Certa
vez um sobrinho me perguntou se eu não queria ‘dar um mergulho’ num dos
balneários de nossa região. Era o fim de um janeiro belíssimo. Pra ele o mundo
estava em férias plenas, totais e irrestritas. Disse-lhe, com profunda
tristeza, que a ‘Escola’ já havia voltado ao trabalho, era o período de
‘planejamento’, que ao longo da vida apelidei carinhosamente de ‘planejumento’.
Portanto não poderia ir ao passeio.
A
pergunta foi inevitável: “Tio, o que é isso?”. Respondi que aquilo tudo que ele
via na Escola, ao longo dos anos, era planejado, apesar de parecer o samba do
crioulo doido. Tentei suavizar e disse que era o lugar onde os professores aprendiam
a ser menos do que eram.
Sempre
imaginei os ‘planejamentos’ como lugares onde se poderia discutir textos
polêmicos, assistir filmes, ouvir música, entender a arte, pensar nos rumos
éticos da ciência e, mais do que isso, buscar uma estética do ensino, uma
reviravolta antropológica na maneira de ser e pensar. A primeira pergunta que
se deveria fazer aos professores era se estariam de acordo com o mundo à sua
volta, ou não. Em outras palavras: amor
fati, ou vontade de potência?
Dois conceitos de Nietzsche: devo amar a realidade à minha volta tal como ela
é? Ou devo querer o máximo de mim mesmo e, por consequência, mudar o mundo?
Mas
longe das ideias de Nietzsche, os ‘planejumentos’ servem, única e
exclusivamente, para transmitir as ordens dos empresários da educação, no caso
da educação privada, e dos parâmetros do Estado, casa ela seja pública, aos
professores sobre como devem agir no ano que está por começar. Um monumento ao
fascismo. Enquanto o poder de decisão do processo de ensino e aprendizagem
estiver fora do livre arbítrio dos professores, a Educação estará sempre sobre
tutela, o que é uma contradição, pois ela sugere a libertação do processo
crítico. Como algo baseado numa patologia pode funcionar a contento?
Foucault
já dizia que o ‘Poder’, em nossa sociedade, atua em ações microfísicas
inerentes à convivência dos indivíduos rotulados e auto-rotulados por funções e
cargos, e é nessa trama de relações, baseadas essencialmente na coerção, e na
possibilidade do descarte da ovelha que vier a trilhar, filosoficamente,
caminhos próprios, que se desenrola o ‘Poder’ do fascismo de maneira
despudorada e abjeta; eis a apoteose do capitalismo.
Nem
Marx, nem Nietzsche, nem Camus, nem os Beatles, nem Zeca Balero, nem Saramago,
nem Antônio Cândido, nem Fritjof Capra, nem Einstein e uma série de pensadores
estimulantes podem ser encontrados num planejamento, somente a velha e boa
burocracia decadente, amarrada a uma ‘legislação de diretrizes de bases’ que
não escolhemos e que alimenta uma tecnocracia incapaz de se tornar sustentável
e, menos ainda, de libertar a sociedade das crucificações diárias de Josés, Marias,
Pedros, Belarmindos, Reginaldos e similares das planilhas de custos das
Empresas Privadas e/ou das Escolas do Estado.
Apesar
de proletários, precários e descartáveis podemos, para glória maior do Sistema,
postar um perfil no facebook e curtir, comentar, e sei mais lá o quê, sobre as
últimas do Big Brother. Por isso canto a boa nova em alto e bom som: Senhor! Como
somos felizes! Senhor! Como somos felizes!
PS: é o capitalismo
quem eu chamo de Senhor.
Bem isso, Sá!
ResponderExcluirOuvi as músicas, estão no celular! Delícia!
q bom q vc gostou....vamos fazer um 'show' no quintal...vou gravar e enviar pro c..
ResponderExcluirabraços
Crônica mais que verdadeira...Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
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