sábado, 12 de março de 2011

Jornais e petróleo - Crônica publicada pelo jornal Classe Líder, em Cruzeiro-SP. Acho que o Dandi vai gostar.

Às vezes falta inspiração para escrever uma crônica. É a hora de assistir algum jornal televisado. Todos os jornais de todas as emissoras têm uma capacidade infinita de noticiar bobagens; quando não mentem descaradamente. Penso eu que, por vezes, eles mesmos acreditam no que dizem; ou é a pressa que os transforma em patetas e sem que eles o percebam. Me protejo da TV com um livro. Machado de Assis é ótimo pra isso: ele impede que os raios magnéticos nocivos dos jornais televisados nos transformem em seres ruminantes.

Quando se iniciaram as manifestações pela queda do ditador Gaddafi, na Líbia, o Jornal Nacional, da rede Globo, exibiu a bandeira do Líbano ao fundo de seu cenário azul e não a da Líbia. O casal de apresentadores foi fundo na pesquisa. Só errou a bandeira do país. Realmente estamos diante de um jornalismo confiável. Por isso tenho preferido não assistir, mudo de canal quando o assunto é a Líbia; acompanho mesmo é pelos blogs; um deles é de um amigo, o ‘Inferno de Dandi’.

Noutro dia, passava desavisado diante da TV, e ouvi a apresentadora do canal Globo News, — que nunca desliga, segundo jargão do mesmo, mas que incrivelmente nunca deu um furo jornalístico —, veicular mais informações sobre a Líbia. Ela disse que os EUA não iriam participar de uma possível invasão das tropas da OTAN à Líbia. Essa decisão caberia à Europa, mais precisamente à Itália, que como sabemos, acende uma vela pra Deus no Vaticano e outra pro diabo na Líbia, pois a ditadura de Gaddafi mantém a terra da pizza em dia com o petróleo. Mas voltando, deu pra entender a notícia: EUA fora do possível combate; só de camarote.

Depois veio uma outra notícia, e ainda sobre a Líbia: um porta aviões americano havia passado pelo canal de Suez, no Egito, e se preparava, àquela altura, para se posicionar à frente do litoral líbio. Realmente somos bobos, ou eles ‘não perceberam’ que uma notícia contrariou a outra. Se os EUA não vão invadir a Líbia, por que posicionar um porta aviões no litoral líbio? Talvez para facilitar o trabalho dos paparazzi, sedentos por uma última foto de Gaddafi com um de seus modelitos esquisitos.

Interessante, e não menos confuso em termos analíticos, é a conseqüência inevitável dos tumultos na Líbia: o aumento do preço do petróleo. No capitalismo qualquer conflito favorece aos especuladores que, normalmente, nunca ‘têm relação nenhuma com o fato em si’. Prá nós, no Brasil, é bom porque as ações da Petrobrás sobem. E, diga-se de passagem, Fernando Henrique Cardoso — perdoe a citação, caro leitor — queria vendê-la ao capital estrangeiro, só para poder dizer ao mundo que o Brasil era moderno porque privatizava estatais durante seu ‘governo’.

Imaginemos o comprometimento do abastecimento de petróleo, de uma maneira geral, causando inflação e uma estagnação da produção industrial, em função das revoltas nos países árabes. O que seria de nós, pobres brasileiros, nessa hora, sem a Petrobrás e o Pré-sal? Não me venha com esse papo de energia eólica.

Por isso é bom jogarmos na defesa. Tal como Monteiro Lobato havia dito, durante a ditadura Vargas, e por isso pegou cana: “O petróleo é nosso!”. Então por analogia, Pré-sal neles! Além disso, é um bom momento para a Europa dar um exemplo ao mundo e abandonar de vez o petróleo como fonte de energia.

O Greenpeace deveria ‘invadir a Europa’ e gritar ao mundo que ela mantém ditaduras para obter petróleo barato e ainda polui o meio ambiente. Que horror, o velho continente ainda usa combustíveis fósseis! É hora dos países desenvolvidos utilizarem fontes de energia renováveis e abandonar, de vez, seus discursos acusatórios de que, nós, nos países em desenvolvimento, vamos destruir o mundo.

2 comentários:

  1. Professor,

    Em primeiro lugar é uma grande honra estar entre os confiáveis de sua lista, ao menos mais que pela televisão. Mesmo sem publicar a um bom tempo sobre o Oriente Médio e as revoltas árabes meu blog ainda informa mais que muitos telejornais, e não é mesmo soberba de minha parte. rs... Esta mídia realmente não informa e presta um grande desserviço à população que precisa se informar sobre assuntos dos mais diversos. Temos que duvidar até dos que eles chamam de 'especialistas', ao aparecerem na telinha ou nas páginas de jornais.

    Em segundo, gostei mesmo do texto. O tema do petróleo para os EUA é como banana aos macacos. Não há como eles não estarem envolvidos, tanto que já estão mesmo se posiciando para possíveis intromissões futuras em terras líbias sob a tutela de ser a favor dos Direitos Humanos. O que é contraditório, pois Bradley ainda está preso após o vazamento no Wikileaks, Guantanamo continua ativa, nada foi feito quanto ao Egito, meses antes; e nada é feito quanto à Palestina - e há anos! E seu texto denúncia bem, a Itália é financiadora de ditaduras assim como outros paises do norte, tudo pelo bem estar social de sua população. Sim, eles ainda colonizam o mundo, de certa forma. O que aponta para uma possibilidade do Brasil despontar como um país que terá uma liderança diferente após atingirmos a camada do Pré-sal, assim como é hoje a Venezuela. Mas também é uma contradição, pois este nosso 'passaporte para o futuro' é um investimento e tanto para um passado fossil. Sabe-se lá quanto investiremos para alcançar este petróleo tão bem escondido abaixo de nosso território. Talvez seria o suficiente para despontar como vanguarda em tecnologias mais limpas, como foi a tentativa do alcool e dos biocombustíveis. Mas não sabemos se o monopólio euro-americano deixará vingar um dia estas novidades tecnológicas. Porque dinheiro não falta para um mundo melhor, só falta interesse.

    Forte abraço, amigo!

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  2. sempre bem-vindo. dandi. abraços, new brother..

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