quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A posse da própria História


Alguns baluartes da ‘direita’ ainda não conseguiram entender o mal que a ditadura militar causou ao Brasil. O primeiro equívoco é sobre a tutela política: nenhum poder externo pode intervir no debate político, nem no desenrolar das decisões populares. Cria-se, dessa forma, um poder paralelo, e todo poder paralelo é criminoso, governos eleitos democraticamente não necessitam de anistia, como ocorre, atualmente, com os gorilas assassinos da ditadura, soltos, leves e sem peso na consciência.
Toda ação tem uma reação. E os males da ditadura estão diante dos olhos daquele que, pelos menos, trafega na linha básica do senso crítico mínimo. Nos anos de chumbo não se podia discutir planejamento familiar, a ocupação do território nacional, o papel e o grau de liberdade das Universidades, a cultura era vista como subversão, a fome um desígnio de Deus e tudo mais que cheirasse a política social, como o atual Bolsa Família, era rotulado como ‘coisa de comunista’. Ledo e Ivo engano, os programas sociais estimulam a circulação do dinheiro e capitalismo como um todo.   
Aos cegos de plantão, guiados pelas lamparinas de Reinaldo Azevedo, Pondé, Magnoli, Merval Pereira, todas à base de um querosene fascista, e que ainda não conseguiriam entender que o golpe de 1964 se iniciou com um profundo processo de corrupção, é tempo para abrir as portas de sua mente e permitir que a inteligência tome um chá em sua sala de estar, para que você entenda a própria História. Entenda: a visão crítica é um elemento de libertação poderoso na vida dos indivíduos. Diga-se de passagem, este é um pensamento de esquerda.  
Empresários de SP, segundo Egydio Martins, ex-governador de SP, em depoimento à Comissão da Verdade, ‘contrataram’ grande parte dos coronéis do exército para que derrubassem Jango, em 1964; tinham medo de uma guinada comunista. Como se sabe, os militares não se contentaram somente com a derrubada de Jango, mas sim com a tomada à força do poder e fim de papo. E até aqueles que os contrataram tomaram pauladas. Assim, quando o ranço conservador midiático atual grita que estamos a caminho de Cuba, porque estamos recebendo médicos cubanos do programa Mais Médicos, vivemos o mesmo script de 1964, mas com outros personagens.
Sim, o pensamento de ‘direita’ é assexuado e flerta com o masoquismo. Acha que os indivíduos sempre necessitam de um poder ‘externo’ a ele, a ponto de lhe impor o que deve dizer, escrever, votar e rezar. A característica da direita é confundir o Estado com Deus. Como elemento da esquerda, acho que o Estado, historicamente, deve se moldar ao comportamento antropológico dos indivíduos, aquilo que expressamos através da cultura.
‘Culturalmente’ não queremos a fome, o desemprego, a violência, a corrupção (muito pior nos governos de direita); queremos arte, tempo livre para lazer, debate político, liberdade de expressão, mas sem monopólio empresarial midiático, e um sistema educacional que estimule a visão crítica dos indivíduos.
Em 1962, o jornal O Globo, da fundação Roberto Marinho, trouxe a seguinte manchete: 13° salário pode ser desastroso para economia. O que você acha? O 13° foi desastroso pra nós, como sociedade? Se dependesse dos Marinhos ele nunca se tornaria lei, pois era ‘coisa de comunista’.  E tudo se repete em 2003, quando o então presidente Lula aumentou significativamente o programa Bolsa família, a voz geral do fascismo de plantão era que, em breve, o Brasil se tornaria um país de vagabundos. 2014 e temos o mais baixo índice de desemprego. 
Entenda: se você acredita na Globo, na Veja, nos debates da Globo News, da Folha de SP, no Joaquim Barbosa, é mais do que claro o sintoma: você é um forte candidato ao Oscar ‘pelo conjunto da idiotice que compõe sua visão dos fatos’. É uma ‘nova velha’ categoria de Hollywood.