Quem me deu a
notícia, na noite de 5 de março, foi o amigo prof. Dirley, eu estava
conversando com alguns alunos ao final da aula, e ele, de passagem, nos
atualizou. E o que mais me comoveu foi que ambos, com base no sofrimento
humano, achamos que o descanso foi melhor para o Chávez. Não pensamos, no
momento, em ideologias, nem em fatores políticos, inevitáveis, diga-se de
passagem, mas somente no homem diante de sua condição imponderável: o
sofrimento, o momento da morte e o corpo inanimado, pronto para ser levando ao
fundo da terra.
Chávez sempre
me pareceu aquele tipo que briga com os caras mais fortes da escola e protege
os mais fracos da extorsão, da violência, da exploração, mas não tem a simpatia
da direção da escola, nem dos professores. Eu sei, é uma imagem lúdica, mas é
assim que o vejo. Um cara capaz de responder ao ‘anti-venezuelismo’ dos EUA com
um anti-americanismo de primeira grandeza, e que sempre incomodou aos poderosos,
sobretudo na mídia.
Claro e
evidente que os sabujos da mídia local, Merval Pereira, Jabor, Diogo Mainardi,
Reinaldo Azevedo (este último chamado de besouro rola-bosta por Leonardo Boff,
por comentários ofensivos a Oscar Niemeyer, em sua morte), irão festejar, ou
declarar, ‘até que enfim o ditador morreu!’. Claro, vivemos numa sociedade que
até permite esses deslizes contra a figura humana, com suas interpretações
dúbias: vaiar Yoani Sánchez foi um profundo desrespeito, disseram os sabujos
midiáticos; festejar a morte de um homem, a mais profunda ‘democracia’.
A arrogância
de Jabor, no Jornal Nacional, quando o assunto era o Chávez e seu sofrimento,
extrapolou o bom senso e alcançou as raias da insanidade. Ele, um único homem,
não aceitou, ao longo do tempo, as seguidas eleições de Chávez e quis deixar
claro o quê os venezuelanos deveriam ter escolhido ao longo de sua história:
exatamente aquilo que Jabor e os EUA entendiam como correto e não a própria
vontade popular venezuelana. Podemos dormir tranqüilos: Jabor ‘conhece’ a
Venezuela mais que os próprios venezuelanos.
Claro, devemos
respeitar o pensamento limitado de Jabor, se a ‘democracia’ não é igual a dos
EUA, não serve, logo é uma ditadura. O ‘articulista’ não percebeu que impôs
através de suas palavras, o que um povo inteiro deveria fazer. Dessa maneira,
sem a menor vergonha, ou conhecimento mesmo, usou conceitos ditatoriais para
resolver o ‘problema’ da Venezuela, que ele entende ser uma ‘ditadura’.
Paradoxo. Detalhe: a visão que Jabor tem sobre a Venezuela é proveniente das
páginas dos jornais norte-americanos. Quanta imparcialidade nas análises desse
‘articulista’?
Mas uma coisa
me intriga, não sei se é coincidência ou não, mas quando Michele Bachelet
assumiu o governo do Chile, Nestor Kirchner na Argentina, Chávez na Venezuela,
Lula no Brasil, Rafael Corrêa no Equador, Hugo Morales na Bolívia, todos de
centro-esquerda e esquerda, no final do século XX e início do século XXI, ocorreu
justamente o declínio da economia norte-americana. Isso dá uma boa tese de
mestrado. Tenho vontade de cruzar os dados e saber da pertinência dos números.
Ou seja: governos populares na América do Sul reduzem, significativamente, o
enriquecimento dos EUA. Claro, a mídia fica do lado dos EUA.
Será que foi por isso
que isso que os EUA nunca deram um prêmio ao Lula e, no ano passado, o
Congresso estadunidense premiou FHC por suas inúmeras contribuições à economia
do Tio Sam?