quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Você ainda pode pensar!





O idiota

Não, o título não é uma alusão ao romance homônimo de Dostoiévski, mas sim ao tema da redação da FUVEST de 2012: o idiota que se diz apolítico. Eu explico: para os gregos antigos, o IDIOTA era aquele que só se preocupava com problemas privados, da porta de sua casa pra dentro. Não queria participar das questões políticas que ocorriam em sua sociedade. Era aquele que se dizia apolítico, não-partidário, não-ideológico. Chamamos, hoje, esse indivíduo de ‘alienado’. Para os gregos: ‘idiótes’. Eis o tema da redação da FUVEST 2012 e desta crônica.

E podemos perceber que é uma lógica simples, pois aquele que se esconde do debate político tem sua vida afetada pelas ações das administrações escolhidas por aqueles que discutem e vivem da política. O ‘idiota’, mesmo que não acredite nisso, é afetado pela política da qual prefere se esconder. Quer ver exemplos, leitor? Então vai.

O governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, diminuiu em 10% a verba da secretaria do Esporte e em tempos de obesidade e sedentarismo. Porém só saiu uma notinha na Folha de SP, bem minúscula, sem nenhuma análise ou crítica, ou entrevista do motivo de tal medida. Porém, podemos perguntar aos nossos botões: a quem tal medida beneficia? Hummm! Obesidade e sedentarismo é um prato cheio para a indústria farmacêutica e para os ‘fantásticos’ planos de saúde que só lucram com tal cenário. Terá sido um lobby?

Bom, o fato é que não pára por aí: o governador do estado ainda aumentou o ICMS dos medicamentos genéricos no réveillon e você ainda soltou foguetes. Não é um cenário lindo: sedentários e obesos em números cada vez maiores e o estado de São Paulo arrecadando mais com a compra e venda de remédios e, com menos investimentos nos Esportes? Por tabela os aumentos no ICMS dos medicamentos atingiram os doentes crônicos mais carentes, diabéticos e hipertensos. E olha que o governador é médico. Hummm, tem colesterol no samba!!

Gostaria de dizer que era só isso, mas tem mais. Alckmin e Kassab, juntos, resolveram enfrentar a cracolândia. Foi um show digno da dupla de arqui-inimigos do Batman: Curinga e Pingüim. Os dois mandaram a PM dar tiro pra cima, pauladas e empurrões e espalhar os usuários pro lado que o nariz estivesse apontando. Um policial disse à imprensa que, “sabe quando você enfrenta um câncer? É melhor que as células doentes estejam juntas, pois é mais fácil de se curar. Do outro jeito é espalhando. É o que estamos fazendo aqui.”

Os moradores dos bairros vizinhos ‘agradeceram’ a chegada de novos moradores com seus cachimbos nas mãos. Quando Kassab viu ‘a lambança’ saindo pelo ventilador da mídia, — que não conseguiu esconder a insatisfação geral com a diáspora de usuários da droga pelos bairros de São Paulo, — resolveu dizer que não sabia de nada. Mas o governador disse que: “Não! O prefeito sabia sim”.

O que o governador não sabe, ou ignora, é que o país que melhor enfrentou o crack (e as cracolândias) foi a Itália. Com as chamadas narcossalas, obrigatoriamente próximas das áreas de convívio dos dependentes químicos, para distribuição de Metadona para desintoxicação dos que querem sair do inferno do crack. A cada 10 usuários de crack que procuram o tratamento, na Itália, 7 se livraram do vício.

Nem é preciso ser muito crítico para se entender que, no caso de São Paulo, tomou-se o caminho errado. Só seremos um país de primeiro mundo quando tivermos homens públicos que pensem de tal forma. A melhor solução é sempre a social. Hadad tem razão quando diz que o ‘governo Alckmin’ trata os estudantes da USP como se fosse a cracolândia; e a cracolândia como se fosse um aglomerado de torcidas de futebol em conflito numa tarde de domingo.

Mas se você tem outros assuntos privados a tratar, não vai se importar com os problemas citados acima. Claro, o BBB 12, o gol do Neymar, suas fotos no Facebook, o que disseram no Tweeter sobre Justin Bieber, o capítulo da novela e coisas do gênero são mais interessantes e sedutoras do que a política. Mas lembre-se: os efeitos da política sempre vão chegar até você. Por isso evite mergulhar na idiotice.

Esse cronista quer deixar claro que o governador não é um idiota, muito pelo contrário, é um homem astuto e inteligente. Já seus eleitores... hum! Mas vou parar por aqui, pois em época que até estudante da USP leva porrada do governo do estado de São Paulo, que será desse velho pangaré cronista que vos escreve? Que além de cruzeirense e flamenguista, vai escrever sobre a fusão Alckmin-Maluf (‘Malckmin’), com base no velho ditado, “me mostra com quem andas que lhe direi quem és” e lambanças mais, num próximo capítulo. Abraços.