domingo, 21 de agosto de 2011

Shazam e Xerife





Considero a TV de hoje uma lata de lixo que às vezes usa cabo e às vezes, não. Dentro dela tem um canudinho e nossos jovens vão sugando seus nutrientes tão saudáveis para a sociedade. Mas lhes digo, nem sempre ela foi tão ruim assim.

Paulo Jose e Flávio Migliaccio faziam nos anos 70 um seriado chamado Shazam e Xerife, dois amigos andando pelo mundo em sua “Camicleta”, um furgão calhambeque cheio de mistérios. Cada dia estavam numa cidade, num lugar diferente, ajudando alguém, ou simplesmente conhecendo a estrada. Lembro até da música, ainda canto em dias de saudades. “ Hei Shazam, herói de revista em quadrinhos”.... e eu tinha só 6 anos na época.

De posse de tal influencia benigna, chamei dois amigos da rua para pegarmos um monte de ferro velho do fundo do quintal de casa, para fazermos uma Camicleta. Meu pai era mecânico e possuía um fantástica coleção de pneus velhos, pára-lamas, carburadores enferrujados, borrachas e latões.

Era simples, só por a tranquerada na rua, montar o veículo e sair pelo mundo. Tal como Shazan e Xerife faziam diariamente na TV.

Veja bem o desejo que a TV nos passava: sair para conhecer o mundo, fazer amigos, sem rumo, sem destino e nem se pensar no lucro; ou no que você vai ser quando crescer?

Meu pai nos pegou no meio da cozinha, carregando pneus, latas, carburadores e madeiras velhas para fazer o veículo lá na calçada. Eu tinha a clara idéia que o construiria em no máximo, uma hora. Logo estaria na estrada. Acho que ele pensou em como contornar aquilo. Coçou a cabeça e disse.

—Faz a Camicleta lá no quintal mesmo. Quando ela ficar pronta, a gente tira a cerca do quintal e sai com ela pelo lote vazio, aqui do lado.

—Mas tem que passar pelo quintal do Sebastião!

—Eu falo com ele.

Legal, voltamos e começamos a fazer a Camicleta no quintal mesmo e nem lembramos mais de tirar cerca alguma. Começamos a viajar ali mesmo, pelo mundo todo e ouvindo a musica só na cabeça. Ainda não havia a máquina publicitária que põe tudo a venda.

Com o tempo, acabou Shazan e Xerife. Era a modernidade, nada mais poderia ser em preto e branco e acho que o programa foi deixado de lado, não sei. Nem reprisá-lo foi possível.

Mas tudo bem. Nem bem se passou um ano e veio Sítio do pica-pau amarelo, produzido pela TVE, em parceria com uma emissora que me recuso a falar o nome. Foi lindo, lindo.

Eu era de novo um herói de historias em quadrinho.

E as crianças de hoje têm de agüentar a ...