quarta-feira, 8 de julho de 2015

Circus Esquizofrenóide


"...como um rio que não conhece sua fonte,
nem sua foz, mas que 'cavuca' as margens
de terra por todos os lados". Deleuze


“Precisamos da arte para dar sentido às nossas vidas, pois nossa visão intelectual do mundo é superficial”. Com essa frase o bom e velho Nietzsche, como se fosse um mestre de cerimônias circense, ou tal como um psiquiatra que estudou Jung, buscou maneiras de aliviar a condição humana da apresentação de si mesma para os próprios olhos. Melhor que esses ‘despudoramentos’, esse striep-tease humano estético seja feito pela arte. Fossem feitos por outras esferas, a morte pela decepção seria uma catástrofe coletiva que nos levaria a uma catarse tétrica: todos mortos diante de todos nós mortos. Olhos opacos, sangue inerte, azêmulas binárias: republicanos ou democratas? E mais nada.  
É só através da arte que poderemos escapar da esquizofrenia do capitalismo. Giles Deleuze, a grosso modo, disse que a sociedade produz em massa a subjetividade que usamos para formar os ‘indivíduos’ que acreditamos ser. Padrões, dispositivos, referências históricas são avalanches de significados que brotam dos desejos da máquina de pensamento coletivo e que são degustados numa missa economicista, onde as hóstias são os significantes (palavras). Somos sempre agenciados, moldados pela subjetividade da coletividade. Esperneamos através da política e só podemos nos libertar pela arte. (em tese)
A sociedade econômica produz, freneticamente, um dos conjuntos de subjetividades que nos agencia em moto perpétuo. O chorume dessa subjetividade capitalista nos leva à uma paranoia, a uma esquizofrenia que tratamos com uma forte dose de um paliativo histórico: a árvore do pensamento filosófico tradicional. Tal árvore pode ser assim descrita: raiz = metafísica; tronco = física; o fruto e a copa = ética/moral. O poder estaria nas mãos daqueles que podem determinar o valor de Pi do fruto. Seus limites, suas dimensões, sua funcionabilidade, sua posse, etc.. - A imagem do pensamento humano não é uma árvore, mas sim um rizoma (raízes entrelaçadas no subsolo da Terra) em eterno cruzamento de linhas, perspectivas e links. 
Dessa forma, não há, não pode haver indivíduos nessa máquina que produz sujeitos (‘assujeitados’) em meio a um mar de subjetividades padronizadas. Só há o ‘ser’ ‘a-sujeitado’ que, num projeto-pedagógico-educacional-transversal-curricular-universal, é idealizado para um ‘devir’ em consonância com o estereótipo de cidadão-padrão que, com sua subjetividade molecular − cada um é uma molécula – assassina sem tréguas o indivíduo de seu DNA. Os parâmetros são frutos da esquizofrenia do capitalismo, que é fruto da subjetividade do pensamento humano, explicado, eis o paradoxo, por um pensamento racional humano desterritorializado: a árvore da filosofia tradicional.
Mas na arte podemos frear a esquizofrenia com a melancolia, com a depressão, com o sarcasmo, com a violência e até, às vezes, com o orgasmo da produção de uma obra. É a estética da beleza que nos leva aos ermos territórios dionisíacos, onde significados e significantes se emudecem e a música edifica-se com a própria vida. Mas há sempre o perigo que vem do Hades: a indústria cultural que multiplica o bálsamo Dionisíaco. Adorno não nos deixa esquecer por muito tempo a esquizofrenia subjetiva multiplicada pelo capitalismo e da máquina que se edifica por de trás do todo.
E no mais profundo dos fundos dos abismos precisamos nos inventar. Não pode haver outra maneira de sermos humanos, a não ser naquela em podemos nos inventar, sempre, sem a ditadura da subjetividade coletiva; sem o estrangulamento do desejo, que é o movimento próprio de cada um, em favor da busca do cidadão padrão reluzente na tela do mundo, o altar do deus esquizofrenia.
Procure respostas em Magritte. Terapias só podem levar você a uma consonância com a esquizofrenia que diz que todos nossos problemas, históricos e culturais, se resumem ao complexo de Édipo consumista.        

Magrittea impossível tentativa de pintar o corpo humano.
pois estamos condenados a nos inventar sempre,
 mesmo que abracemos a esquizofrenia da sociedade
em claro ato de má-fé. Mesmo ainda que sejamos, nós mesmos,
indivíduos livres, será uma invenção. 
Absurdo? Não, loucura racionalizada.