quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Democracia

'carinho da polícia de São Paulo com os professores que educam os filhos dos mesmos, numa passeata por melhores salários'


Vou emprestar dois versos da grande dupla da MPB, Sá & Guarabira, para definir Democracia: “Que desejo tão fácil de se ter. Que presente difícil de ganhar”. E é difícil de ganhar porque Democracia, hoje, pressupõe participação. Digo não só do voto, mas como sujeito que participa da produção da riqueza do país e recebe por isso. Participar da produção e da partilha do bolo é fundamental. Se há exclusão, não há democracia. Gosto da frase do falecido Dom Elder Câmara: “Se divido o pão com meus amigos, sou cristão. Se indico a origem das desigualdades, sou comunista”. Ou assistencialista, como diria a ‘intelectualidade’ de hoje.

Pouco vale o direito de ir e vir, o direto de votar, se o território em que vivemos é demarcado por forças políticas conservadoras que ainda não entenderam que, primeiro o ser humano se alimenta, depois produz. Até mesmo os automóveis, máquinas modernas, precisam do tanque cheio para funcionar. É duro, mas na escala de valores o alimento do automóvel vem antes do alimento humano.

Digo isso porque, até agora não vi nenhum intelectual pedir desculpas por ter, em 2006, acusado o programa Bolsa Família de ser uma fábrica de vagabundos. “Deve-se dar a vara e não o peixe!”, diziam e dizem os mais ‘sábios’.

Porém, o fato é que estamos em 2010, e nesses últimos 4 anos o programa foi ampliado consideravelmente e, numa contradição, temos o menor índice de desemprego da história. Nunca tantas carteiras de trabalho foram assinadas. Do que adianta um país crescer economicamente se há fome entre seus habitantes? Jamais, e juro por meus filhos, defendi qualquer ideologia que entendesse a fome como necessária para um futuro promissor. Eu cresci ouvindo isso, mas nunca caminhei de braços dados com a crueldade do maquiavelismo da velha política elitista do Brasil, que sempre dormiu serenamente com a privação de milhões de patrícios em relação a um prato de comida, enquanto Brasil produzia riquezas. O Bolsa Família destruiu pré-conceitos filosóficos do falso moralismo da ‘antiga’ elite brasileira.

Tomar café, almoçar e jantar, antes de 2002, era um oásis; hoje, uma realidade que parece cada vez mais tomar corpo. Já li na Veja e, na Folha de São Paulo, reportagens sobre a miséria obesa. Sim, é um fenômeno social: uma grande parcela dos menos favorecidos passou a ‘sofrer’ de obesidade. Menos mal a pobreza sem fome.

Democracia é isso: produzir e receber parte do alimento gerado em nossas terras, financiado com dinheiro público, provindo dos impostos que pagamos em tudo o que consumimos. As terras produtivas têm função social, segundo a Constituição; obedecer a Constituição e um gesto democrático, não baderna.

Além do alimento, o conceito de Democracia deve estar ligado à disponibilidade de capitais. É fácil de se entender que o sistema bancário nacional e internacional pouco de se importa com democracia, ele prioriza o lucro. Mesmo que isso signifique a destruição de valores que nos são caros, como o direito à moradia e a aquisição de bens; afinal, vivemos na sociedade de consumo. Logo, será o mais democrático, o grupo político que melhor administrar os dispositivos econômicos, como as taxas de juros, a variação do dólar e a liberação de verbas para grandes construções de infra-estrutura.

O Brasil de 2010 está para ser entregue nas mãos de uma nova administração: de um lado, Dilma Rousseff, que tem como bandeira a continuação do governo Lula. Tem em seu armário esqueletos expostos pela Veja, Globo e Folha de São Paulo: o caso Erenice, a suposta quebra de sigilo na Receita Federal e favorecimentos de aliados nas obras do PAC.

Do outro lado está José Serra: carrega, mais ou menos, a bandeira do governo Fernando Henrique Cardoso. Tem em seu armário esqueletos não expostos pela Veja, Globo e Folha de São Paulo: O caso Paulo Preto, (a sua Erenice), as fraudes nas licitações do Metrô com a Alston e os pedágios mais caros do mundo.

O voto é seu, compadre e comadre. Em que eu voto? Não é nas elites.