sábado, 19 de maio de 2012

O crime





‘Arautos’ da liberdade andam a pregar que o jornalista Policarpo Jr, da Veja, não deve ir à CPMI do Cachoeira. Seria um crime contra a liberdade de imprensa. Penso de maneira oposta: é preciso lançar luz sobre o sistema de corrupção e favorecimentos criados por Cachoeira. Se o jornalista da Veja ‘já conhecia o esquema há mais de dez anos’ ele pode ajudar na CPMI. Além, evidente, de ser questionado sobre o porquê de seu silêncio sobre o esquema. Afinal, não é o papel do jornalismo esclarecer a sociedade sobre questões de interesse público?
E ainda há outra dúvida, no caso da Veja: Roberto Civita, dono da Abril Cultural, tinha ciência desse esquema entre Policarpo Jr e Cachoeira? Há momentos, nas conversas gravadas entre Cachoeira e seu ‘staff’, em que fica claro que era o bicheiro quem determinava a pauta de certas edições da revistas. Para o bem da República, isso não pode continuar sob suspeita. Vamos imaginar por um minuto, num conto de terror, se Fernandinho Beira-mar, o Nem da Rocinha e outras pérolas de nossa sociedade resolvessem abrir um jornal, ou uma revista semanal (não lhes falta capital). Segundo a lógica dos barões da mídia tradicional, Globo, Folha de SP, Estadão e mais detritos similares com audiência menores, esses nobres homens do crime tornar-se-iam intocáveis, pelo simples fato de se transformarem em empresários/jornalistas. Todos os seus ‘contatos’ passariam a ser fontes jornalísticas e logo, uma afronta chamá-los para esclarecimento numa CPMI.
Não, não é brincadeira. Apesar da comparação hiperbólica, a lógica do crime está presente entre Cachoeira e Veja. Quem ganhou, quem perdeu com aquilo que foi dito e escrito nas páginas da Veja? Um exemplo inegável: Demóstenes Torres (DEM) foi chamado de Mosqueteiro da Ética, talvez a única pessoa honesta em que o povo brasileiro poderia confiar. Isso escrito em páginas de 2011. Se Policarpo Jr é amigo de Cachoeira a mais de dez anos, a questão que surge é inevitável: Policarpo Jr sabia, ou não, que Demóstenes Torres era um ‘cachorro perdigueiro’ a serviço de Cachoeira? Nas conversas gravadas pela Polícia Federal, nos parece que eram todos do mesmo clube. Por isso Civita precisa esclarecer a seus leitores/consumidores, — principalmente —, se o dinheiro que gastaram com a Veja, nesse tempo todo, tem nascentes, afluentes e remansos nessa Cachoeira.
Sim, o ‘leitor’ desse semanário tem o direito de saber se o lucro da Veja está associado ao crime, ou não. Caso contrário, ele se torna contribuinte, sócio, de um esquema criminoso que tem ramificações até mesmo nas gavetas da Procuradoria Geral da República. Por falar nisso, o procurador geral da União, Roberto Gurgel, está tentando sair pela tangente, e não quer comparecer à CPMI e se utiliza de falsos argumentos técnicos, do tipo, “não posso ser depoente num processo que sou acusador”.
Mas ele pode ficar tranqüilo, já inventaram subprocudorias para casos como esses, porque o importante, para a República, é que a luz possa exterminar o bolor sobre o arquivamento da Operação Vega 2007- 2009, onde a Polícia Federal já havia detectado que a dupla, Cachoeira e Demóstenes, só não dormia na mesma cama. No mais eram próximos e já atuavam a todo vapor. Diga-se de passagem, uma tabelinha de alta precisão nos quesitos da corrupção, das propinas e das leviandades (através das páginas da Veja). Mesmo assim, Gurgel jogou a operação Vega na gaveta mais profunda. Enquanto isso, Demóstenes Torres (DEM) subia cada vez mais no cenário político. Lógica do crime: o Senado foi ludibriado e junto dele o povo de Goiás, que não teria votado em Demóstenes, caso o arquivamento de Gurgel não tivesse acontecido.
Devem explicações ao país: o DEM (o partido dos panetones); Gurgel e suas gavetas separadas por partidos; Marconi Pirilo, ‘vice-governador de Goiás’, (Cachoeira era o titular) do PSDB; o próprio PSDB (no caso Leréia); Roberto Civita e sua revista a serviço do Cachoeira, do Coringa e do Pinguim (pobre Batman); Policarpo Jr, irmão gêmeo do Cachoeira; Rede Globo (o repórter Heraldo Pereira disse, no ar, num canal de concessão pública que, por Gurgel, ele colocaria a mão no fogo: nota: não é esse o papel do jornalismo). E tem mais: o ‘governo’ do Estado de São Paulo, (Serra/Alckmin), precisa explicar sobre as atividades da Delta, em sampa. Essa empresa, que era ‘administrada’ por Cachoeira, assinou contratos milionários para a construção do Rodoanel, mais a duplicação da marginal do Tietê. Há quem diga que o dinheiro e o tempo gastos para a construção do Rodoanel, daria para construir uma pista de mão dupla entre a Terra e a Lua.  
Por isso, quando há dúvidas, para que a República não morra asfixiada por tanta escuridão, é necessário uma CPMI. É assim que fazemos política. Parabéns ao Congresso que, no momento, faz o papel da imprensa e investiga o tamanho do estrago: dos telefonemas do Cachoeira, aos bastidores do STF. A imprensa, por sua vez, anda a defender os seus e sabe-se lá a que preço.                                                                     

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