domingo, 18 de setembro de 2011

A burocracia




Texto de 2002. Quando Alício Guatambú tomou posse de suas aulas em...

....Nada atrapalha mais o professor do que a burocracia. Quem ocupa cargos pedagógicos em escolas, costuma confundir direção, coordenação, diretrizes, tendências, com um amontoado de papéis inócuos, que só servem, em primeira instância, para juntar bicho, insetos e outros seres maiores. Lembro-me da primeira vez em que vi um amontoado de papel no corredor da sala da coordenação e exclamei:

—Oba, dá pra fazer um bom trabalho, em termos de reciclagem; os alunos vão adorar!!

Recebi o olhar mais aterrorizante da história da educação. A coordenadora me olhava como se eu fosse um herege. Onde já se viu, querer fazer trabalhos de papel reciclado com os planejamentos dos anos passados? E seu um pai de aluno aparecesse na escola, querendo saber o que foi planejado no ano retrasado? Tudo tinha que ser guardado e pronto.

É assim nossa vida, cercada de papéis inúteis que são assunto de reuniões extremamente 'produtivas'. Fico com dor na consciência quando recebo meu holerite, com a marcação de horas extras provindas de tais reuniões vazias. Céus!! é um horror!

Quer uma prova de que papéis não valem nada, não valem o próprio peso, menos ainda o sacrifício da árvore que morre em vão. Então ouça.

Certo dia um amigo me ligou, precisava de ajuda. Tinha passado no concurso de educação do estado e estava pronto para tomar posse do cargo. Só que o prazo estava se esgotando, faltavam dois dias para entrega dos devidos documentos. Ele achou que estava tudo em ordem, guardava cópias em uma pasta, para horas como essa. Mas quando pegou no histórico, viu que só continha duas páginas. Desespero. Ligou para a faculdade e a mesma disse que tudo bem, fazia outro, mas dali a quinze dias. Ou seja, perderia o cargo por falta de documentos na secretaria da escola. Acabou ligando para mim, meio que nervoso. Disse a ele.

—Vem para minha casa, a gente dá um jeito.

Sentamos diante da papelada e tivemos uma luz. Eu tinha um histórico de igual peso, porém de uma disciplina diferente. Peguei algumas páginas do meu, mais a que ele tinha, xerocamos e montamos um. O peso era igual. Juntamos a outra parte dos documentos e fomos para a escola.

—Bom dia, sou o professor que veio tomar posse das aulas de ....

A secretária puxou uma lista de documento e foi pedindo; fomos entregando um a um. Quando passamos pelo histórico, o coração disparou, mas por nossa sorte ela não leu. Sentiu que o peso era compatível com que imaginava ser um histórico e foi para outro item de igual importância. Depois disse.

—Assine aqui. O planejamento começa na segunda-feira. Bem vindo e bom dia. —virou as costas e foi para sua mesa, lotada de papel.

Saímos alegres, não pelo fato de termos enganado alguém. É um tipo de estelionato, mas tem hora que o próprio sistema nos obriga a isso. O normal, no meu ponto de vista, seria a seguinte procedimento.

—O senhor não está no momento com seu histórico?

—Não! Mas já solicitei a faculdade uma outra cópia.

—Certo! vamos anexar uma cópia do seu pedido do histórico em seu prontuário, e quando o mesmo ficar pronto, você nos traz e seus documentos ficam em dia.

—Perfeito, obrigado pela atenção.

Falo dessa maneira, por que acho que o diploma registrado pelo MEC vale alguma coisa.

Por isso que nas escolas não se faz planejamentos. É um “planejumento”, isso sim!

Ou para quem quer ser mais ecológico, um cemitério de árvores; mortas para alimentar o vazio burocrático das repartições públicas e privadas.

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