quinta-feira, 13 de março de 2014

A saúde mental


Alguns baluartes da patética direita brasileira têm profunda fixação em destruir tudo o que nos faz felizes, que nos liberta. Aquele que afirma que o país tem muitos feriados, que o Carnaval é um desperdício, o futebol um ópio, o samba coisa da senzala e o rock, uma proposta de drogados, deveria fazer mais sexo saudável, tomar um bom vinho e dançar o frevo das ruas.
Toda festa coletiva tende à Catarse, que em grego quer dizer purificação. Uma limpeza da alma, uma descarga, um alívio pelas bobagens acumuladas ao longo do ano. Vital para a saúde mental da coletividade, o Carnaval, é o berro daqueles que estão cansados de tanta mediocridade, da manutenção de um discurso medieval cristão que ocupa, quase que na integridade, os canais abertos de televisão.
Líderes evangélicos e católicos se comportam como vampiros que sugam o sofrimento alheio, estimulando em tempo integral a culpa alheia. Um rebanho em estado de culpa faz doações generosas. Assim o Carnaval é o alho nos olhos dessa ‘vampiragem’.
Indivíduos que extravasam suas dores ao som do bumbo, num berro pelo salão, “...vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval!”, numa contradição, após o festejo, podem até ser mais produtivos do que aqueles que se escondem em retiros espirituais para bajular o Senhor. Concordo plenamente com o poeta Guilherme Puppo Falconni que, em seu Livro Último, diz que Deus vai sempre tomar ‘umas’ nos botecos, canta Noel Rosa e odeia os bajuladores de plantão.
Se não fosse o Carnaval, quanto a sociedade e o Estado não gastariam com terapia? E é na festa da carne, do italiano, carne vale, que podemos errar sem medo, pois estamos sobe as bênçãos do deus Dioníso. Melhor, evidente, que venhamos a errar com a camisinha no lugar certo. Chico Buarque, em sua canção, Meu Caro Amigo, afirma categoricamente que, “...sem uma cachaça e um cigarro ninguém segura esse rojão”. O ‘rojão’ da dura realidade cotidiana, alimentado pelos discursos de homens de negócios, que pouco se importam com a felicidade alheia, perde importância diante dos foliões mascarados.
O Carnaval e igual ao ENEM, só faz bem à classe média sufocada pela elite que não aceita abrir mão de privilégios exacerbados e defendidos com a velha retórica conservadora de direita, a mesma que embala o fascismo recrudescente. Quem não gosta de Carnaval, não gosta de nossas morenas, padrão FIFA, sacudindo os quadris aos sons dos tamborins. E isso é uma pena! 
Muito melhor do que gastar com armas, é se deixar levar pelo espírito da folia. Os Beatles sabiam disso e fizeram da vida um tipo de Carnaval, só que no lugar do trio elétrico, seguiam pelas ladeiras da vida num Submarino Amarelo. No mais, ...ALL IS NEED IS LOVE! ALL IS NEED LOVE!