quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Desejar uma ditadura é masoquismo


          O capitalismo leva ao consumismo. O consumismo ao individualismo. O individualismo à solidão e ela, por vez, ao desespero. Os desesperados procuram as religiões. Patético, não fosse trágico. Suportar o mundo não é uma tarefa fácil. E nada mais humano do que pedir às forças que estão além de nós uma ajuda, uma mãozinha pra se mudar o destino quando nos vemos em maus lençóis. Agora o que isso tem a ver com a prática de uma postura ortodoxa, com o comportamento fundamentalista, seja de cristãos, islâmicos e/ou derivados?
Por que se acredita que somente os fanáticos podem desencadear no Ser supremo a possibilidade da misericórdia, ou de uma benção? Quem escreveu essa bobagem? Pior, quem acredita nessa bobagem? Quer dizer que Deus, dessa forma, sempre irá reagir se eu me comportar com um completo ignorante no tocante à ciência, à política e à arte, porém suficientemente ‘abestado’ para absorver todos os discursos de pastores e padres carismáticos, e praticá-los na íntegra, e assim apto a me transformar num futuro morador de uma terra prometida (?). Eis a essência do caô! Chuta que é macumba!
O mesmo ocorre na política, onde fica claro que o fanatismo é a terra dos quadrúpedes. Após as eleições pudemos perceber vários deles expostos na mídia, pedindo por uma intervenção militar no Estado brasileiro. − Alguns acreditam que se um grupo de milicos tomar o poder cessar-se-á a corrupção como num passe de mágica. De onde vem a crença em tal absurdo? Primeiro: os militares brasileiros, antropologicamente falando, são tão pilantras, honestos e indiferentes quanto a sociedade civil o é. Segundo: por que a ideia de um único grupo governando, de forma ditatorial, silenciando as críticas e questionamentos de opositores, poderia seria melhor do que nossa constante e complexa rede de discursos abastecida pelo dissenso? Terceiro: por que seria melhor só um grupo no poder que pudesse roubar, matar, reescrever a constituição a bel prazer e sucatear a história de um país? Freud explica: isso é masoquismo!
O conceito de masoquismo vem da obra do austríaco, Leopold Von Sacher-Masoch, do livro, A Vênus de Peles, onde um dos personagens atinge o orgasmo após ser surrado pelo amante da sua esposa.  Freud dizia que o masoquista deseja ser colocado na posição de objeto de alguém que seja ativo o suficiente para desgastá-lo até sua morte. Isso seria fruto de alguma culpa inconsciente que o atormente constantemente, assim sente prazer com a ideia de que será destruído e a face da Terra será poupada de sua nefasta presença.
No campo da sexualidade, acho que estamos numa sociedade suficientemente livre para aceitar que a felicidade do masoquista, quando este passa pelas mãos do sádico e sinta prazer nisso de forma particular, ocorra sem que nenhum crime seja cometido e seja algo baseado no livre arbítrio da liberdade constitucional. Aí tudo bem, sussa! Ou seja, o republicanismo aceita que os indivíduos sintam prazer em sentir dor, ou que aceitem que seus cônjuges tenham relações extraconjugais e isto até seja filmado e propagado. É uma escolha.   
Agora, querer impor isso na política é sacanagem. Sentir prazer em ser chicoteado por uma Ditadura não é algo que deva ser universalizado como modelo de Estado. Quê isso minha gente? Por isso acredito que todo fanático, seja religioso, político ou esportivo, caminha de braços dados com o masoquismo, que é também uma maneira de exterminar a própria personalidade, que de tão insuportável a si mesma imagina que os outros também o são e logo não vê problemas em tomar na ‘cabeça’. Vá de retro, Satanás! 
Em suma, como diriam os patéticos professores de redação dos cursinhos, para o fanático religioso, Deus é um vingador que sente prazer em exterminar. Logo um sádico. Eu já disse que concepções teológicas baixas, com baixos teores racionais e medíocres, transformam Deus num anão e/ou num ser patético. Assim os fanáticos neopentecostais, carismáticos e derivados são uma mescla de sadomasoquismo.  PQP! Vamos evoluir minha gente, vamos evoluir! Deus, se existe, é um ser livre.

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