Às vezes falta inspiração para escrever uma crônica. É a hora de assistir algum jornal televisado. Todos os jornais de todas as emissoras têm uma capacidade infinita de noticiar bobagens; quando não mentem descaradamente. Penso eu que, por vezes, eles mesmos acreditam no que dizem; ou é a pressa que os transforma em patetas e sem que eles o percebam. Me protejo da TV com um livro. Machado de Assis é ótimo pra isso: ele impede que os raios magnéticos nocivos dos jornais televisados nos transformem em seres ruminantes.
Quando se iniciaram as manifestações pela queda do ditador Gaddafi, na Líbia, o Jornal Nacional, da rede Globo, exibiu a bandeira do Líbano ao fundo de seu cenário azul e não a da Líbia. O casal de apresentadores foi fundo na pesquisa. Só errou a bandeira do país. Realmente estamos diante de um jornalismo confiável. Por isso tenho preferido não assistir, mudo de canal quando o assunto é a Líbia; acompanho mesmo é pelos blogs; um deles é de um amigo, o ‘Inferno de Dandi’.
Noutro dia, passava desavisado diante da TV, e ouvi a apresentadora do canal Globo News, — que nunca desliga, segundo jargão do mesmo, mas que incrivelmente nunca deu um furo jornalístico —, veicular mais informações sobre a Líbia. Ela disse que os EUA não iriam participar de uma possível invasão das tropas da OTAN à Líbia. Essa decisão caberia à Europa, mais precisamente à Itália, que como sabemos, acende uma vela pra Deus no Vaticano e outra pro diabo na Líbia, pois a ditadura de Gaddafi mantém a terra da pizza em dia com o petróleo. Mas voltando, deu pra entender a notícia: EUA fora do possível combate; só de camarote.
Depois veio uma outra notícia, e ainda sobre a Líbia: um porta aviões americano havia passado pelo canal de Suez, no Egito, e se preparava, àquela altura, para se posicionar à frente do litoral líbio. Realmente somos bobos, ou eles ‘não perceberam’ que uma notícia contrariou a outra. Se os EUA não vão invadir a Líbia, por que posicionar um porta aviões no litoral líbio? Talvez para facilitar o trabalho dos paparazzi, sedentos por uma última foto de Gaddafi com um de seus modelitos esquisitos.
Interessante, e não menos confuso em termos analíticos, é a conseqüência inevitável dos tumultos na Líbia: o aumento do preço do petróleo. No capitalismo qualquer conflito favorece aos especuladores que, normalmente, nunca ‘têm relação nenhuma com o fato em si’. Prá nós, no Brasil, é bom porque as ações da Petrobrás sobem. E, diga-se de passagem, Fernando Henrique Cardoso — perdoe a citação, caro leitor — queria vendê-la ao capital estrangeiro, só para poder dizer ao mundo que o Brasil era moderno porque privatizava estatais durante seu ‘governo’.
Imaginemos o comprometimento do abastecimento de petróleo, de uma maneira geral, causando inflação e uma estagnação da produção industrial, em função das revoltas nos países árabes. O que seria de nós, pobres brasileiros, nessa hora, sem a Petrobrás e o Pré-sal? Não me venha com esse papo de energia eólica.
Por isso é bom jogarmos na defesa. Tal como Monteiro Lobato havia dito, durante a ditadura Vargas, e por isso pegou cana: “O petróleo é nosso!”. Então por analogia, Pré-sal neles! Além disso, é um bom momento para a Europa dar um exemplo ao mundo e abandonar de vez o petróleo como fonte de energia.
O Greenpeace deveria ‘invadir a Europa’ e gritar ao mundo que ela mantém ditaduras para obter petróleo barato e ainda polui o meio ambiente. Que horror, o velho continente ainda usa combustíveis fósseis! É hora dos países desenvolvidos utilizarem fontes de energia renováveis e abandonar, de vez, seus discursos acusatórios de que, nós, nos países em desenvolvimento, vamos destruir o mundo.