quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Capitalismo financeiro em crise: pleonasmo

O Capitalismo está em crise na Europa e nos EUA. E por que será que isso aconteceu? Bem, primeiro temos que buscar alguns sinais bem visíveis: as crises só acontecem em áreas onde o Capitalismo é livre, extremante livre. Onde não há nada que possa controlá-lo. Em outras palavras, não pode haver restrição estatal ao campo especulativo, porque isso soa como um pecado, um crime sem precedentes contra a ‘intelligentsia’ que domina noticiários, análises e concepções ditas modernas e arrojadas para o funcionamento do mercado especulativo. Lembremo-nos: a mídia é formada por empresas ligadas a grupos que querem o Estado longe das decisões econômicas.

Fleumático leitor – sempre quis usar esse adjetivo – a primeira leitura que se pode fazer da fumaça que sai da crise é que: onde o Capitalismo e seus guardiões o querem sem restrições, controle ou limite, os cidadãos, talvez por excesso de individualismo e/ou letargia, são sufocados por uma nuvem de depressão, agonia e carregam dívidas nos bolsos que não poderão pagar nunca, mesmo que vivam 400 anos. Enquanto isso, investidores e especuladores, como bodes numa horta, fazem o que bem entendem e ainda têm, de acordo com nossa opinião, a ‘posse da verdade’.

Torna-se claríssimo que o Capitalismo precisa que seus teóricos insiram no senso comum as idéias de que a economia deva estar desvinculada, sempre, da política. A teoria que dá embasamento à economia não pode ser discutida em campanhas eleitorais, senão as bolsas caem (sim, isso é uma chantagem). Para que o Capitalismo financeiro ‘funcione’ é preciso que ‘não haja discurso crítico algum sobre seu funcionamento’. Ele não pode ser pauta política; se o for é porque têm candidatos radicais nos pleitos. E é serviço da Mídia indicar quem são os radicais, aqueles que têm discursos incompatíveis com ‘a beleza do Capitalismo’. Na última eleição para presidente, no Brasil, esse rótulo foi dado a Plínio Arruda Sampaio.

Talvez você esteja se sentindo tal como eu: alguém que está na companhia de Harry Potter há 10 capítulos e descobre, ‘não mais que de repente’, que Valdemort é seu maior inimigo e isso desde o início da história. Pois não é que nos três parágrafos acima já detectamos alguns tumores no corpo do sistema financeiro: a) no neoliberalismo não pode haver intervenções do Estado na Economia. B) a sociedade deve ‘entender’ que Economia não é assunto para se misturar com política. C) as dívidas que movimentam o Capitalismo nos transformaram em seres depressivos e sem perspectivas. — Não, não chore, ainda há boas notícias!

Eu sei que você, leitor, mesmo em estado fleumático, deve estar se perguntando se a crise é geral. Digo-lhe que não, ela não é geral. O que difere então os lugares onde há crise econômica, dos lugares onde não há crise econômica? Os BRINCS (Brasil, Rússia, Índia e China), por exemplo, vivem como se não houvesse crise alguma. Qual será o segredo? Resposta: Ah! No Brasil, a gente sabe, o sistema financeiro ainda é ‘muito arcaico’; o governo está recheado de programas sociais; o país cresce 7,5% (PIB) em 2009 e depois cai para casa dos 2,5%, em 2011. Por que ocorreu isso? É que depois das compras, tem de se pagar os bens adquiridos. É isso o que estamos fazendo agora: terminando de pagar o que compramos em 2009, em financiamentos.

Se no Brasil fosse igual nos EUA, e/ou Europa, aumentava-se o crédito para estimular novos financiamentos; jogar-se-ia mais pra frente as dívidas e, de 7,5%, iríamos a 14%, 15% ou mais ainda. Só que todo mundo estaria pendurado numa bolha especulativa que iria explodir logo. E aí, meu bróder, quem lucrara até então, beleza! Já os eleitos para a grande derrota ficariam com papéis desvalorizados e com as dívidas. Seria como num Cassino, entendeu? Num Cassino especulador joga contra especulador, e agente que trabalha, sol a sol, fica olhando nos noticiários a beleza do Capitalismo: os vencedores e os derrotados.

Sim, eu sei, finalmente você entendeu, os especuladores compram e vendem dívidas. E, claro, alguém tem que pagar a conta. E é a classe média quem paga através dos impostos; além de ter serviços essenciais reduzidos (educação, saúde, transporte, infraestrutura e etc.). Sim, rebelde leitor, o Estado assume a dívida em nome da sociedade. Afinal, ela é o avalista dos negócios e por isso tem que pagar. Tá pensando o quê! É preciso ser ‘ético’ e pagar o quê os especuladores ‘fizeram pelo seu bem’, meu bom burguês! É o que vai acontecer na Europa, em alguns países endividados. Entendeu agora por que os gregos tão quebrando tudo?

Ahhh! Você não sabia que é com os impostos que se paga a dívida com os Bancos, em caso de crise? Lembre-se: são os bancos que financiam o consumo sem limites. E se num determinado período de crise as empresas não conseguem mais empregar, se há estagnação e falta de dinheiro, os bancos não ‘têm nada com isso’; eles não podem ficar sem receber o que emprestaram. É por isso que não podemos deixar afastar por demais a política da economia. Assim, não fique desesperançoso, nobre leitor, pois as crises se tornarão mais comuns daqui pra frente. Tenha coragem de apoiar propostas políticas que coloquem especuladores e empresários da grande mídia no seu devido lugar: bem longe do conceito de verdade.

E, para que você entenda melhor, isso tudo começou a partir da década de 1970, onde capitalismo desvinculou-se da Indústria e tornou-se financeiro-especulativo. O esquema: matéria-prima, transformação, publicidade e consumo, tudo atrelado à força de trabalho, deixou de ser a essência. Sobre a produção, que se tornou cada vez mais secundária, na geração de riquezas, surgiu uma nuvem especulativa que se baseia na compra e venda de dívidas, produções futuras, financiamentos de longo prazo, valorização e desvalorização de moedas e/ou empresas; mais a proliferação de falsas notícias que criam falsas demandas e/ou crises inexistentes e que são recheadas de gênios matemáticos, e quase todos sem nenhuma ética, (entenda aí o papel de George Soros, Greenspan e derivados da vida) que recebem prêmios por profetizarem as oscilações e tendências de uma nuvem que não pode ser mais governada por Estados e que deve ser livre para a felicidade dos...especuladores.

Pra fechar, além dessa transformação, a da transferência da essência da produção para a bolha especulativa, os Estados foram proibidos de emprestar dinheiro de seus próprios Bancos Centrais. Empréstimos, só com FMI e/ou outras agências internacionais, gerenciadas por... especuladores.