A primeira coisa que qualquer um quer saber em relação aos refugiados sírios, afegãos e líbios são os motivos pelos quais decidiram emigrar de seus países, em busca de novas oportunidades no território europeu. Claro, a impossibilidade de manter uma
vida digna nos próprios territórios é a resposta mais óbvia. Mas de quem é culpa dessa ‘impossibilidade’ sociopolítica
(e econômica) que causa privações em milhões de pessoas? Claro, as disputas
políticas internas e a exploração econômica predatória por parte de empresas do
Ocidente.
Detalhando: na Síria há uma guerra pelo controle
político entre grupos os jihadistas e os grupos curdos. Esse conflito ocorre há
quatro anos e vem despedaçando o país. Além disso, o petróleo sírio, hoje
explorado por empresas russas, foi barrado pela União Europeia em seu
território, o que causou uma grave crise econômica na Síria.
O projeto dos EUA-Europa era derrubar o ditador
sírio Basshar al-Asaad, que usou força extrema contra o movimento político
chamado de Primavera Árabe. Esses tais protestos ‘primaveris’ trariam, em tese,
transformações políticas que facilitariam a entrada de empresas ocidentais nos
países do oriente. Fácil, dessa forma, entender a responsabilidade da Europa, a
mando dos EUA, ao dar apoio aos curdos para estimular a guerra civil síria, além
de criar um embargo para os produtos sírios, ao mesmo tempo em que apoiava, via
mídia, a Primavera Árabe. Ações geoplíticas nos bastidores e no palco
midiático.
A Líbia, depois que o ditador Muammar Khadaf foi
deposto, em 2011, mantém-se dividida em duas áreas políticas e com dois
governos paralelos em conflito constante. Os poços de petróleo são explorados
por empresas ocidentais, mas a insegurança política obrigou a paralisação da
produção. A derrubada do ditador Khadaf, pela Primavera Árabe, mostrou-se um
verdadeiro desastre, inclusive para a própria Europa, grande consumidora do
petróleo líbio.
Há momentos em que os grandes jogadores de xadrez
erram feio na dose da jogada no tabuleiro da geopolítica. Queriam tirar o ‘atravessador’
de petróleo, Khadaf, com a Primavera Árabe, mas como as coisas saíram do controle,
o que resta agora é levar o país à maior deterioração possível, para que a
necessidade de exportar petróleo a preço de banana seja a única saída do povo líbio.
No longo prazo, o Tio Sam e a Europa fizeram uma bela jogada. – Claro, os
refugiados não faziam parte do plano.
No Afeganistão, um dos países por onde passa o
gasoduto que vai do Mar Cáspio à Índia, hoje governado por um grupo que recebe
apoio dos EUA, outrora dominado pelos Talibãs de Bin Laden, ocorre uma crise econômica
sem precedentes. A base de sua economia é a venda da papoula, uma flor que é
usada na fabricação da morfina e da heroína. – O choque de capitalismo
prometido pelos EUA, depois da deposição do Talibã, não veio.
Deveras, a dança macabra dos refugiados é só uma
reação à desastrosa política externa do Ocidente e sua eterna necessidade por
petróleo barato. A manutenção da qualidade de vida nos territórios europeu e
americano é alcançada em função da deterioração da economia dos países exportadores
de matéria-prima. – Nunca é demais lembrar que isso pode ocorrer futuramente no
Brasil, caso o conservadorismo dos tucanos, da mídia e do coxinato imperem sobre
a legislação que viabiliza a Petrobrás e o Pré-sal, pois as privatizações dos
mesmos correspondem à diminuição de nossa soberania. Americanos e europeus desejam evitar que o
Brasil industrialize o próprio petróleo.
É preciso entender que em tempos de redes sociais,
cultura digital, globalizações, informação just-in-time, liberdade sexual e
consumo desenfreado de drogas, a velha receita colonial da exploração das
grandes reservas de matéria-prima nos países pobres mantém-se em pé. Só são benvindos, nos EUA e Europa, os recursos naturais desses países carentes, o mesmo
não se diz das pessoas, dos corpos que compõem a cultura desses lugares que, em
função da crise gerada pelo ocidente, desejam atravessar uma fronteira física e
começar uma vida nova. A emigração de pobres para territórios desenvolvidos é
quase uma heresia, um crime e não se pode fazê-lo sem encontrar resistência
militar e midiática. Trata-se de uma grande injustiça camuflada pelo jornalismo investigativo e
ignorada pela ONU.
No Brasil, o coxinato propaga posts criticando a truculência
dos europeus contra os refugiados, mas em contrapartida, quando o assunto nos
diz respeito, expulsam, todos os dias, em frases de ódio e pronunciamentos xenófobos,
os haitianos, os nordestinos, os negros, os índios e etc., etc..