A influência do nazi-fascismo no pensamento político
A
palavra, fascismo, descende de uma arma usada no império romano, fascio
littorio, um machado com cabo feito de varetas − fascio − que um soldado (lictor) usava para proteger os magistrados. Significado: uma vareta isolada
é fácil de quebrar, mas várias bem amarradas entre si são inquebrantáveis. Foi
desse objeto que se extraiu o conceito de que a ‘União faz a Força’, cujo
significado deveria ser adequado à vida em sociedade.
No
século XX, 1914, na mesma Roma, Benito Mussolini criou o Partido Nacional
Fascista, que não possuía um estatuto definido, nem um manual doutrinário impresso,
mas se desenvolvia com base nas respostas de Mussolini aos mais variados problemas
da Itália. Ou seja, a visão empírica de Mussolini sobre a realidade foi a base
ideológica do fascismo na Itália. Visão essa temperada por valores de tempos
passados, onde Roma era o centro do mundo, graças a sua capacidade de se
organizar coletivamente.
Logo
após a primeira Guerra Mundial, Mussolini afirmava que o grande problema da
Itália era a falta de uma união nacionalista capaz de redimir a Itália da
fragmentação. O remédio, claro, era a manutenção de uma sociedade padronizada
que levaria à Ordem e ao Progresso. Mussolini propagava que o papel do Estado
era fundamental para que o fascismo triunfasse, por isso o mesmo deveria se
ocupar somente da segurança pública, todo o resto deveria ser entregue à
iniciativa privada (o que caracterizou a ideologia como extrema direita), para
que trabalhasse de acordo com as diretrizes desse mesmo Estado. Ou seja,
Mussolini pregava uma desestatização desenfreada no setor econômico.
Dessa
forma, a receita do Duce para a construção da então ‘moderna’ sociedade
italiana dos anos de 1930, partia da premissa de que todo indivíduo deveria ser
moldado e adequado à máquina moral do Estado fascista. A família, a escola, o
exército, a religião e a cultura deveriam ‘aperfeiçoar’ o indivíduo para que se
tornasse uma eficiente peça subjacente ao sistema Estatal que o ‘protegeria’
das ‘perversidades’ da vida. O indivíduo precisava querer se integrar ao
sistema com boa vontade, humildade, dedicação e com desejos de propagar tal
ideologia. Em poucas palavras, o indivíduo era ‘livre para escolher o fascismo,
ou o fascismo’.
O
fascismo se espalhou pela Europa após a Primeira Guerra Mundial, mas foi na
Alemanha que adquiriu contornos mais ‘sofisticados’ sob o ponto de vista da
ideologia em si, e do poder de alcance de um Estado Totalitarista no continente.
Hitler, ex-soldado da Primeira Guerra, artista amador (pintor) e amante da
música de Wagner, encheu de esteróides o fascismo italiano com seu livro, Minha
Luta, Mein Kempf, e o introduziu no Partido Nacional Socialista alemão, ao
mesmo tempo em que o dominava politicamente.
O
primeiro livro que Hitler ‘queimou’, literalmente, foi o estatuto desse Partido
Nacional Socialista, onde seus discursos apaixonados tomaram corpo na
‘consciência’ de um gigantesco número de indivíduos desesperados, vítimas da crise
econômica alemã, a ponto de abrirem mão da própria opinião e senso crítico para
abraçarem a ‘esperança da criação de uma de nação paraíso’ que se ergueria, e o
mais breve possível, quanto mais fosse capaz de destruir seus inimigos ‘históricos’,
que era a própria diversidade humana constituída pela somatória das individualidades.
Ou
seja, o nazi-fascismo, na Alemanha, era uma máquina estatal programada para
destruir as diferenças, e se tivesse conseguido alcançar seu destino terminaria
vazia de seres humanos, pois continuaria sua destruição mesmo entre aqueles que
a edificaram. Esse ‘distópico’ e constante movimento destrutivo, alimentado por
uma ânsia insaciável pela assepsia da diversidade, levaria esse sistema a criar
um único e ‘feliz’ sobrevivente, o estereótipo do homem branco, ariano,
capitalista, cristão e alemão, diluído numa massa de pessoas uniformizadas e
sem nenhuma visão crítica da História e de seu próprio papel no mundo.
O
nazismo, (abreviação de nacional-socialista), decolou rumo ao poder com as
aberrações propagadas por uma mente doentia, intoxicada pela “banalização do
mal” e se transformou numa ‘consciência’ coletiva e sem pudor algum. Sua tétrica
história, cujo ápice foi a utilização da ‘razão’, da tecnologia e da ciência
para sofisticação de campos de extermínio do povo judeu, deve habitar a
dolorosa memória coletiva histórica. Eis o motivo da necessidade constante de
uma racionalidade crítica e democrática, no mundo ocidental republicano, para
que a humanidade nunca mais pratique essa desumanização desenfreada,
sofisticada e, eficiente tecnologicamente, com ela mesma.
Sim,
a corrupção da razão humana foi usada como um bisturi para mutilar o corpo
social diversificado para a edificação de uma barbárie sofisticada e altamente
organizada. Matar com eficiência, e em alta escala, tudo aquilo que não era ‘nazista’,
era sinônimo de um progresso abençoado por Deus e pelo Fuhrer. Afinal, diziam,
e ainda dizem, os irresponsáveis simpatizantes do neo-nazismo, que Hitler
recuperou a combalida economia alemã no período do entreguerras, o que
justificaria as atrocidades cometidas como ‘meios’ que produziram fins
entendidos como desenvolvidos e de uma nova ‘civilização’. Ou seja, uma
demência.
O
nazi-fascismo representou a expressão maior do pensamento da ultra direita,
onde um Estado (i)moralmente opressor e incompatível com o desenvolvimento
cultural e artístico dos indivíduos, já que os mesmos deveriam ser padronizados
pela moral da estética nazi-fascista e, caso o contrário, agissem eles mesmos
por concepções próprias, nessas expressões culturais, tornar-se-iam
‘subversivos’ e passíveis de um ‘afastamento’ do convívio social, pois eram
‘identificados’ como um vírus no organismo criado pelo Fuhrer. Logo lhes caberia
a censura e a condenação à morte, em nome do ‘bem’ da sociedade.
Faz-se
necessário entender que, se a ultra-direita nazi-fascista privatizou o sistema
econômico, em contrapartida, estatizou a estética e os caminhos que deveriam
levar às expressões culturais de um modo geral. O Fuhrer só poderia ser
exaltado, jamais criticado. A maneira como o Estado (o Fuhrer) determinava como
o indivíduo deveria ‘ser’, afastava do horizonte o sentido democrático da
sociedade e com ele o parco conceito da liberdade individual histórico
filosófico. – Entenda-se o Estado de Direito como algo conduzido por uma
Constituição e não por uma pessoa que se diz líder, mito, enviado de Deus, dono
da razão, etc..
Podemos
nos arriscar em questionar, dentro dessa sociedade nazi-fascista, qual seria o
papel do professor e da própria Democracia, já que nos dias de hoje, em pleno
século XXI, o espectro do nazi-fascismo emergiu com uma relativa força após a
crise econômica de 2008, num ‘remake’ mais ‘suavizado’ do que ocorreu em 1929,
onde o nacionalismo exacerbado levou ao altar do poder, na Europa, o
nazi-fascismo como solução para os problemas criados pelo chamado ‘capitalismo
constitucional ocidental’.
Parece
que é quase sintomático: depois das crises econômicas, 1929 e 2008, a civilização
ocidental adentrou numa ressaca de teor nazi-fascista. É paradoxal que esse
nazi-fascismo pós-crise imobiliária de 2008, esse que nos ameaça, tenha
dificuldade em se generalizar, a bem de todos nós, graças aquilo que também o
fez se espalhar de uma forma muito maior do que se supunha imaginar, em tempos
atuais: a internet com suas redes sociais, com amplo poder de divulgação de
falsas notícias e falsas interpretações da realidade histórica. Porém ela é
também o lugar onde se combate essa abominação.
O
neofascismo tenta se propagar, nesse século XXI, por meio de um método que visa
substituir a História por teses individuais de viés neo-totalitaristas. Esses
nazi-fascistas pós-modernos (a benção Bauman, pelo termo pós-moderno) são os
iconoclastas atuais da História. E o que vai nos proteger da extensão e
contaminação do fascismo que ocorreu na primeira ressaca, após 1929 até 1945,
com o fim da Segunda Guerra Mundial, e mais suas conseqüências devastadoras
para a humanidade, é nossa capacidade de manter o senso crítico de punhos em
guarda e no centro do ringue do debate político. Afinal, as forças produtivas
do Capital devem ser direcionadas pelo discurso político, ou o discurso
político deve ser formatado pelo discurso econômico engendrado pela força
motriz do capitalismo financeiro? “Ser ou e não ter; ter e não ser, eis as
questões!” Ou seja, o fascismo surge da oscilação do sistema capitalista. Em
períodos de declínio econômico, crise, a vingança se transforma em sentimento
de justiça ao eleger os culpados por essa mesma crise. E o pior é que a
esperança coletiva é substituída por um sentimento de extermínio, uma semente
bizarra pra ser usada em nome da construção de um futuro para as futuras
gerações.
A incompatibilidade da Democracia
com o fascismo
1)
A
Democracia
A
Democracia surgiu na Grécia Antiga, em Atenas. Foi um processo político que se
iniciou no século VII a.C., com Drácon e teve seu auge no século IV a.C, com Clístenes
e Péricles. De forma resumida, o povo ateniense havia conquistado uma série de
direitos graças aos movimentos políticos, pois Atenas não tinha um código de
leis fixo, era esse processo político, baseado nas discussões na Àgora, com
suas votações abertas, quem determinava o formato da razão ‘legal’ que
habitaria o senso comum do cotidiano ateniense.
A
palavra Democracia pode ser traduzida como o ‘poder que vem do povo’. Porém, a
palavra, ‘demos’, tinha vários significados, mas para o processo político, tal
palavra era sinônima de ralé, ‘povinho’, os pobres e etc.. Para outras cidades-estados
gregas, onde o poder era aristocrático, democracia significava, ‘poder dos
pobres sobres os ricos’. Lembrando que aristocracia é justamente o contrário.
O
motivo dessa forma política, baseada na diluição de poder, ter nascido em
Atenas será sempre um mistério. Talvez possamos nos arriscar em ressaltar o
aspecto metafísico dos gregos e sua relação como os mitos. Os gregos
acreditavam que todo cidadão comum, ao ‘desencarnar’, habitaria o mundo
inferior controlado pelo deus Hades, cuja descrição se igualaria ao inferno
cristão. Vida eterna, na Grécia Antiga, ‘feliz e farta’, somente aos heróis que
os deuses, em seu eterno Olimpo, permitiam nos Campos Elíseos.
Muito
provavelmente, os habitantes de Atenas, influenciados por esse tipo de senso
comum, entendiam a realidade, ‘grifo nosso’, como algo efêmero. Deveras,
qualquer um, com um mínimo de senso crítico, perguntaria a si mesmo e aos
outros qual o sentido da vida naquela cidade, onde os homens comuns não tinham
terras, dinheiro, nem poder político e quando morressem, ‘submergiriam’ ao
reino de Hades? E assim era desde o começo dos tempos. Mas por que não mudar a
realidade?
É
inevitável apontar que, a democracia grega, surgiu como uma resposta a essas
privações materiais desses homens comuns que habitavam os espaços rurais e
urbanos de Atenas. A razão, que produzia as leis e as soluções para os
problemas imediatos, fora invadida por uma horda de sem terras nas votações
abertas da Ágora e isso transformou para sempre a história da humanidade. − As propriedades agrícolas eram chamadas de
demo; a mão de obra dessas terras também era chamada de demo.
Assim,
o milagre da democracia ateniense está enraizado na capacidade de fomentar os
desejos de uma vida melhor, não num futuro pós morte, mas no aqui e agora do
corpo vivo, ao organizar um conjunto de idéias que se baseavam na diluição de
poder, na distribuição da renda e na despersonificação do poder. Uma razão
universalizada brotou da Àgora, graças aos estímulos de três ferramentas que
habitavam o discurso político, ou melhor, o direto do cidadão ao discurso
político: 1) isocracia: todo cidadão tem direitos políticos iguais; 2)
isonomia: todos são iguais perante a lei; 3) isegoria: igualdade dos cidadãos
no direto à liberdade de expressão.
Se
no fascismo do século XX o Estado se transformou num cão de guarda da
propriedade privada, ao mesmo tempo em que obrigava esses proprietários a um
compromisso moral com os‘valores’ fascistas, a democracia ateniense propagava a
necessidade da participação de um maior número possível de cidadãos no processo
produtivo de sua polis. Mas deveriam ser cidadãos racionais, com liberdade de
pensamento crítico e compromissados com esse sistema democrático que visava a
alternância, não só na representatividade, como nos problemas que deveriam ser
abordados por essa razão.
Nunca
devemos esquecer que a polis ateniense permitiu a existência de homens como
Sócrates, que apesar de julgado e condenado a morte pelo teor de suas idéias,
teve uma longa história de diálogos, retóricas e críticas ao sistema (o poder)
com seus amigos e inimigos. Numa sociedade fascista, alguém como Sócrates mal
poderia começar sua trajetória. Lembrando que essa mesma Atenas também gerou
uma série de homens de pensamentos independentes, os chamados filósofos. Um dos
grandes exemplos é Platão, que produziu idéias e conceitos que eram muito mais
devastadores para os eternos enamorados da concentração de poder e riquezas do
que o próprio Sócrates.
Da
incompatibilidade do professor com o fascismo
Bem,
esse texto começou com a intenção de tentar explicar por que um professor não
deveria votar num candidato fascista, numa eleição de um país republicano e
moderno, em pleno século XXI. O adjetivo ‘moderno’ foi usado mais como uma
noção de localização cronológica do Brasil na histórica mundial, do que como
propriedade, qualidade dessa ‘nossa’ nação.
Detalhe:
o Brasil está na modernidade, mas ainda não sabe qual seu papel nesse mundo, além
de não saber ainda o que é ser moderno. Em termos gerais, limita-se a entender-se
como um país do agronegócio. Uma definição pequena para um povo que poderia ser
grande.
O
papel professoral do educador no fascismo
a)
Numa
sociedade fascista, ou de viés fascista, o professor estaria mais para um
doutrinador cuja tarefa seria a de ‘aparar as saliências’, os ‘defeitos’ dos
indivíduos para que esses possam se encaixar no padrão idealizado pelo Estado.
Quanto mais o indivíduo, via sistema de educação, potencializar suas
capacidades para ser uma peça subjacente e ‘eficiente’ ao Estado, melhor seria
o resultado dessa educação.
b)
Inevitável
concluir que tal função professoral, ao mesmo tempo em que alimenta esse
sistema fascista, oblitera o desenvolvimento do indivíduo no sentido evolutivo
da formação humana, ou da autoformação de uma identidade que o caracterizaria
como ser único e indivisível, e que constituiria sua personalidade. Tal como as
digitais dos dedos são únicas, a mentalidade, essa capacidade de ver o mundo e
de senti-lo, somado à necessidade da liberdade de expressão oriunda dessa visão
crítica, é também um fenômeno único e de vital importância à organização social
em que esses mesmos seres (alunos) vivem. Aniquilar a criatividade e o processo
crítico, em prol de uma ideologia, compromete o futuro da sociedade, tanto da
‘Arte’, quanto do ‘Empreendedorismo’ e sem falar na ‘Ciência’. – O fascismo, ao
combater a criatividade e o senso crítico, em sua eterna necessidade de
manter-se como poder e sentido moral da sociedade, nada mais faz do que impedir,
como uma máquina de destruição, a evolução natural do processo de humanização,
além de condená-lo à marginalidade. Claro, toda essa problemática existencial
fica escondida por debaixo dos tapetes da razão, ante ao espetáculo da Ordem
exibida por batalhões de indivíduos que deixaram de ser indivíduos, ao
incorporar o desumano processo de militarização dos direitos humanos.
c)
A
própria função do professor, nessa sociedade fascista, se torna algo
professoral, algo que associa eficiência ao cumprimento de um protocolo
determinado por forças protocolares externas ao processo de ensino aprendizado.
Essas forças fascistas externas, visando a manutenção de si mesmas, impõem a
professores e alunos os estereótipos educacionais e profissionais que lhes
interessa. Sob essa força de controle, o discurso professoral assemelha-se às
funções de padres e pastores que produzem discursos baseados naquilo que o
próprio rebanho já conhece, ou que já tenha por informação doméstica do que
seja o ‘Conhecimento’. O controle protoclar fascista cria um território e uma
fronteira para o conhecimento, atravessá-la, torna o indivíduo que está
professoral num subversivo. Tal fronteira não pode ser quebrada e, caso ocorra uma
‘transgressão de liberdade de pensamento’, num momento de cognição, constituir-se-á
uma heresia, um sacrilégio aos parâmetros da vida ideologicamente ordinária. Tal
ato, se detectado pela administração da instituição, muito provavelmente
retornará ao indivíduo professoral, algo no formato de sindicância, processo
administrativo e/ou outra punição burocrática qualquer. Que fique claro a esse
indivíduo professoral, passivo de ser processado, em qual território do
conhecimento ele deve permanecer e jamais quebrar as fronteiras desse espaço
autorizado. Mesmo que quem o autorize a professorar não tenha formação
pedagógica, filosófica, antropológica e sociológica e etc..
O
professor e a Democracia
Numa
suposta sociedade democrática, o papel do professor seria vasto e de difícil
definição. Deve-se salientar que toda definição corre o risco de se tornar
ideológica e logo petrificada com o passar do tempo, e muito fácil se torna
incompatível com os desejos de outros indivíduos.
Nessa
democracia, uma utopia ainda, nesses mesmos tempos pós-modernos, o professor
deveria ajudar, permitir, estimular, o aluno a descobrir tudo aquilo que a
família, o Estado, a cultura, o consumo, a educação, o trabalho ‘desejam’ dele.
Que sentimentos emanam dessas estruturas em relação a ele? Que projetos essas
mesmas estruturas projetam e/ou impedem em relação a ele? Quais projetos (desejos) são os dele, quais
são os dessas estruturas e quais são dos grupos sociais em que ele vive?
Já
em nossa parca Democracia (i)real, um professor não professoral transmitiria a
crítica a seu aluno, único bastião da imparcialidade, sobretudo quando esse
passa a ser capaz de entender os discursos produzidos pelo senso comum, aqueles
que alimentam as verdades que conduzem o corpo social em sua jornada histórica
‘das trevas da ignorância às luzes do progresso científico’.
Revelar
as falsas verdades tais como os ‘meios’
criminosos que a sociedade edifica para seus ‘fins’ maiores’, que ela se permite cometer, mas que proíbe a ponto
de exterminar um indivíduo que atue da mesma forma. O Estado pode ser livre
para burlar a lei, o indivíduo não. O Estado Democrático Liberal, apesar de ser
o mais evoluído e mais avançado do que as outras formas de organizações
políticas ocidentais, também parte de um equívoco, de um processo ideologizado
para a manutenção de si mesmo na consciência social, como a única forma de
poder racionalmente organizado, até porque se basearia, em tese, na liberdade, em
seu primeiro e simbólico artigo: todo indivíduo é livre porque é proprietário
de sua própria força de trabalho e que, associada ao livre arbítrio e ao Estado
Direto, instaura-se, nessa ‘sociedade livre’, o fim das injustiças históricas; além
de cessar a predação do homem pelo homem. Fraternidade, igualdade e liberdade.
Em
Nossos tempos ‘líquidos’, as mentes racionais do Iluminismo do século XVIII
precisam de nossa ajuda. Precisamos reescrever seu primeiro artigo simbólico: a
primeira propriedade de um indivíduo não é sua força de trabalho, mas sim sua
identidade, sua personalidade a qual só ele tem o direto de forjar. Depois vem
o resto. Forjar a própria identidade é um profundo ato de rebeldia perante este
neo-fascismo que está chocando o ovo da serpente que anseia tomar o Estado e
devorar todo aquele que pense algo que a incomode. Se essa serpente crescer,
vai impor o estereótipo que deseja para cada um dos que a seguem
apaixonadamente. E ninguém poderá dizer coisa alguma, pois a Ordem ditatorial
parte da omissão da cidadania para alcançar o silêncio das massas.
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