Por que temos a sensação de que todos os políticos são corruptos? Ou que simplesmente não se é possível confiar em nenhum deles? A resposta pode parecer simples e é: a culpa é do capitalismo. Não, eu não proponho uma revolução que destrua a tudo e instaure um Estado forte e incorruptível. A resposta é mais simples: o capitalismo permite que pessoas se ajustem, ou passem a pensar que são feitos para determinados serviços, ou funções, mas acabam se esquecendo de perguntar a si mesmas se têm vocação para aquele tipo de trabalho.
Você é esperto se entendeu que estou falando da grande maioria que escolhe sua profissão com base naquilo que o mercado paga, e não numa vocação. Escolher a profissão com base na faixa salarial do mercado, mais o poder de consumo que tal escolha pode trazer, claro, torna-se sinônimo de infelicidade do indivíduo e de degradação da própria moral da sociedade como um todo.
Por isso é ‘normal’ que haja médicos carrancudos, porque não gostam de pessoas, mas sim da renda que isso propicia; professores sem paciência, que gostam mais do silêncio do que do diálogo e chegaram a tal profissão por mero acidente; policiais que confundem justiça com violência e usam a força antes da sabedoria; padres que confundem amor com pedofilia; juízes que vociferam sentenças sobre consumidores de drogas, e que em casa, nos fins de semana, fumam um THC ouvindo Bob Marley. É evidente, e ainda bem, que não se pode generalizar;
Claro que você é duplamente esperto e já entendeu que é o capitalismo que impõe uma necessidade de sobrevivência aos indivíduos. Eles não vêem outra solução, senão escolher caminhos que gerem proventos. A vocação, claro, eles a sacrificam em nome de algo que não sabem o que é, e nem para o quê serve, nesse mundo onde tempo é dinheiro. Por isso têm filhos. Sem vocação há um vazio. Logo os filhos preenchem o vazio e isso parece um remédio à patologia em si, na qual estamos inseridos.
Mas digo: a geração de filhos não preenche vazios; menos ainda seria a resposta dada pela humanidade à natureza, para a sobrevivência da espécie. É a presença dos filhos que possibilita aos adultos sufocarem suas vocações, sempre nos pântanos mais distantes, e de forma definitiva; pois vocação tem tudo a ver com os sonhos pessoais.
O distanciamento dos sonhos e das vocações, em função de questões produtivas, nos leva, como sociedade, ao mundo da depressão. Mas pra isso temos terapias, ansiolíticos e todo um tipo de farmacologia para melhor enevoar nossa visão sobre a essência das coisas, principalmente sobre nós mesmos. Tome calmantes e passe a desconhecer você mesmo profundamente. Mas não deixe de consumir, sorrir e de agradar a seu chefe, que possivelmente matou a própria vocação em cursos de otimização e/ou palestras de auto-ajuda.
Nem mesmo os cristãos têm vocação para serem cristãos. Ei, não brigue comigo, não fui eu quem fez tal crítica, mas sim um filósofo, Nietzsche, que disse que o único cristão que já existiu, morreu na cruz. Os que vieram depois dele apenas construíram, de maneira indiscriminada, numerosos sepulcros caiados, que é a edificação da própria história do discurso cristão institucionalizado e sem a mínima vocação; se não fosse São Francisco de Assis, eu diria que ele tem toda razão.
Outro exemplo clássico de falta de vocação: as propostas da bancada evangélica no Congresso Nacional. Por livre arbítrio, evangélicos escolheram pra si um caminho abstêmio em relação ao universo etílico e outras proibições mais. Digo que isso é extremamente justo. Porém, quando querem transformar suas escolhas em leis e impô-las aos outros, desencadeia-se uma gigantesca falta de sensibilidade e até mesmo de ética, além de uma profunda demonstração de falta de vocação para a convivência social. Qual o problema de se assistir aos jogos da Copa de 2014 com uma cervejinha nas mãos, nas cadeiras dos estádios? Quem não quiser beber, que não beba. Agora, quem quiser, tá ali o vendedor. Pronto resolveu-se o assunto.
Por que seria correto impor a todos os amantes da ‘cerva’ gelada, a escolha de um grupo religioso específico que, no caso, não bebe? Você é genial, meu leitor, pois já entendeu que isso é mera falta de vocação política. Aí, dá nisso.
Tenho vocação para vagabundo e monge budista...quando eu tiver 104 anos raspo a cabeça
ResponderExcluire viro um monge budista..Vagabundo só daqui a uns dez anos quando me aposentar...