Luz, eu posso ver a luz. A tarde é território luminoso. Minha casa tem paredes brancas. Eu penso que estou num lugar qualquer do mediterrâneo. O verão, ao contrário, me sugere que eu beba o vinho fresco, tinto, seco, no desenrolar das horas, no ciclo do sol sobre nossas cabeças. Olhar a árvore e sua sombra. Tem até um pássaro que chamo de Nick Drake, ela canta no mesmo tom de uma de suas canções. De repente eu voltei pra casa. Estava imerso numa nuvem de sonhos, de uma metafísica do absurdo, não menos bela, mas improdutiva.
Claro,
os dias úteis, eles se foram. Livre, agora, pelo menos por um tempo. Livre, e quero
dizer com isso que posso ficar comigo mesmo, pensar sem entraves, sem
limitações, saborear a ironia, o deboche, beber da própria imbecilidade, das estultices,
como nas cenas de uma peça escrita pelos irmãos Marx.
A solidão,
a morte, a tristeza precisam descansar, não podem trabalhar o tempo todo. ‘Nada
vai mudar meu mundo’. Infelizes aqueles que não ejaculam, não gozam junto a
outra pessoa o sabor da vida. Mas nunca é tarde, ainda podemos fazer um piquenique,
uma cesta de pão, queijo, vinho, e o azul claro do verão, como se fosse a
Califórnia e seus vinhedos.
Imagino
cenas cinematográficas em que posso um dia estar, e representar um papel que sou eu mesmo. Esse
livre idealismo de si mesmo é como a história de uma nuvem no céu, sim tudo
isso é o que a música e o vinho podem causar em mim, na medula. Um profundo
sentimento de estar leve, mesmo que o corpo esteja envelhecendo e o sangue
circule sob tutela da bioquímica e a musculatura enrijeça cada vez menos para benefício do outro ser que te deseja, mas é assim
a decadência, bela e refinada, democrática e companheira.
Segue
assim o cortejo de nossas aspirações, elas são tolas, como os pardais que desejam
o papel dos rouxinóis nos contos de fadas, e assim seguimos nossa rota, ciganos
sedentários de pensamentos livres em voos à base de especulação sobre o que não entendemos. Nada é novo sob os céus. Os
poemas, as canções, tem sempre alguém que os acolhe, junto aos desenhos, frases,
beijos, jeito do corpo, cristalino olhar que me alcança numa tarde qualquer. Presentes
rejeitados por alguns se tornam pérolas nas mãos de outras pessoas sonhadoras.
O que
mais quero da vida é esquecer os manuais que a história nos legou. Quero desaprender
os mortos, os xamãs, os feiticeiros, os videntes e os filósofos. Também me afasto dos vivos comuns que acham que sou algo que não é
meramente humano. Sou um menino no parque que deseja dividir o chiclete, e que é
atraído como uma mariposa à luz artificial quando ouve a própria guitarra. Meu cão
dança comigo enquanto o Led Zeppelin estoura nas caixas de som. São duas patas
traseiras mantendo um corpo lupino que pensa ter duas mãos primatas que desejam me abraçar.
“Somos
descendentes dos primatas, logo não nos cabe alternativa senão a de nos amarmos”, e sob
o sol, na chuva, na noite escura, à margem do riacho, no bosque imaginário. E data vênia, dance
comigo quando eu estiver morto, o sol se foi pra sempre e baby, você pode me
fazer me sentir bem, então dance, dance, dance, porque a noite veio e caiu
sobre nós. Estamos felizes, é por isso que podemos dançar ao redor do fogo.
Vou
fechar os olhos, não vou deixar o natal e o réveillon sugarem minha alma, são dias
comuns, tais quais aqueles em que se abandona o casamento, ou em que se diz ao filho, "...não importa o DNA, você é um ser do mundo, siga em frente e deixe seus irmãos às
moscas!. Abandone a Deus, também ao pai, a mãe e se agarre firme na cintura de sua
namorada, e não se esqueça de sua guitarra".
Ah! O abandono, o nada por fazer, a obra de arte, a loucura, a chapação. Eu sei, às vezes nos cercamos de idiotas, no fundo são nossas escolhas, como fazemos com CDs e livros. São eles que nos tornam o que somos, por isso tome cuidado, só escolha aquilo possa ser entendido diante da santa chama da loucura, da liberdade de embriaguez e da nudez mais despudorada que se tenha notícia.
Ah! O abandono, o nada por fazer, a obra de arte, a loucura, a chapação. Eu sei, às vezes nos cercamos de idiotas, no fundo são nossas escolhas, como fazemos com CDs e livros. São eles que nos tornam o que somos, por isso tome cuidado, só escolha aquilo possa ser entendido diante da santa chama da loucura, da liberdade de embriaguez e da nudez mais despudorada que se tenha notícia.
Ps: se não foi possível entender a crônica acima, sorry. Escute então esta música, Picnic, parte da trilha do filme, Sideways, entre uma e outras e talvez você possa entender. Aliás, quero agradecer a companhia dos leitores, poucos, mais verdadeiros. É que estamos entrando em recesso, agora só em janeiro de 2015. kiss in everybody.