quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A relação do nazismo com a busca por qualidade



Por detrás de uma simples reportagem de TV é possível de se entender as tendências que emergem da sociedade. E tais tendências são uma rua de mão dupla: ou elas indicam um caminho mais humanos, mais civilizado e tolerante; ou vamos direto para barbárie dos pensamentos totalitários e preconceituosos. Elis Regina cantava bem alto, na canção, Divino Maravilhoso, de Gilberto Gil, "...é preciso estar atento e forte, não tenho tempo de temer a morte". Frases fortes que brotaram da goela de uma geração que se impunha diante das atrocidades do mundo, porque desejava um lugar mais humano, tolerante e fraterno. Transformar os malefícios do mundo numa geleia real de pensamentos claros, exposta em mesa farta, é obrigação de todo artista, que de prefererência, "deve ir aonde o povo está" e não aonde o dinheiro do povo está. Mas vamos à reportagem.

Era sobre uma agência de empregos: uma especialista na
orientação de aspirantes ao primeiro emprego dava dicas, em plena manhã de uma quinta-feira, de como se deve proceder em entrevistas e quais as funções mais desejadas pelo mercado. Quando o mercado deseja, não pensamos duas vezes em sermos objetos de sua saciação, nos curvamos diante da caixa-forte do Tio Patinhas, como se a mesma fosse uma Meca.

A certa altura da entrevista, o repórter inseriu uma pergunta
by twitter: "obesos podem ser recusados em entrevistas?" A resposta: " na entrevista, não, mas no exame médico, sim." Então me lembrei dos professores míopes rejeitados pelo Governo do Estado de São Paulo. Mesmo após a invenção das lentes divergentes, os míopes são indesejados e impedidos de trabalhar por uma administração eleita democraticamente. Obesos, míopes, negros, índios, ciganos, portadores de deficiência, ex-detentos, a lista de proibições só aumenta; e é uma proibição com base na ciência médica; negros e índios são barrados no baile em função de suas imagens corporais 'incompatíveis' com o marketing das empresas norte-americanizadas.

Estamos diante da diluição do pensamento de Hitler em doses controladas por leis
protetoras das muralhas do pensamento privado. O capitalismo e o nazi-fascismo têm um namoro antigo, perigoso e danoso ao processo democrático.

Vamos nos lembrar que dentro da 'utopia' nazista não havia só a
idéia de exterminar judeus, negros, ciganos, comunistas e qualquer outro que fosse diferente. Ansiava-se por uma assepsia no próprio corpo da Alemanha: deficientes mentais, pessoas com problemas congênitos e qualquer outra anomalia genética deveriam ser extirpados do corpo social, para um melhor funcionamento da máquina humana, que deveria produzir a todo vapor.

Os exames médicos
admissionais que usamos hoje, tem finalidade similar. Fico imaginando um médico, nessa modernidade, vetando Garrincha por sua perna não ter uma aparência normal. Ou uma fábrica de cigarros impedindo a contratação de um fumante, porque é uma vítima em potencial de câncer no pulmão. Ou um Obeso barrado numa fábrica de doces; e uma longa lista de contradições.

O próprio sistema
econômico, a chamada sociedade de consumo, cria os seus doentes, porque "produzir é preciso, ter saúde, nem tanto assim" . Em seguida, ela mesmo trata de criar leis que impedem suas vítimas de ingressarem nesse mesmo mercado de trabalho, que é o responsável por suas degenerações físicas. Por final, descobre-se a pólvora, são os trabalhadores os próprios consumidores e os respectivos doentes do processo. Como diria o poeta, " tem algo de podre no reino da iniciativa privada e em sua relação 'legal' com o poder público".