Não é que o brasileiro não se ligava em protestos, é que ele não sabia que podia praticá-los livremente.
Pensava que toda manifestação resultasse numa chuva de balas de borracha, em
meio a uma nuvem de gás lacrimogêneo, bem temperada com o mais eficiente dos cassetetes.
Quantas greves
de professores, até mesmo da polícia civil do Est. de SP, ao longo desses anos,
não foram temperadas pela equação: a) governos estaduais fechados ao diálogo,
mas pronto para distribuir pauladas. b) o povo, em geral, chamando os grevistas
de vagabundos. c) a mídia com os microfones fechados aos grevistas, fazendo
análises das imagens contra as greves. Resultado: A + B + C = ‘visão política’
do cidadão paulista e do brasileiro em geral.
Do submundo da
proibição moral, sinônimo de baderna, os protestos migraram para a ‘praça da
normalidade’. Na Grécia antiga, século V a.c., chamavam a isso de Democracia. E
só podia ser chamada de Democracia se fosse na praça, conhecida como Ágora. —
Os vândalos de hoje ainda não entenderam que, suas atitudes favorecem ao
discurso dos reacionários ao movimento de politização. Quebrar a vidraça de um
banco, com seus caixas-eletrônicos, não significa nada, o seguro paga. Equivale
querer destruir um país inimigo queimando-lhe a foto.
Destruir o
sistema bancário, o Estado de direito, a ordem democrática, para que esse caos,
finalmente, destrua o capitalismo, corresponde a uma grande ignorância.
Precisamos de um espaço institucional para que possamos satisfazer nossos
desejos. E devemos entender que a saciação desses desejos, numa sociedade
capitalista, corresponde à diminuição de poder e da riqueza da elite econômica.
Exemplos:
querer a redução das taxas de pedágio, desejar passe livre para o transporte
coletivo, pagar menos impostos e o que mais se pensar, corresponde à redução dos
lucros das empresas que administram os setores. O serviço é controlado por
contratos (licitações) que, normalmente, ‘não podem ser alterados’ porque a
jurisprudência estatal trabalha a favor do lucro da empresa, para ‘viabilidade do
serviço prestado’.
Por isso a
mídia, sempre diante de uma contestação, convoca juristas que são especialistas
em dizer que, o povo e seus anseios, na maioria das vezes, são
‘inconstitucionais’. Não têm a menor vergonha de propagar que, o lucro é constitucional,
o manifestante, não! E deveria ser o exatamente
o contrário. Mas é papel da mídia fazer você entender que, “a vida é assim,
o que mamãe falou não vale nada!”, como já disseram os The Fevers.
A polifonia de
gritos, ansiosos pela satisfação, deve ser a base da constituição,
não o oposto. Para isso serve o Estado, e mais a gama de empresas que ele
contrata para retribuir, em serviços, a riqueza gerada pelas classes sociais
que desejam e produzem constantemente. A grande maioria produz, sonha e sacia
poucos de suas aspirações; uma pequena parte da sociedade pouco produz e sacia quase a
totalidade de seus desejos.
Encontramos o
calcanhar de Aquiles dos anseios das manifestações: a redução da margem dos
lucros das empresas que prestam serviços para o Estado (municipal, estadual e
federal). Essa redução é vital para o alcance da qualidade de vida almejada
pelo indivíduo inserido nos protestos. É ela quem vai permitir ao usuário do sistema de transporte, por exemplo, viajar sentado,
num ônibus de ar condicionado e com locais adequados para embarque e
desembarque. Vide outros serviços e pense o mesmo.
Crescemos,
como país, com uma corrupção que se fazia sobre os cofres estatais. Com a
digitalização das contas públicas e da ampliação da fiscalização, por vários
setores do próprio Estado, a corrupção se deslocou para a relação entre o
Estado contratante e as empresas vencedoras das licitações.
Solução: financiamento público de campanha. Quem é contra, lógico, vai deixar de ganhar algum e a mídia nunca vai mostrar isso pra você. Menos ainda, qual seria a margem de lucro mais justa para se construir um país. Se é que isso é possível.
Solução: financiamento público de campanha. Quem é contra, lógico, vai deixar de ganhar algum e a mídia nunca vai mostrar isso pra você. Menos ainda, qual seria a margem de lucro mais justa para se construir um país. Se é que isso é possível.