Me foi
pedido, por um dos leitores de minhas crônicas, que eu escrevesse sobre a Democracia,
‘um desejo tão fácil de se ter e um presente difícil de ganhar’, como já disse
a sensacional dupla da MPB, Sá & Guarabira, em uma de suas canções, Harmonia.
Deveras,
se Democracia quer dizer ‘poder que emana do povo’, e vem pela escolha da
maioria sobre quais serão os caminhos futuros, nada melhor do que uma eleição
para se esclarecer quem deverá conduzir o Governo do Estado e a administração de interesses conflituosos dentro de uma sociedade ‘constitucionalizada’. − Governo esse
que deverá deixar transparecer, ao máximo, os desejos e aspirações populares que o levaram ao poder.
Mas não
é só isso, tem mais ‘angu debaixo desse caroço’. Democracia não se limita só ao resultado da
escolha de um pleito, ela é o sistema imunológico do corpo social que impede o
desenvolvimento de patologias como a tirania, a ditadura e a proliferação de
oligarquias. – Essas patologias são latentes nesse nosso corpo social e num mero cochilo
da racionalidade, retornam ao poder e chicoteiam até mesmo aqueles que, de
maneira extremamente irracional e ignorante, clamaram por elas.
Claro
que, em tempos modernos, a legalidade e durabilidade de um poder eleito para o Governo
é cada vez mais frágil. A opinião pública livre, a análise crítica de quem apoia,
ou se coloca na oposição do discurso e dos programas eleitos são a essência do
dissenso e a maior prova da diluição do poder centralizado. É esse dissenso,
que por vezes nos remete à sensação do evento bíblico da Torre de Babel, quem
impede a barbárie ‘do olho por olho e dente por dente’ e da História tutelada
pelo déspota que escravizava seres humanos e monopolizava a riqueza, como era
na Antiguidade. – Foi contra isso que a Democracia, nascida em Atenas, no
século V a.c., na Grécia Antiga, se rebelou. Péricles, símbolo da Democracia
ateniense, quando escolhido líder, distribuiu terras, fortaleceu a plebe e
reduziu o poder da elite.
Benjamim
Franklin, um dos pais da nação norte-americana, dizia que a árvore da Democracia,
(da liberdade), vez ou outra, deveria ser banhada pelo sangue dos tiranos em
combate com os homens livres, para que ninguém se esquecesse do quão importante
é esse ‘frágil poder’ em que se tem o direito de escolher o próprio Governo,
numa sociedade onde cada indivíduo é igual a um voto.
Por isso
o atentado golpista capitaneado, em nosso país, por Aécio Neves, junto a uma
leva de oposicionistas no Congresso, no Judiciário e na mídia tem uma atmosfera
abjeta e enganosa. Já de cara, misturar a operação Lava a Jato com um eventual
processo de impeachment é pura canalhice.
Primeiro, porque Aécio e sua turma estão muito mais ligados às empresas
investigadas e suspeitas de pagamento de propina do que Dilma Rousseff. Segundo,
porque não há nada que comprove um crime cometido pela presidente da República
no transcorrer de seu mandato. Terceiro, num eventual impeachment, o governo
cairia nas mãos de Eduardo Cunha, citado diretamente por ter recebido propinas
das empresas investigadas da Lava a Jato e mais de uma vez; já há um pedido no STF para abertura de
processo contra ele.
Porém cabe uma análise quanto à volatilidade da opinião
pública sobre o governo Dilma. Não cabe como argumento para o impeachment os
baixos índices de popularidade, isso talvez seja reflexo de um novo comportamento
antropológico que parte de dentro das redes sociais, onde se percebe uma
reprodução de ideias estapafúrdias que anseiam tornarem-se ‘verdades’ o mais rápido possível, pois afinal, ‘há uma eterna
conspiração comunista do PT nos poros do mundo’. – Não sei como não acusaram o
PT de ser o responsável pela estética gay do show do Queen, no Rock in Rio 2015,
pois o PT, como dizem os conservadores, quer destruir a sagrada família brasileira.
Ainda sobre essa volatilidade de opinião, pode-se aventar que seja fruto
de uma classe média mimada que, em função de resultados imediatos, deseja a
troca da presidente da República tal como se faz com os técnicos dos times de futebol;
ou como ocorre em escolas particulares que dispensam professores com base num ibope
produzido pela opinião irresponsável de alunos menores de idade; ou simplesmente porque reproduzir ideias é um
sinal de inteligência. Não é assim que se troca de Governo, mas sim com um bom
debate racional em períodos eleitorais, embasado na história recente e em seus
resultados materiais.
Nossa classe média quer viver num país imaginário, onde o sistema
econômico é igual ao de Nova York, mas o Estado, por obrigação, deve praticar ações socialistas na saúde e na educação, ao
mesmo tempo em que reduz impostos, e em termos de segurança pública, venha a executar, com bastante ostentação, um código penal
característico de países como o Zimbábue, Congo e Afeganistão. E o líder, o
tirano que representa essa aberração política, é Aécio Neves, um santo que aspira ser conduzido ao poder por um coro de anjos à base de alcaloides, e tudo para glória
maior da TFP. Sim, parece a cena de um filme de Glauber Rocha, o que torna mais
do que evidente que nossa classe média sofre, no momento, de um deliro fascista.
Qual o remédio? Democracia Constitucional!
uhuuuu
ResponderExcluirMuito bom.
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