O Papa
Francisco I, a cada declaração que faz, surpreende o mundo, sobretudo os
conservadores, a malta, a chamada corte e seus asseclas, que se apossaram da
Igreja e a transformaram num Estado totalitário fascista, obcecada pelo aborto,
homofóbica, preconceituosa para com a sexualidade e exclusivista. Leonardo Boff
chamou a isso de cristianismo pagão, porque remete aos primeiros papas que se
comportavam mais como imperadores romanos do que como líderes cristãos.
Foi com papas
dessa estirpe, entre eles Leão I, que a Igreja cresceu ao longo desses dois mil
anos: força, corrupção, segregação e intolerância foram impostas pelos líderes
católicos, ao longo da história do Ocidente. A prática institucional superou a
própria teórica cristã de amor ao próximo, solidariedade, aceitação do
livre-arbítrio nas questões morais, políticas e sobretudo, nos anseios de
liberdade.
Por isso,
quando Francisco I diz que “não há um Deus católico, mas sim um Deus universal,
ou quando afirma não ter poderes para julgar um gay que procura a Deus, e que
também as mães solteiras devem ser recebidas de braços abertos”, — até mesmo as
que fizeram aborto — algo de luminoso surge no fim desse túnel assombrado e
decadente que é o cristianismo institucional, na pós-modernidade.
De Leão I, no
século IV, a João Paulo II, os papas se comportaram como imperadores romanos, ansiosos
pelo poder, pela riqueza e praticantes de uma agenda que permitiu o surgimento
de ‘facções’ conservadoras e sádicas no seio do cristianismo. São grupos que se
especializaram em estimular o masoquismo em seus seguidores, enquanto cresciam
política e economicamente. Foi essa Igreja totalitária que permitiu o
surgimento da Opus Dei, da Renovação Carismática, a Sociedade São Piu X,
Fraternidade de Comunhão-Libertação, Legionários de Cristo, ou seja, um
amontoado de soldados conservadores e reacionários, fanáticos por temas que mal
conhecem e não dão um passo sem citar Satanás.
Assim, quando
Francisco I pergunta a um de seus seguranças, que está em pé a mais de seis
horas, se ele não tem lugar para se sentar, e vai ele próprio buscar uma
cadeira para um homem, um simples funcionário do Vaticano, até então invisível
pelos olhares ‘bondosos’ do cristianismo institucional, e o gesto ganha força nas
redes sociais e na própria imprensa tradicional, fica claro o sentimento de que
a Igreja vem errando em tempo integral, quando se trata de amar ao próximo. Há
mais cristianismo nesse gesto de Francisco I do que em todo pontificado de João
Paulo II. — Opinião desse pobre cronista.
Não é à toa
que muita gente já se pergunta, e também o faz aqui e acolá, se não vão matar
esse papa também, a exemplo do que aconteceu com João Paulo I? Sinceramente,
espero que não. Há vários tumores no seio da Igreja que precisam ser extirpados.
Não sei se apenas um pontificado seja o suficiente para vencê-los. Ou se quando
findada a ‘rádio-químio-terapia’ iniciada por Francisco I, algo de saudável
venha a sobrar dessa Igreja que conhecemos. O problema é se constatar que a
cura só poderá ser alcançada com o fim da Instituição. Toda ela, ao longo de todo esse tempo, nada
mais foi do que um imenso cancro e seu extermínio imediato, a única maneira de
libertar o Cristo da patente farisaica.
Os povos
pré-colombianos, que não eram cristãos, já diziam que na vida, às vezes, é
preciso destruir para se construir algo de novo sobre os escombros da
decadência, da demência, da corrupção, do sadismo, de tudo isso junto que vamos
criando, mas que temos de ter a sensibilidade pra jogar fora.
Que assim seja!
Avante, Francisco I.