O
sentido da vida, pra mim, está no desejo de vencer o absurdo que ronda nossa
existência desde sempre. A vida, claro, nos sugere ser desprovida de razão,
pois a morte não permite que edifiquemos nada que vá além do pó. Mas mesmo
assim, nos intoxicamos com 'certezas' e somos cada vez mais altivos com nossas
vãs teorias. Seres feitos do barro, com armaduras confeccionadas pela vaidade,
estruturas à base de sepulcros caiados e, sem nenhum grafite pra ilustrar uma
boa mensagem, somos resumidos, atualmente, por selfs vazias que são
desconectadas de nosso processo histórico; um dos campos do conhecimento que pode nos dar um mínimo de consciência necessária ante ao processo evolutivo.
É
com base nisso que me preocupo com essa onda de conservadorismo/intolerância
que assola o país e o mundo. O senso comum é como os carburadores dos carros
mais antigos, vez ou outra precisa de uma limpeza. De onde virá tal faxina? Talvez
da arte, da liberdade sexual, da política, ou da consciência ambiental que está
demorando um pouco além da conta pra se tornar parte inegável de nosso mundo.
Detalhe: jamais a renovação virá da intolerância.
Vivemos
tempos em que nossa classe média anda a produzir massa fecal com a mente, uma
inversão fisiológica que muitos dirão ser cíclica. Outros dirão que nada mais é
do que uma falta de pudor elevada à enésima potência e que causa esse 'natural'
afastamento da inteligência social. É óbvio que os intolerantes dessa classe
social não se preocupam com a literatura, com o cinema e nem com o teatro, mas
fazem protestos nas portas de museus exigindo proibições sobre assuntos que
desconhecem. E isso, lamentável, virou moda no Brasil.
Ainda
tem mais: na busca pelo aumento do poder de consumo, essa mesma classe média
passou a expressar ‘pérolas’ racistas, preconceito sexual, conceitos de
extermínio e falso moralismo em anexo a um discurso supostamente sofisticado de
redução do Estado e abandono dos pobres e miseráveis a si mesmos. Tudo isso em
prol de algo que chamam de meritocracia; como se isso pudesse torná-la mais abastada
da noite pro dia.
'Em
suma', o sentido da vida vai muito além do ‘direito’ de ser um racista, um
misógino, um elitista, um conservador retrógrado que prega a pena de morte e a aquisição
de armas de fogo como ingredientes necessários para o funcionamento de uma
‘sociedade de consumo ordeira’. Sabemos que o consumismo vive do excesso e do
desperdício, e que isso não nos levará ao paraíso ou ao auge da evolução. Pelo
contrário, eis a patologia. A classe média está com lúpus e ataca partes de si
mesma como se fossem demônios, tudo em busca do ‘direito’ de comprar bugigangas.
Sim, o suicídio, a criação
de bodes expiatórios e as aspirações consumistas são formas de se praticar o Absurdo.
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