'carinho da polícia de São Paulo com os professores que educam os filhos dos mesmos, numa passeata por melhores salários'
Vou emprestar dois versos da grande dupla da MPB, Sá & Guarabira, para definir Democracia: “Que desejo tão fácil de se ter. Que presente difícil de ganhar”. E é difícil de ganhar porque Democracia, hoje, pressupõe participação. Digo não só do voto, mas como sujeito que participa da produção da riqueza do país e recebe por isso. Participar da produção e da partilha do bolo é fundamental. Se há exclusão, não há democracia. Gosto da frase do falecido Dom Elder Câmara: “Se divido o pão com meus amigos, sou cristão. Se indico a origem das desigualdades, sou comunista”. Ou assistencialista, como diria a ‘intelectualidade’ de hoje.
Pouco vale o direito de ir e vir, o direto de votar, se o território em que vivemos é demarcado por forças políticas conservadoras que ainda não entenderam que, primeiro o ser humano se alimenta, depois produz. Até mesmo os automóveis, máquinas modernas, precisam do tanque cheio para funcionar. É duro, mas na escala de valores o alimento do automóvel vem antes do alimento humano.
Digo isso porque, até agora não vi nenhum intelectual pedir desculpas por ter, em 2006, acusado o programa Bolsa Família de ser uma fábrica de vagabundos. “Deve-se dar a vara e não o peixe!”, diziam e dizem os mais ‘sábios’.
Porém, o fato é que estamos em 2010, e nesses últimos 4 anos o programa foi ampliado consideravelmente e, numa contradição, temos o menor índice de desemprego da história. Nunca tantas carteiras de trabalho foram assinadas. Do que adianta um país crescer economicamente se há fome entre seus habitantes? Jamais, e juro por meus filhos, defendi qualquer ideologia que entendesse a fome como necessária para um futuro promissor. Eu cresci ouvindo isso, mas nunca caminhei de braços dados com a crueldade do maquiavelismo da velha política elitista do Brasil, que sempre dormiu serenamente com a privação de milhões de patrícios em relação a um prato de comida, enquanto Brasil produzia riquezas. O Bolsa Família destruiu pré-conceitos filosóficos do falso moralismo da ‘antiga’ elite brasileira.
Tomar café, almoçar e jantar, antes de 2002, era um oásis; hoje, uma realidade que parece cada vez mais tomar corpo. Já li na Veja e, na Folha de São Paulo, reportagens sobre a miséria obesa. Sim, é um fenômeno social: uma grande parcela dos menos favorecidos passou a ‘sofrer’ de obesidade. Menos mal a pobreza sem fome.
Democracia é isso: produzir e receber parte do alimento gerado em nossas terras, financiado com dinheiro público, provindo dos impostos que pagamos em tudo o que consumimos. As terras produtivas têm função social, segundo a Constituição; obedecer a Constituição e um gesto democrático, não baderna.
Além do alimento, o conceito de Democracia deve estar ligado à disponibilidade de capitais. É fácil de se entender que o sistema bancário nacional e internacional pouco de se importa com democracia, ele prioriza o lucro. Mesmo que isso signifique a destruição de valores que nos são caros, como o direito à moradia e a aquisição de bens; afinal, vivemos na sociedade de consumo. Logo, será o mais democrático, o grupo político que melhor administrar os dispositivos econômicos, como as taxas de juros, a variação do dólar e a liberação de verbas para grandes construções de infra-estrutura.
O Brasil de 2010 está para ser entregue nas mãos de uma nova administração: de um lado, Dilma Rousseff, que tem como bandeira a continuação do governo Lula. Tem em seu armário esqueletos expostos pela Veja, Globo e Folha de São Paulo: o caso Erenice, a suposta quebra de sigilo na Receita Federal e favorecimentos de aliados nas obras do PAC.
Do outro lado está José Serra: carrega, mais ou menos, a bandeira do governo Fernando Henrique Cardoso. Tem em seu armário esqueletos não expostos pela Veja, Globo e Folha de São Paulo: O caso Paulo Preto, (a sua Erenice), as fraudes nas licitações do Metrô com a Alston e os pedágios mais caros do mundo.
O voto é seu, compadre e comadre. Em que eu voto? Não é nas elites.