É que eu desejo, às vezes, o sol tocando a clareira do bosque.
O chão claro, as folhas secas, melhor ainda se for à tarde.
Só a brisa balangando as árvores, o tempo pasmo,
o moinho imóvel e o canto lento dos pássaros claros.
Naquele calor ameno e doce, o mundo não acaba.
A lentidão da tarde é posse de eternidade.
É onde posso desfrutar de mim mesmo.
Me acho folha, um tronco que recebe sol.
Vejo ninfas no mar do sol vesperal.
Ateu, aceito o vinho de néctar doce.
Silenciosa harmonia do limo nas pedras do rio.
Pés molhados, olhos nas nuvens.
Livre de idéias prontas, sou feliz e abordo a
mim mesmo com voz de sangue de dentro do peito.
Leve e sereno, pelo sol da tarde, acho que é bom
ouvir e viver bem no fundo desse corpo, nessa
concha que irá polinizar o chão das flores do
vir a ser, do bem-me-quer, do envelhecer-se,
até que a noite glorifique o dia.