sábado, 17 de março de 2012

Alma de hippie

Foto: Buda de Chocolate, numa bela manhã de uma quarta-feira, 35 Cº, dentro de uma água santa que vem da serra da Mantiqueira, sem religião alguma, em março de 2012

Crônica escrita em 2001

Obviamente que antes de trabalhar como funcionário contratado de uma empresa, fui estagiário. Trabalhar enquanto se é estudante é um crime contra o pensamento evolutivo humano. Aquele papo furado de experiência é balela. Querem que o jovem absorva o pensamento velho o mais rápido possível, para que tudo não mude, não passe por revoluções. Para os velhos, tudo é preciso estar devidamente organizado para uma caminhada em busca do futuro, do objetivo. O objetivo é a morte do homem, da vida, do gozo momentâneo.

Sempre que desligava meu fusca verde no estacionamento da empresa, meu coração doía. Passava pelo portão e mostrava ao guarda, todos os dias, o mesmo crachá. Batia o cartão e ia para a cantina. Deixar de perder 10 minutos da vida tomando um café.

O dono da cantina tinha o hábito de deixar o rádio ligado, enquanto os operários da fábrica mastigavam o mesmo pão com café. Todos iguais e alguns morrendo de medo do tal comunismo daqueles anos 80.

Mastigar enquanto você ouve música é legal. Apesar da música não ter nada haver com você. Mas tem dia que alguém erra a programação e vem a música que pode mudar o mundo.

Foi num dia de junho, o céu azul e eu mastigando o mesmo rotineiro pão. No rádio começou a tocar Bob Dylan. Ao ouvir aquilo, logo pela manhã, meu peito se encheu de um vazio, de uma vastidão que até os olhos se encheram de água. Olhei para o estacionamento e meu fusca piscou para mim. Olhei de novo o céu e fui embora. Não para minha seção, mas para o mundo que estava lá fora.

Liguei o carro e fui em direção ao ribeirão que mais gostava de freqüentar. Havia transformado um dia da semana num lindo sábado e sem pedir ordem a ninguém. O que mais me irrita na vida é esse treco de pedir ordem. Na infância tive que pedir ordem aos pais; quando jovem, a escola; quando moço, aos patrões; quando adulto, aos filhos e a família de novo. Puta que pariu!! Não dá pra parar com isso?

No outro dia me perguntaram o ‘porquê’ da falta. Mas acho que não disse coisa com coisa. Fiquei rindo, era só um estagiário, que o mundo fosse para o raio que o partisse.

A música se chamava Mrs. Tambourine man, com 2:16 de duração na interpretação do Byrds.

Tudo mundo gravou essa música. Eu também não poderia ficar de fora. Afinal, somos todos iguais, não é? Estou cantando seus versos, na foto acima, eu nunca parei de cantar esse belezura de canção.



5 comentários:

  1. 35º, água de céu azul transparente e eu trabalhando... Isso é injusto! Beijos...

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  2. professor ganha pouco, mas tem uns caixotes, aí, dá pra sonhar, faltou vc lá...

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  3. Bela Crônica.Grande Sávio, o rebelde Sidarta.Saudações poéticas...Auuuuuuuuuu!
    Ia me esquecendo se é Alma de hippie...Faltou o cachimbo da paz.Rsrs.

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  4. Grande siddha puxador de ganja.

    Alma irmã, se existir um inferno, e vamos para lá por não acreditar, não quero melhor companhia, cantaremos nossas músicas até amolecer o diabo.

    Mas por enquanto, vamos juntos aos ribeirões, itatiaias e praias, em dia de sol ou chuva, não importa.

    Alma de hippie... Bah, alma de buda!

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  5. com várias pitadas de blues, ao luar, eh eh eh eh

    é tom, faltou o cachimbo eh eh eh he

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