quarta-feira, 28 de setembro de 2011

STF: estandarte do crime oficial?


Hannah Arendt nos ensinou que é o homem comum quem pratica os crimes mais abomináveis, tal como ocorreu nos campos de concentração do nazismo, no holocausto. Homens que apertavam os botões das câmaras de gás, o gatilho na hora do fuzilamento em escala industrial, ou conferiam se os corpos dos judeus emagreciam de acordo com plano sádico de Hitler e sua gangue de acéfalos, eram homens comuns, que rezavam em suas casas antes das refeições, beijavam suas esposas na hora de ir para o trabalho e davam bons conselhos aos filhos, "façam sempre o bem e se afastem do mal, creiam em Jesus Cristo e na Igreja Católica."

Até aonde vão os tentáculos do crime oranizado no Brasil? O STF, a corte máxima do país está livre de homens que comungam com o crime organizado e se acham superiores a qualquer investigação que possa cair sobre eles? A corte pública que representa o maior poder público não é aberta aos dispositivos legais e constitucionais públicos do Brasil. Querem esconder o quê, esses homens comuns, que só pelo fato de cobrirem o corpo com uma toga se transformam em deuses, com uma 'capacidade infinita de isonomia em seus julgamentos'? Nós, pobres contribuintes, mantemos uma força, uma poder que recaí sobre nós mesmos, quando, como indivíduos, roubamos carteiras, chinelos, carros, não pagamos as contas, sonegamos a Receita Federal ou quando andamos sem documentação adequada nos veículos e etc.

Mas não nos importamos que um grupo de poderosos administre, a bel prazer, a Moral que orienta o senso comum. O roubo de uma carteira tem muito mais impacto numa reportagem midiática do que a facilitação de um Habeas Corpus para um banqueiro com seus rastros de atos criminais legais. Foucault é fera, meu bróder, saber é poder. Aquele que escreve as leis e as lê com vocabulário próprio e inascessível, controla a moral e a ética da sociedade.

Por isso deve-se recriminar a eleição de um Tiririca, porque Tiririca, ator de circo, de rua, que por sorte, não sei dizer, aparece na TV e eleito Deputado, passou a lutar pelos direitos trabalhistas e aposentadorias dos artistas de rua e de circo. Inclusão de milhares de pessoas que fazem parte de nossa cultura, de nosso território, mas que o senso comum, em termos morais, os interpreta como vagais; mas não deixam de apreciar suas expressões artísticas e sorrirem um pouco, quando o cotidiano parece insuportável. Mas na Moral magistrada, tais artistas, são passíveis de exclusão. Colocar essa gente de lado é a epfania estóica dos valores burgueses, que as cortes defendem com garras e dentes de abutres, mais as palavras gramaticalmente corretas, além dos batidores polítcos repletos de corrupção, espaço em que se sentem em cas: vide caso de Daniel Dantas, inocentado pelo STF, onde o Ministro Gilmar Mendes, foi mais um cabo eleitoral do cabra banqueiro do que Ministro da suprema corte do Brasil.

A corregedora nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon disse:

"A quase totalidade dos 16 mil juízes do país é honesta, os bandidos são minoria. Uma coisa mínima, de 1%, mas que fazem um estrago absurdo no Judiciário".

Segundo a ministra, todos precisam perceber que "a imagem do Judiciário é a pior possível, junto ao jurisdicionado" --público que recorre aos tribunais.

"Eu quero justamente mostrar que o próprio Judiciário entende e tenta corrigir seus problemas."

Sobre o julgamento de hoje, 28/09/2011, do Supremo, que poderá limitar os poderes da corregedoria, ela disse que está muito triste.

"As portas estão se fechando. Parece haver um complô para que não se puna ninguém no Brasil."

Em recente entrevista, Calmon fez duros ataques a seus pares ao criticar a iniciativa de uma entidade de juízes de tentar reduzir, no STF (Supremo Tribunal Federal), o poder de investigação do CNJ (conselho nacional de justiça).

O que esses homens comuns, vestidos de toga, querem abafar, dentro de suas 'entranhas públicas'?







sábado, 24 de setembro de 2011

Bingo



Bingo foi meu primeiro cão. Negro, com a ponta do rabo branco. Ele o balançava de um lado a outro quando ficava feliz, quando me via, quando eu chegava em casa e abria a porta do quintal. Ele vinha e sorria com seu rabo de ponta branca.

O tempo foi passando e ele foi ficando independente. A cerca de bambu não o segurava mais e ele ia passando de quintal em quintal, até conseguir ganhar a rua. Passava a maior parte do dia fora, nem de comida precisava. Aparecia à noite, e ficava na varanda, esperando que alguém lhe abrisse a porta. Era um cão vira-lata, meio pequinês e tinha as orelhas caídas.

Ficou especialista em trazer pedaços de carnes gigantescos do açougue, pedaços de ossos, patas de boi, tudo o que cheirava a carne. Não sei se o dono permitia os roubos, ou se ele havia se transformado num gato e sabia os caminhos das pedras como ninguém. (???)

Ele se foi numa tarde chuvosa, eu não estava em casa, estava na escola fazendo ginástica, um monumento a inutilidade. Se estive em casa, o teria salvo. Não o deixaria dormir sob o caminhão que o esmagou. Até hoje não entendi como ocorreu sua morte. Imagino ele deitando sob o caminhão, que é um bom lugar para se tirar um cochilo, ou até mesmo para se fugir da chuva. Depois ouço o caminhoneiro ligando o motor e penso: — Como foi possível ele não ouvir? Como um cachorro pode deixar de ouvir o ronco de um caminhão gigantesco? Talvez já tivesse morto.

Quando procurou o abrigo, estava sentindo a morte a rondar-lhe o corpo. Já estava vendo anjos, e os céus de São Francisco bem ao lado de onde brincava a criançada. Acho que não procurou o caminhão, mas a companhia da molecada, queria morrer ao lado de quem deveria ser protegido por ele.

Só vi a marca de sangue sobre o parelelepípedo, restos de pêlo e meus olhos se encheram d´água e bem na frente de todos os amigos de rua. Havia um silêncio profundo, um respeito pela dor de alguém, a recém saudade que a morte trazia. Sempre em minha vida me vi dentro desse sentimento. Alguém morto ali na frente, e a sensação de saudade nascendo com a clara consciência de que nunca, jamais, seria saciada. Era mais um peso para meu fardo, para meu emborná: o existir.

Às vezes também acho que ele morreu para me ensinar o que era a morte, o que estava por vir. Que era preciso ser forte, tal como ele fora, ao sustentar o caminhão com a alma. Pois às vezes, só com a alma. O corpo perece sucumbir ao peso da vida, que é também como diz meu amigo Alício, “O peso do nada”.

Bingo sobreviveu em minha memória, ensinando-me que a vida é constituída de insignificâncias e que não devemos viver só de despedidas. É preciso partilhar as horas, antes que o nada nos sufoque, fazendo-nos lembrar que nada somos, senão cães segurando caminhões pelas costas, pelas unhas, nas tardes chuvosas.

Lembranças, o cemitério dos cães.

escrita em 2000



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A nau dos tolos



O primeiro desenho de um homem é o sol.

Redondo, cheio de riscos. Sorriso e olhos fechados.

Depois, ele desenha a casinha com chaminé.

Dentro, minha namorada me espera voltar da floresta.

Fui matar minha imbecilidade, inseguranças e covardias...

Poderia ter amado tanto mulheres.

Mas o medo, a mágoa, o medo, a mágoa,

soam como violoncelos numa sala vazia.

O fogo está aceso.

Os solitários tocam violoncelos.

Os fracos se caçam na floresta.

Agora desenho chuva.

Nuvens que se parecem com carneiros.



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dilma vence os ratos da imprensa... e vai à ONU


Acima, capa de uma das revistas das organizações Globo, claro, nas vésperas da eleição presidencial de 2010


Este pobre blogueiro quer aproveitar a visita de Dilma Rousseff à ONU e lembrar daqueles e-mails enviados pelo turma do Serra, de que ela seria presa se saísse do páis. Se fossem pessoas ignorantes a espalhar aquelas atrocidades, até dava pra engolir, mas foram médicos, dentistas, humoristas famosos, como Chico Anísio, na rádio CBN, que alegavam que se fosse eleita, não poderia entrar em onze países. Humoristas e atores lêem aquilo que lhes é entregue pra ler. Até entendo, é preciso manter o emprego e obedecer à empresa de TV em que trabalha. É difícil encontrar gente honesta nesse mundo de meu Capital; a sobrevivência nos obriga a mentir. E se o capitalismo é uma grande mentira, mentir para sobreviver não é crime nem pecado.
Mas além de 'não poder entrar em onze países, entre eles os EUA', Dilma foi acusada de matar um soldado à época da ditadura. A turma do Serra espalhou isso em milhares de e-mails; claro que qualquer ser pensante entendeu, à época, que Serra lançava mão desse tipo de campanha porque não tinha propostas. Mas o que mais me assusta, é que a mídia, Globo, Folha de São Paulo, Veja, Estadão continuam apoiando Serra e tentando, de toda maneira, derrubar Dilma.
Interessante é que a concessão da Globo saiu na época da Ditadura, isso não é falta de ética?
iiiiiihhhhhhhhhhhh! Tem sintetizador no samba.

Alguém sabe me dizer qual a relação de Serra com essa imprensa nascida da ditadura?


Sem falar nos panfletos da CNBB, que afirmavam categoricamente que, Dilma Rousseff praticaria aborto em mulheres com até 8 meses de gravidez e em praça pública, no programa da Xuxa, nos maternais da vida, no altar da Basílica de Aparecida e nas transmissões de programas da Canção Nova; todo lugar seria um lugar para aborto.

Pe. José Agusto, da Canção Nova, usou a homilia, transmitida por um canal de concessão pública, para um discurso homofóbico e transformou Dilma num demônio. Pergunto: será que ele vai na inauguração da grandiosíssima obra, com recursos federais, que ocorrerá com a presença da presidenta Dilma Roussef, mais o gov. Alckmin? Ele vai dar piti e devolver a obra que vai facilitar o acesso à canção nova e por consequência, o lucro da mesma?


Enquanto ficamos esperando uma crise de consciência das Organizações Globo, que é a FOX e a news of the world da América do SUl, vamos nos deliciando com as vassouradas da Dilma nos Ratos que habitam os ministérios. Ela tem fibra é muito mais 'homem' do que foi o Lula. Não é à toa que ele disse que quando,por ventura, ela viesse a brigar com ele, ela estaria certa.

PS: até hoje não ouvi a Canção Nova pedir desculpas a Dilma Rousseff.

domingo, 18 de setembro de 2011

A burocracia




Texto de 2002. Quando Alício Guatambú tomou posse de suas aulas em...

....Nada atrapalha mais o professor do que a burocracia. Quem ocupa cargos pedagógicos em escolas, costuma confundir direção, coordenação, diretrizes, tendências, com um amontoado de papéis inócuos, que só servem, em primeira instância, para juntar bicho, insetos e outros seres maiores. Lembro-me da primeira vez em que vi um amontoado de papel no corredor da sala da coordenação e exclamei:

—Oba, dá pra fazer um bom trabalho, em termos de reciclagem; os alunos vão adorar!!

Recebi o olhar mais aterrorizante da história da educação. A coordenadora me olhava como se eu fosse um herege. Onde já se viu, querer fazer trabalhos de papel reciclado com os planejamentos dos anos passados? E seu um pai de aluno aparecesse na escola, querendo saber o que foi planejado no ano retrasado? Tudo tinha que ser guardado e pronto.

É assim nossa vida, cercada de papéis inúteis que são assunto de reuniões extremamente 'produtivas'. Fico com dor na consciência quando recebo meu holerite, com a marcação de horas extras provindas de tais reuniões vazias. Céus!! é um horror!

Quer uma prova de que papéis não valem nada, não valem o próprio peso, menos ainda o sacrifício da árvore que morre em vão. Então ouça.

Certo dia um amigo me ligou, precisava de ajuda. Tinha passado no concurso de educação do estado e estava pronto para tomar posse do cargo. Só que o prazo estava se esgotando, faltavam dois dias para entrega dos devidos documentos. Ele achou que estava tudo em ordem, guardava cópias em uma pasta, para horas como essa. Mas quando pegou no histórico, viu que só continha duas páginas. Desespero. Ligou para a faculdade e a mesma disse que tudo bem, fazia outro, mas dali a quinze dias. Ou seja, perderia o cargo por falta de documentos na secretaria da escola. Acabou ligando para mim, meio que nervoso. Disse a ele.

—Vem para minha casa, a gente dá um jeito.

Sentamos diante da papelada e tivemos uma luz. Eu tinha um histórico de igual peso, porém de uma disciplina diferente. Peguei algumas páginas do meu, mais a que ele tinha, xerocamos e montamos um. O peso era igual. Juntamos a outra parte dos documentos e fomos para a escola.

—Bom dia, sou o professor que veio tomar posse das aulas de ....

A secretária puxou uma lista de documento e foi pedindo; fomos entregando um a um. Quando passamos pelo histórico, o coração disparou, mas por nossa sorte ela não leu. Sentiu que o peso era compatível com que imaginava ser um histórico e foi para outro item de igual importância. Depois disse.

—Assine aqui. O planejamento começa na segunda-feira. Bem vindo e bom dia. —virou as costas e foi para sua mesa, lotada de papel.

Saímos alegres, não pelo fato de termos enganado alguém. É um tipo de estelionato, mas tem hora que o próprio sistema nos obriga a isso. O normal, no meu ponto de vista, seria a seguinte procedimento.

—O senhor não está no momento com seu histórico?

—Não! Mas já solicitei a faculdade uma outra cópia.

—Certo! vamos anexar uma cópia do seu pedido do histórico em seu prontuário, e quando o mesmo ficar pronto, você nos traz e seus documentos ficam em dia.

—Perfeito, obrigado pela atenção.

Falo dessa maneira, por que acho que o diploma registrado pelo MEC vale alguma coisa.

Por isso que nas escolas não se faz planejamentos. É um “planejumento”, isso sim!

Ou para quem quer ser mais ecológico, um cemitério de árvores; mortas para alimentar o vazio burocrático das repartições públicas e privadas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Fiat Lux


O deus cambriano

dedicado a Salman Hushidie: escrito em 2003

Ninguém sabe como foi que tudo começou. Digo que ninguém sabe como foi que tudo começou na Terra. Há somente especulações. Como somos humanos não temos muito tempo para tentar descobrir o mistério das coisas. Temos é que usar o tempo para ganhar uma grana e conseguir a sobrevivência. Gastamos tempo para trabalhar transformando recursos naturais e, com o dinheiro do trabalho, compramos os recursos consumíveis que depois jogamos fora. Tente imaginar a proteção de uma floresta sendo custeada com a exploração da própria floresta, que com isso vai desaparecendo. Ou, para receber aumento salarial do governo, o mesmo tem que aumentar os impostos. Assim o próprio funcionário público é quem paga o próprio aumento. É algo tétrico.

Como nem todos são funcionários públicos, muitos montam seus próprios negócios e tentam o enriquecimento fácil para viver no conforto da modernidade. Só que para isso necessitam descobrir algo que possa ser vendável. E em tempos neoliberais, a figura de Jesus é o que mais vende; e vende bem. Sabemos que o discurso do velho Cristo é antiliberal, mas o liberalismo tem disso: vende até mesmo aquilo que pode exterminá-lo e abre espaço para concorrências. E é nessa lacuna que se passa nossa história.

Em meio a tantas Igrejas que são abertas, um estranho grupo abriu uma Igreja diferente, que tinha sua base doutrinária num Meteoro. Uma pedra que havia caído do céu há mais de 250 milhões de anos, causando o desaparecimento de milhares de seres do tamanho de insetos. Dentre os sobreviventes, a origem do Homem. Por isso era o tal meteoro, segundo aqueles novos crentes, quem deveria ser chamado de Deus e não Jesus. Concorrência faz bem ao capitalismo.

Na parede do altar estava o desenho da pedra vindo em direção a Terra. De costas para ele, um sacerdote vestido tal como um trilobito que rezava em língua Cambriana. Como ser escolhido, especial, que a nós humanos havia originado, estava o pikaia. Toda sua saga, sua jornada, seus sacrifícios, seus milagres estavam expostos em afrescos bem desenhados, a lá computação gráfica. Quase em hologramas.

A doutrina de tal Igreja se baseava no acaso, nos dados voando soltos pelo universo. Alea jacta est. Foi César quem disse isso e ao invadir Roma com suas tropas, o que segundo leis romanas era um crime sem precedentes. Cezar não só burlou a lei do velho Senado, como se tornou imperador. Mas o melhor não foi isso, o melhor foi conseguir chegar até a cama de Cleópatra. Os dados alcançaram o meio das pernas da mulher mais linda do mundo à época. O acaso era divino. Mesmo causando um ar de paradoxo, tal frase era batata nos sermões dos monges da Igreja do Meteoro.

Com tempo surgiram os primeiros protestantes da IM, (Igreja do Meteoro). Apesar do número de fiéis crescer vertiginosamente, o protesto parece ser ingrediente embutido nas crenças. Quem pode dizer? O fato é que um materialista, - sempre os materialistas -, resolveu soltar aos quatro ventos, após pesquisas, que o tal meteoro cambriano poderia ser o cocô de um grande ET, que passando por aqui, fez de nosso planeta uma conveniência fisiológica. Ou seja, cagou sobre o planeta. A pelota, mais a força da gravidade fizeram o atrito pós-primordial diminuir o número de seres vivos que andavam por aqui. Quem poderá negar que dentro da pelota não havia vermes que se deram bem na Terra, e até, quem sabe, não deram origem aos primeiros primatas, que segundo Charles Darwin, são a origem dos homens. (?) Logo, não seríamos fruto de um Deus do acaso, mas sim de uma necessidade fisiológica de um grande ET, satisfeita ao ‘acaso’, por aqui. Havia assim um acaso metafísico e um fisiológico. As divagações levaram à intolerância.

- HERESIA!! Não viemos da flora intestinal de um King Kong via-lácteo, mas sim do Deus do acaso.

Foi o grito da alta cúpula da IM. Abriram tribunais para inquérito das acusações dos materialistas que rebaixavam a doutrina da IM a uma pelota de cocô extraterrestre. A reação da IM recebeu a solidariedade dos Islâmicos, que também têm uma pedra que veio do céu, a qual foi encapada por paredes de tijolos e hoje é circundada por milhares de fiéis que andam quilômetros no sentido horário, - o oposto pode parar o universo -, pois sabem que aquele dado foi jogado por Deus, num Alea jacta est devidamente programado num gráfico cartesiano.

- Devemos queimar as maçãs podres!!

- É a vontade do Meteoro!!

Os materialistas não tiveram tempo de resposta. Fugiram. Não puderam questionar se o Acaso, o Meteoro e o Movimento formavam uma só pessoa, a santíssima trindade do Acaso cambriano.

E o que aprendemos com essa história: que há divagações possíveis e outras impossíveis, apesar de todas elas surgirem de nossa massa encefálica. Alea jacta est.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Homenagem ao Inferno de Dandi: Fora Rede Globo




Post em homenagem ao blog. Inferno de Dandi, que entrará de férias, mas é a esse tipo de postura e de luta que ele sempre estará ligado, pelo menos para mim. Abraços, grande Dandi.


http://dandi.blogspot.com/

domingo, 11 de setembro de 2011

O Auto da Farsa do 11/09/01, nova noite de São Bartolomeu

Dez anos se passaram de um espetáculo que ficamos cegos de tanto ver. Sim, desde o primeiro dia, quando cheguei em casa com meu filho...

... vínhamos da escola, foi a primeira vez que a Internet nos deixou a par de algo logo pela manhã, digo nós em meu mundo. Uma funcionária da escola havia me dito que havia ocorrido um atentado em NY, isso já era mais de 11 horas da manhã. Fui até ao laboratório de informática e acessei aos jornais eletrônicos. Tavam lá aquelas torres pegando fogo. Fui de sala em sala, 14 ao todo, pedi licença aos colegas e dei o recado. O diretor daquela escola salesiana, o Padre 'Torquato', me parabenizou, "as crianças vão chegar em casa já informadas e os pais vão achar que as mensalidades valem a pena".

Mas eu não pensava nisso. Um de meus alunos, em pleno terceiro colegial, era americano; o pai era brasieliro; a mãe, gringa. Ele ainda falava com sotaques. Além disso, nós estávamos com medo. Seria um sinal para a nova guerra mundial?

Em casa liguei a TV e quando a cena apareceu, por sinal ela não saía mais da tela, era repetida incessantemente, pulei com os dois braços pra cima. Gol do terceiro mundo. Meu filho ria de mim. Depois me lembrei dos que haviam morrido; muitos 'eram nóis': faxineiros, seguranças, assessores e sub-secretários; o pessoal da diretoria ainda não havia chegado. Por que será que os terroristas não esperaram o caldo grosso do investimento chegar para a festa deles ser completa?

Passaram-se dez anos e coisas estranhas continuam a acontecer: as emissoras do mundo todo fizeram o velório das torres gêmeas sem parar. Sim, foram as torres que morreram, não as pessoas, as mais de três mil. Nunca se falou que o 'atentado' foi uma resposta à política econômica exalada de dentro daquelas torres, que mataram gente mundo afora e de tudo quanto é jeito.

Agora preparam a ressureissão das novas torres, com a mesma função de epicentro da hegemonia financeira. Sacrifício, morte e ressureição: script velho e manjado, mas que arrasta milhões em devoção; se na primeira versão, os judeus foram os criminosos, agora é a vez dos islâmicos. Mas não se assustem, o capitalismo cristão sempre renasce, pra isso foi inventado.

A emissoras de TV nunca exploraram que o combate ao terrorismo, pós-farsa-11/09, foi um recrudescimento da direita, com a justificação jurídica para a quebra de uma série de valores defendidos pelos direitos humanos. Nem reclamaram pelo fato dos americanos estarem há dez anos em terras estrangeiras, em países lotados de petróleo e gás. Isso é apenas um efeito colateral mínimo, que não deve ser analisado mais profundamente. Mas deve-se repetir que os EUA 'estão nos países' daqueles que lhes derrubaram as Torres em atos terroristas imperdoáveis, e não só por vingança, mas para manutenção da democracia. Isso é igual e tal a noite de São Bartolomeu, no século XVI, os católicos franceses tinham que se proteger dos evidentes 'ataques' protestantes, que volta e meia, 'matavam católicos'.
Assim, Carlos IX destruiu milhares de protestantes, antes que estes destruíssem seu reino e depois a Igreja de Cristo, em Roma.

11/09, a nova noite de São Bartolomeu é na Times Square: Oscar de melhor roteiro adaptado para Bush, CIA e FBI; FOX news e Rede Globo, melhor iluminação... recorde absoluto na bilheteria do Espetáculo... "Todo mundo viu, foram 'eles' que nos atacaram primeiro." E como somos cegos de tanto ver, a mesma cena do Espetáculo, que assim seja, Amém.

obs: chamei o treco todo de farsa, porque teve gente que viu o Diabo na fumaça do WTC; Farsa porque, seria cômico, se não tivesse sido trágico para três mil pessoas.

E mais: Niels Harrit, cientista, declarou que havia vestígios de nano-thernite nas fuligens do WTC; e por que um terceio prédio foi demolido: o edifício # 7? Você sabe o que é nano-thernite? pois é, as Tvs não mostram.





Tenha paciência e assista ao filme, são só nove minutos. Tire suas próprias conclusões.

sábado, 10 de setembro de 2011

Eu sou só mais um tijolo no muro


O açougueiro de sonhos

Recebi da patética mulher que nos coordenava um papel que indicava um endereço onde deveríamos buscar nossos guarda-pós, os sobretudos que deveríamos usar sobre a roupa comum do dia-a-dia. Era só um artefato, só um pedaço de tecido costurado para que entrássemos nele e com isso, nossa imagem perante os alunos pudesse ser entendida como a de seres que obedeciam a um poder superior e que tínhamos uma roupa para a nossa já tão desgastada liturgia. Havia um sentido de restauração, de reforma no ato de ter de usar aquele guarda-pó.

Batemos na porta da confecção e uma mulher sem sorrisos nos atendeu. Conferiu os nomes antes que entrássemos e depois nos indicou o lugar onde se experimentava as roupas; eram quartos com espelhos que iam do chão ao teto, em todas as paredes, um local onde se poderia ensaiar o balé, faltava a barra onde as bailarinas se seguravam para a curvatura do corpo até que pudessem tocar o chão.

Nossas imagens no espelho, em tamanho natural, eram assustadoras. Não se tem noção do quanto se desgasta quando se trabalha para uma escola religiosa. Sim, eu havia trabalhado cinco anos para uma ordem católica que nadava em dinheiro e pagava um salário mísero. Ao meu lado, e também refletido no espelho naquele mesmo momento, estava Ricardo Soledade, dono da cadeira de história. Um marxista que rumava para um niilismo extremo, de tanto que já havia ouvido atrocidades da coordenação nos planejamentos anuais. Assim que abotoou a peça sobre a roupa, olhou pro espelho e soltou a peça.

— ...tô parecendo um açougueiro, um açougueiro de almas...

E ali estava uma boa definição para nossa função, pessoas que usavam o corte frio de uma razão cartesiana para exterminar os sonhos dos adolescentes, da juventude que era adestrada para continuar a manter o mundo na mesma situação de sempre.

Naquele dia me separei do Rick na próxima esquina. Não era possível tomar umas e outras com aquele manto nos braços, devidamente embrulhado com papel de presente cheio de motivações natalinas. Tínhamos acabado o ano letivo. Vinha o recesso, o sobretudo era para o primeiro dia letivo do próximo ano. Usei um cabide velho e pendurei o uniforme do ‘Pe. Benito’ no fundo do armário. Tinha algumas semanas para respirar, latas de cerveja, livros e a TV desligada. E foi numa noite daquelas, após diluir o mundo em cevada, que sonhei com aquilo que eu era. Um destruidor de sonhos.

“...até a linha do horizonte tudo parecia desolado. O capim seco de cor siena contrastava com a pista de cimento cru; o céu era cor de chumbo, o vento tocava as nuvens; do meu lado o imenso hangar e sem aviso prévio, o B52 aparece com suas asas gigantescas, pousando na pista cinza, o barulho das rodas, a agitação do ar e a presença daquele pássaro de ferro de guerra. Ele parou e do meio de sua barriga uma porta se abriu. Eu sabia que era para mim. Caminhei até ela com a mão sobre a cabeça, e o fiz assim porque havia um capacete de couro, eu precisava segurá-lo. Os aros dos óculos acoplados ao capacete estavam sujos. Entrei na barriga do pássaro e me deparei com pessoas conhecidas, todas com um sobretudo branco igual ao meu, todos sujos de ferrugem, de graxa e, ao que parecia, de sangue. Gotas estampadas.

Tomei meu lugar no assento, um longo banco encostado na parede do interior da barriga do pássaro; na outra parede havia outro banco. Gente ao meu lado e à frente. Tinham o mesmo olhar que eu, a mesma tristeza resignada; eu ainda não me lembrava do que estava por vir, ainda ia demorar um pouco até entender que fazia aquilo todos os dias, que era assim que me sustentava.

Uma voz de corneta soou naquela atmosfera metálica.

— AÇOUGUEIROS, PREPAREM-SE.

Então um alçapão se abriu no chão, bem próximo de nossos pés, ao mesmo tempo em que um cinto descia do teto para ser preso à cintura; cada um tinha o seu. Rapidamente me prendi. O medo da altura e a possibilidade de se cair pelo alçapão criavam vertigens. Eu estava inseguro, minha voz era fraca, sentia um frio na barriga, o coração disparado, um medo impregnava tudo. Presos pelos cintos, todos flutuavam sobre o alçapão, lá estava a Terra; o chão; e era uma seara bela com o vento a acariciar-lhe a pele.

O zunido do motor aumentou e com ele a tensão, parecia que agora descia em direção ao um alvo, em rasante, era um ataque. Só então eu vi na parede uma infinidade de bombas, bastava o braço esticado e qualquer um de nós alcançava uma delas; elas se desprendiam com facilidade, como livros de uma prateleira de uma biblioteca escolar, mas eram bombas, no formato de pequenos foguetes. E a voz metálica ordenou que as jogássemos pra fora, em direção àqueles que corriam; quanto mais as bombas explodiam no campo, mais o marcador do painel do avião registrava o aumento dos proventos. Era dali, daquele marcador que vinha o meu salário, e estava diretamente ligado ao efeito das bombas sobre os habitantes da seara.

Pareciam ser livres, viviam andando sem destino, pés descalços, inocentes, cabelos soltos, meninos numa terra pura, livre da cobiça e da cretinice. Usavam roupas desgrenhadas eclaras, como capas de heróis; banhavam-se nos córregos que cruzavam a seara, às vezes amavam-se livremente sob as poucas árvores que restavam; no ar, acima deles, como seres superiores, estávamos nós, os açougueiros de sonhos, trucidadores de almas.

Da cabine vinha o comando; eram homens-crocodilos, e tinham os corpos cobertos por um couro-couraça que os tornavam insensíveis. Imensos cifrões em seus olhos; eles mal nos dirigiam a palavra, mas estávamos ali, ao dispor deles, à vontade que viessem a ter; minha vida dependia do humor deles, do que pensavam de meu trabalho.

O mais estranho de tudo era quando um bando de habitantes da seara se aglomerava para facilitar que nossas bombas os acertassem. Os homens-crocodilo regojizavam-se nessa hora, era de onde brotava o discurso sobre qualidade e sobre ser o açougueiro ideal. Era desesperador ver a expressão de um menino da seara sendo abatido por uma de nossas bombas; depois delas eles nunca mais se comportavam da mesma maneira. Adquiriam um olhar ensimesmado, passavam a ser tomados por um sentimento de impotência e dificilmente sorririam de novo ao longo da vida.

Nas bombas havia os verbos, os números, os gráficos, as técnicas de escrita, a interpretação pronta, a filosofia oficial, a deseducação artística, a moral hipócrita do neoliberalismo e a falsa concepção da idéia de um deus salvador. Tudo banhado pelo estoicismo, tudo como uma imensa reunião de pais e mestres e a vida sendo jogada fora, tudo para alimentar o apetite dos homens-crocodilos, todos cobertos por um couro-couraça que os tornava ainda mais insensíveis e não diziam bom-dia com sorrisos.

Depois de um longo dia de trabalho o avião pousou próximo ao hangar e descemos cabisbaixos, entramos e tiramos os guarda-pós e os depositamos nos armários. Diante do quadro de recados fomos sendo advertidos de maneira informal, mas não menos cruel. De novo cabisbaixos, estávamos atrasados na descarga das bombas, estavam acumulando e uma nova remessa já estava a caminho. Seria preciso acertar a programação e bombardear ainda mais o povo da seara. Seriam ainda mais infelizes.

Segui o caminho de volta pra casa; diante de mim um imenso horizonte vermelho, o sangue manchando o céu sobre as searas; mais à noite, diante da tela da TV, as notícias sobre os habitantes das searas que cometiam crimes sangrentos e bárbaros e a voz do jornal condenava tais atitudes e propunha o aumento dos B52s como solução para o comportamento dos delinqüentes. Era mais gente como eu, comandos pelos homens-crocodilos para salvar o mundo de aquela violência.

Em minha casa, com os olhos no teto, pensei que um dia, um dia desses, um habitante de seara seria tomado de uma coragem extrema e atiraria nos aviões e então a grande explosão me libertaria de minha mediocridade e haveria uma chance para a liberdade, para a felicidade”.

Acordei no meio da manhã com latas de cerveja rolando lentamente sobre o assoalho de madeira, que absorvia as poucas gotas que haviam sobrado naquele entulho de alumínio.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Na tribo




2001: intoxicados por uma anti-mão-de-obra FHC, escrevi isso:

—...O que vem a ser o trabalho?

Um professor fez tal pergunta em minha sala e acho eu já estava no colegial. Ninguém sabia responder, mas lembrei dos índios, que tinham uma forma diferente de viver, que parecia bem mais prazeroso do que a nossa, os brancos ocidentais. Para mim o índio era e é, pós-tecnológico.

Claro, ele não aceitou minha idéia. É bem verdade que eu não sabia articular as próprias idéias, ainda mais sobre o trabalho, sobre esse dilema da alma humana. Certa vez um amigo mais velho me dissera que era inaceitável as pessoas terem de trabalhar para conseguir alimento. “A Terra sempre nos deu seus frutos e nunca cobrou nada, a não ser, carinho”. Fiquei com isso na cabeça e comecei a pensar se ele não estava certo, enquanto falava dos índios ao professor. O que eu queria dizer era o seguinte:

“...Trabalhar é um gesto humano. É a necessidade de se construir algo, de transformar o mundo que nos cerca. O Homem foi ficando especialista nisso, foi tomando o lugar da natureza e começou a trabalhar cada vez mais.

Houve um tempo em que se trabalhava naturalmente, onde cada um se organizava de acordo com as próprias forças e necessidades. O tempo era só o tempo, não havia sido associado ao fator trabalho; ainda não havia se transformado em sinônimo de dinheiro. O Homem tem uma tendência a cair do paraíso e passou a trabalhar cada vez mais, sem parar. A urgência passou a ser tão grande, que alguns serviços deixaram de existir. Cada vez mais era preciso gerar rapidez e qualidade para se comprar as mesmas coisas. Resultado: nunca se faltou tanto trabalho no mundo e nunca houve tanta riqueza acumulada. Acho que algo está errado.

O trabalho pode dignificar o Homem, pois o faz sentir útil e integrado a uma sociedade. Mas então por que falta trabalho? A tão desejada ordem, sonhada pelos poderosos, seria alcançada com postos de trabalho. Será que é tão difícil assim, entender o caso? Talvez o mundo já esteja pronto e não se precise mais de trabalho, de mão de obra. É a única explicação.

Imagine uma pessoa pensando assim: —sim, eu penso, existo, tenho força e quero trabalhar!. Mas não acha trabalho. Há mais concorrentes do que vaga. Não basta querer trabalhar é preciso competir; o que é uma lástima. Há quem ache isso bonito e até faça palestras sobre o assunto”.

Quando encerrei a fala, ele desconversou. Foi para outro tópico. Eu não, continuei pensando nisso. Mais precisamente, na finalidade do trabalho. Pra que se trabalhava?

A primeira idéia pode ser a necessidade básica primordial humana: comida. A segunda, moradia. A terceira, diversão e posterior criação das futuras gerações. Acho que todos concordam. Tem também o quesito conforto e a vocação; também se trabalha por isso.

Passamos a trabalhar horas e mais horas para depois, num breve espaço de tempo, curtirmos em algum balneário, o que se veio a chamar: férias. — conquista dos partidos de esquerda, tão abominados pelos burgueses que adoram gastar o lucro nos mesmos balneários, durante suas férias. Ou seja, todo mundo que trabalha gosta de férias. Peça alguém para descrever férias ideais.

—Hummm,... acho que duas árvores, uma rede esticada, uma praia ali na frente, crianças brincando alegres, nenhum compromisso com o tempo, esquecimento de obrigações, ou seja, paraíso.— alguns podem mudar a descrição do espaço geográfico, mas a essência é a mesma: compromisso zero.

Com base nesses dados, descobri que o índio já fazia isso, sem passar pela agonia filosófica do questionamento. É essa a diferença. O homem branco constrói os próprios grilhões, fica amargurado, produz arte e interpretações sobre si mesmo e se liberta virtualmente em férias programadas. O índio não, faz tudo o que tem de fazer, quando acha que tem de fazer e pronto. Não constrói casa de tijolos, pois cada hora quer estar numa praia. A moradia não lhe prende. Ele não precisa voltar. Tem como elemento vegetal representativo, a mandioca. O vegetal mais fácil de se plantar, basta enfiar o caule na terra, a raiz ela faz depois. Até crianças podem fazer o troço. Se houvesse um branco entre os índios, ele criaria um sistema de ensino para se chegar ao plantio com mais qualidade. Só quem tivesse mestrado em plantio de mandioca, poderia exercer a função. Ou seja, seria um sucesso só.

Pode parecer doidera, mas índio não sofre nas segundas-feiras.


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

VIVA O POVO BRASILEIRO!


Oswald de Andrade afirma no seu manifesto que "só a antropofagia nos une", propondo "deglutir" o legado cultural europeu e "digeri-lo" sob a forma de uma arte tipicamente brasileira.


" Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.

O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.

Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.

Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil". [...]




terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poemas de um homem vazio de átomos metafísicos



Vou ficando só.
Os dentes encardidos de vinho.
Cada vez menos sentido na vida, percebo.
Vou ficando só.
Os dentes amarelados.
Não há caminhos. Todos se foram.
Não sinto saudades.
Mas não quero ficar só.
Sinto-me fracasso.
Mais um dia vem; pra que?
Só eu gosto do som sincopado do piano na música que ninguém mais ouve.
Coisas simples, como eu e você, parecem impossíveis, garota.
Gero insatisfação nos outros.
Não há chuva.
Os cães latem silenciosamente à passagem da chuva.
Quem inventou a ortografia?
Por que alguns vinhos são azedos?
A lua na poça da chuva não é minha.
nasci no meio do percurso do rio. Nada do que faço é novo.
Posso me suportar quando bebo algumas doses de vinho.
Sonho.
Penso que sou legal.



sábado, 3 de setembro de 2011

A educação, o Espetáculo e a Realidade


Os dogmas da educação moderna

Que os grandes mestres me perdoem de antemão, e quando digo mestres, digo Paulo Freire, Gadotti, Rubem Alves, Piaget, Vigostisky e outros tantos que ocupam o Olimpo das teorias educacionais. Em muito concordo com eles e se não os li na íntegra, li parte da obra de cada um, em artigos, reportagens, crônicas e em conversas com gente sábia, cada vez mais rara no interior de escolas e secretarias. Mas o fato é que suas idéias têm sido usadas para justificar e colher lucros e procedimentos supostamente corretos, em termos pedagógicos e didáticos, mas que na prática, estão longe de qualquer realidade.

O primeiro exemplo é o HTPC (hora de trabalho perdida coletivamente). Ahh, os nossos impostos sendo corroídos por coordenadores e diretores com discursos cansativos e essencialmente administrativos e caducos, onde a proposta é tentar jogar a bomba, exclusivamente, nas mãos dos pobres professores. O próprio histórico de vida do aluno se torna sua defesa; diretores e coordenadores fazem isso com maestria, sabem de todos os problemas de todos os alunos, e não há nada que se possa fazer, por isso, caro professor, você é quem deve arrumar uma fórmula mágica para entreter os poços de problemas que estão diante de você. Transforme-se num IPAD, cante e dance como Lady Gaga, deixe-se fazer de idiota e até apanhe se for preciso, mas nem pense em escrever, ler, ou pedir para que seus alunos façam o mesmo, são atividades proibidas, crimes contra o sistema.

É preciso dizer que o sistema quer que esses alunos avancem nas séries sem o mínimo de conhecimento acadêmico, e sem o mínimo de senso crítico, mas com os direitos de consumidores na ponta da língua. Somente um indivíduo transformado numa massa amórfica, mas com um certificado em seu currículo, pode ser manuseado por empresas, partidos políticos e sem nenhum entrave por parte do próprio sujeito, quando forem adultos.

Assim, no futuro, quando manipulado, ultrajado e ofendido, o aluno de hoje sentir-se-á bem. Não terá a mínima noção de ética ou moral, porque nos melhores anos de sua vida, o sistema educacional o afastou da leitura, da reflexão e do armazenamento do conhecimento, que pra mim, em nossa sociedade, tornou-se sinônimo de poder. “Saber é poder.” Na era do conhecimento a voz didático-pedagógica de plantão prolifera um afastamento do conhecimento acadêmico em favor de práticas pseudo-dinâmicas, que mais são fanfarronices para chamar a atenção de jovens, do que desenvolvimento da cognição.

Em outras palavras, transforme sua aula num vídeo game e ele irá achar você um Deus. Eu sei, no final ficaremos com peso na consciência, pois os professores devem livrar o mundo de suas mazelas e não transformá-las em metodologia da prática de ensino. Essa decadência é disfarçada pela frase, “sua aula precisa ser mais dinâmica”, que é sempre dita pelos burocráticos que nunca saem de suas salas, a não ser, na hora do HTPC.

Mas você pode me perguntar se em meio a esse mundão de gente que ocupa as escolas não haverá aquele ‘estudante’, tal como no passado, que fazia a diferença em sua rebeldia e sacudia o mundo para se fazer algo melhor da situação? Eu acho difícil. Pois lutar contra o sistema, hoje, significa: estudar para uma prova, passar sem colar, assumir compromissos, ser pontual e tornar-se um indivíduo diplomado, mas crítico, que além de ser capaz de dizer “não” às safadezas das empresas sem ética, dos partidos corruptos, se afasta da violência careta das ruas com seus cracks e oxis.

Nas escolas particulares esse mesmo mal começa a invadir a prática ‘pedagógica’. A mediocridade social vem de cima pra baixo e não o contrário. Assim, a solução para todos os problemas passou a ser o ‘data-show’. Apaga-se a luz da sala, os jovens se alinham e em seguida começa a exibição de ‘vitrais’, como nas igrejas medievais, onde se educava uma massa de analfabetos com imagens frias expostas nas paredes dos templos. Escrever, ler, pensar, refletir são práticas consideradas maçantes. Nunca se esqueça, professor, “sua aula precisa ser mais dinâmica”. Use data-show, passe filme e distribua pipocas, faça piadas, faça-os rir e assim seu ibope será alto. Normalmente quem pede para o professor fazer isso, na escola particular, nem sempre é formado em pedagogia; mas quem se importa?

.....Não só a arte está morta, a juventude também está. Mas e aí, que relevância tem isso, desde que eu tenha um IPAD no bolso, um celular, um corte de cabelo igual ao do Neymar e mande o professor para a ‘ponte que partiu’ e filme tudo para depois colocar no You Tube?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A sociedade do Espetáculo - A Era do Vazio


...........Ainda sobre o Espetáculo. Não paro de pensar nas pérolas que se proliferam por aqui. Alício, Tom, A&V, Dandi e outros visitantes esporádicos ou perenes, na sombra do anonimato, ou num clarão meteórico de uma simples e única postagem, estimulam ainda mais o 'divagacionismo' de nosso mundo de Solidão&Comunicação. Trazemos para a dança ‘simbiótica’, — semiótica-digital-blogueira-já-decadente — pessoas já em estado de desmanche atômico, já ao pó se foram, mas suas idéias percorrem os trilhos digitais e o fundo de nossos olhos em espantos, sorrisos, deboches e indignações, tudo se exibindo no ecrã de nossa massa engordurada de circuitos cerebrais. Sentimo-nos como quem se regozija.

Oh! Venerável público, não percebestes a Debord e Marx no mesmo bar digital acadêmico em que estamos? Mas nós, crianças, apenas ouvimos a conversa dessa gente grande com guaraná caçula nas mãos. (imagem lúdica, eu sei, quem já não foi a um bar com o pai, e só pensava em doces e guaranás, enquanto os homens falavam de mulheres, futebol e política?); será que deixaremos um legado parecido para as gerações futuras?

Por isso quero chamar um ente vivo, ainda em carne e osso, mas distante de nós, porque lhe somos a massa amórfica que compõe a multidão sem 'significado fenomenológico', para quem, num paradoxo, ele escreve. — Quando nossa voz não está no texto, o texto se torna impessoal, não o narramos, ‘apenas’ o escrevemos e os que o lêem, ‘fazem da própria voz, sua voz’, o gramofone de si-para-si (eh eh). É a hermenêutica do texto. Todo texto é hermético em si, mas não menos hermenêutico.

Por isso abrirei a tampa de uma das caixas de Giles Lipovetski, que esculpiu em seu próprio cérebro o conceito da ERA DO VAZIO e misturá-lo a Debord, Marx, bem ao gosto de Foucault, mas permanecerei prostrado como um peregrino muçulmano diante dos olhos de Camila Vallejo, um imenso outdoor à beira da estrada, a grande imagem de minha Meca cabeluda, que tal como Tom, o satírico, desejo mergulhar e perder-me de toda razão acumulada ao longo do caminho.

(o corretor ortográfico do word me informou que o parágrafo anteriror contém 80 palavras; deveria conter, no máximo, 60 palavras) Favor, leitor, desconte de seu cérebro as 20 palavras a mais e obedeça aos americanos, que criaram um limite de palavras num parágrafo no Word. Ilimitado somente a quantidade de hamburguês, coca-cola, armas, e invasões e tea partys da vida.

Mas vamos a Lipovetsky: A Era do vazio:

Gilles Lipovetsky escreve sobre as novas atitudes surgidas na Europa e nos Estados Unidos, a apatia, a indiferença e a substituição do princípio da sedução ao da convicção. A Era do Vazio fala-nos ainda do narcisismo e das novas relações sociais caracterizadas pela redução da violência e a transformação das suas manifestações íntimas. Lipovetsky, professor de filosofia na universidade de Grenoble, pensa poder reduzir todos esses fenômenos ao individualismo, que teria entrado numa nova fase nos países desenvolvidos.

Trecho da entrevista de Giles Lipovetsky a domtotal.com

“Em 1983, o senhor publicou o livro A Era do Vazio, no qual diz que nossa sociedade sofre de uma falta de interesse pela esfera pública. O senhor acredita que essa tendência tenha se aprofundado desde então?”

O que eu quis dizer em A era do vazio era que vivíamos um período em que as grandes ideologias que marcaram a modernidade, como o nacionalismo, o socialismo, a revolução e o progresso, tinham perdido sua força, forma e estabilidade no mundo contemporâneo. Acho que isso continua verdadeiro. Atualmente, a descrição deva ser que, nas sociedades contemporâneas, o interesse por temas públicos é variável, tornou-se à-la-carte. Isto é, os cidadãos podem, eventualmente, mobilizar-se por uma questão ou outra, e logo em seguida deixar de manifestar interesse. Penso que não seja um desinteresse absoluto, um vazio absoluto e niilista. É um estágio em que os cidadãos mobilizam-se em função de seus interesses, e não de maneira sistemática ou em função de uma problemática do dever da cidadania. Hoje, por exemplo, nota-se um grande interesse pelas grandes questões climáticas, como o aquecimento global, mas essas grandes questões afetam diretamente a vida das pessoas. As pessoas voltam-se menos para causas anônimas ou abstratas, pois se mobilizam mais por coisas que podem concernir diretamente à sua existência, como a ecologia e o clima. Elas também se interessam por suas cidades e os lugares onde moram. Penso, por exemplo, no interesse de muitas pessoas pelas associações, que se mobilizam pela defesa de algum aspecto da vida social – os pobres, os portadores de deficiências, as crianças doentes. Entendo, então, que não haja um desinteresse absoluto, e sim um interesse que se manifesta menos em função de perspectivas universalistas”.

próximo capítulo: usarei histórias contadas por professores em escola públicas para tentar entender a luta de classes, se é que ainda existe, ou se todos só querem o mesmo papel espetacular burguês da novela das 8?