou qualquer outro motivo, vários deles se conectavam com o limbo. Ele não sabia se era magia ou tecnologia, o fato é que estava ligando pra mim de um bar do limbo. Fiquei estarrecido, cheguei a pensar em quem pagaria aquela ligação, mas era Charles Bukowski e eu tinha que atendê-lo.

— Não se preocupe, garoto, é por conta do limbo.

— Quem bom, cara. Mas diz aí, como é o limbo?

— Um céu em eterna meia luz, uma lama de refrigerante até a canela, Zorra Total a toda hora na TV, ou Jornal Nacional e no rádio, funk/breganejo e Lady Gaga.

— Pô, é o inferno!

— O inferno tem tudo isso mais Amy Winehouse e palestras do Fernando Henrique Cardoso na TV e rádio.

Imaginei que como seria horrível viver num mundo desses. Pobre Charles Bukowski, havia escrito os melhores livros sobre a América esquecida e agora tinha que suportar isso tudo.

— Cara, como você está sobrevivendo, quero dizer, dia a dia?

— Fico jogando palito com 50% dos Beatles; eles não são de todo ruins, melhor quando não cantam.

— Não entendi, explica aí?

— Com os Beatles em silêncio e o jogo de palito em andamento, a garçonete, uma antiga fã minha, nos serve petiscos e umas geladas. Da reserva particular do dono do bar. No limbo não se pode fumar nos bares, nem se vende bebida.

— Ué! Então pra que o bar?

— Só água benta, remédios e banco imobiliário.

— Você é um cara de sorte, porque escreveu com sinceridade, mesmo no limbo, encontrou o seu espaço.

— Bom garoto, agora que começou a babação de ovo, melhor desligar. Adeus.

— Espere, foi mal...

Já era tarde, talvez nunca mais voltasse a falar com ele, apesar da empresa de telefonia estar sempre pronta para dar uma força, em se tratando de comunicação com o limbo. Então o telefone tocou de novo e veio aquela voz de assaltante:

— Senhor, é da empresa de cartões de crédito...

— EU SABIA! EU SABIA! Por causa de tanta sacanagem também foram parar no limbo; viu, há justiça no mundo, tão se ferrando no limbo!!

— ...senhor, não estou entendendo... — Antes que ela terminasse, desliguei. Porém, tocou de novo:

— Alô!! — Era minha mãe, que não estava no limbo, e queria saber se estava tudo bem e coisas mais. Antes de desligar, disse:

— ...que bom que o telefone voltou ao normal. — Eu disse que sim, mas ficou claro o meu furo com a empresa de cartões de crédito.

Para encerrar o dia, o técnico da empresa telefônica bateu à porta, disse que vinha por solicitação minha. Eu disse que o telefone já havia voltado ao normal, mas ele insistiu em conferir. Pois a escada no poste, subiu, ouviu a linha, fez uns ajustes e disse que estava tudo bem; me fez assinar o papel e se foi. Voltei pra dentro de casa e conferi a linha. Tudo ok, agora estava sem internet.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011





















Não assista TV.
Procure um livro.
Não assista TV.
Olhe para as mulheres nuas.
Leia 'cartas da rua'.
Deixe o grande irmão sozinho.
Abaixo a Rede Glogo.
A liberdade num só ato.
Não assista a Rede Globo.
Desligue a TV. Não se venda.

Estrangule o grande irmão, desligue a TV.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O sonho americano (presente e passado)


há palermas o suficiente no mundo para propagar que não há mais esquerda ou direita. se ao menos a terra da 'liberdade' pude-se lembrar de si mesma, do que já foi, ou do que já representou!? não, não é saudosismo, é o crânio regado a vinho e que quer ver o belo, a arte como farol nas trevas; e diga-se de passagem, gostamos do céu em trevas, brindamos as estrelas, o escuro nos é propício, fecundo. já a mediocridade dos homens acima, não sei de onde vem. bob dylan está morto, eu sei, quem o ressuscitará? levanta-te, poço canabinol, abra os olhos de teus seguidores que estão a adorar bezerros de ouros, cruzes em fogo. olhe no espelho e procure tua imagem, larga a arma, o fogo bélico; há seios solitários no mundo, garrafas esperando o paladar, camisinhas nos supermercados; cuide bem de seus ouvidos, que música é essa que vc chama de música? a tua história pode mudar o futuro. só uma imagem, mais nada. olhe abaixo. se chorar, restará uma esperança....


O sonho americano (passado)

a estrada, a fumaça, o goró, a viola, a beira de rio, a contra-cultura. onde estão?

Um preto no lugar da ex-União Soviética

Quem passou a ser o inimigo dos EUA, quando a União Soviética acabou ? No cinema elegeram os ETs (independence day); na geopolítica, os terroristas islâmicos e no 'coração' do império, o discurso social. O grande inimigo interno da América, segundo os neo-fascistas, é Mr. Obama e seu discurso democrático. Além disso, sobre ele, dizem: é preto, com nome árabe, ideias comunistas e ancestrais islâmicos. E o discurso de Obama nada mais é do que o velho sonho americano: oportunidades para todos. Para os nazi-fascistas, nada mais subversivo.

A consequência do governo Bush, no coração do império, foi a própria eleição de Obama, mas também o recrudescimento do fascismo; o terreno de onde brota o nazi-fascismo é a crise num ambiente burguês: vide Alemanha e Itália nos anos de 1930. - A agenda fascista para o século XXI, nos EUA, é: a morte-expulsão de imigrantes; a inferioridade de negros/asiáticos/sul-americanos e o nacionalismo como bandeira-.

A congressista dos EUA, Gabrielle Giffords, do partido democrata, foi baleada pelo americano Jared Loughner, de 22 anos, acusado de atirar e matar seis pessoas num ato político pró-imigrantes em Tucson, Arizona.

Depois se apresentou à corte de Phoenix, capital do estado. Ele foi até o local algemado e com a cabeça raspada. Detalhe: terrorista de direita, na América Geral, é chamado de indivíduo com instabilidade mental. Isso é mais uma conquista de nossa 'democracia', o agenciamento ideológico da linguagem que molda o mundo.

Sobre o futuro, ao que parece:

o estado do Arizona será rebatizado: Nova Auschwitz. Sara Palin será 'o prêmier'. Berlusconi, o príncipe do fascismo italiano, virá dançar como convidado no baile de inauguração. Só haverá um clube: o Tea Party. As igrejas usarão a imagem de Hitler.

É do Arizona que partirá a bala ansiosa para deter o grande inimigo Obama: preto e com discurso social.



Eis o fruto do fascismo, Jared Loughner. A juventude americana está sendo destruída pela mais abjeta ideologia, o nazi-fascismo.


Além dos imigrantes, a revolta nazi-fascista é em função do sistema de saúde que Obama sonha para o cidadão norte-americano: um sistema parecido com SUS brasileiro; qualquer um tem o direito de ser atendido, mesmo com o bolso vazio, independente de ser ou não um contribuinte: nem os brasileiros têm noção do quê é isso.


Viva a resistência e 'que a razão abençoe a América'.