domingo, 8 de julho de 2012

O inverno paraguaio



Apoiaram o golpe: EUA, Igreja Católica, Mídia paraguaia, Mídia brasileira, Monsanto, os militares do Paraguai, o PSDB, o DEM e o PPS.

    
Não, não estou usando ‘paraguaio’ como adjetivo e fazendo uma crítica ao nosso inverno que se metamorfoseou em um quase verão. Refiro-me ao golpe de Estado, de 30 horas, que derrubou Lugo da presidência do Paraguai. País com uma ‘democracia’ embasada num sistema jurídico-legislativo a jato e mais rápido do que caixa eletrônico de banco para informar o saldo negativo, sem deixar o mínimo de direito à defesa. Lugo não teve direito a um advogado, não pode ler o processo que havia contra ele e não havia testemunhas inquiridas. Recebeu, ‘just-in-time’, um veredicto: você está fora! O vice assume! Assim desejou a elite paraguaia, assim foi aprovado pelos EUA.
O motivo alegado pelo Golpe (disfarçado com a palavra Impeachment) foi o confronto entre grandes proprietários de terras, ‘sem terras’ e a polícia paraguaia. Resultado: um massacre. Responsabilidade: Lugo; isso segundo o congresso paraguaio, com ratificação do poder judiciário.
No Paraguai é assim: confrontos campesinos, brigas de torcida de times de futebol, bate-bocas entre genros e sogras, engarrafamentos de trânsito, greves de estudantes e confrontos mais, é sempre culpa do presidente. É a mais profunda ‘racionalidade democrática’. Nem técnico de futebol cai tão rápido, aqui no Brasil e/ou no Paraguai mesmo. — Desculpem-me os paraguaios, mas assim me parece ser a Constituição deles: uma palhaçada. Qual Constituição, entre os países democráticos, permite a cassação de um Presidente da República em 30 horas? Claro, foi golpe! Caô!         
 Pela lógica da Constituição paraguaia, a matança ocorrida em Eldorado dos Carajás, PA, 1996, Brasil, Fernando Henrique Cardoso, então presidente, é quem deveria ter sido cassado e responsabilizado pelas mortes daqueles nossos patrícios camponeses. E não os policiais militares e seu comando, sobre quem, de fato, recaiu o processo, o posterior julgamento e só agora, 16 anos depois, a pena. 
Mas a hipocrisia maior, no caso Lugo, ainda estava por vir após o golpe: em tempos de celebração da Primavera Árabe, especialistas da mídia brasileira — Globo, Estadão, Veja, Folha de SP — se alinharam com o golpe do ‘inverno paraguaio’, o que é até natural, pois aqui no Brasil, historicamente, também apoiaram a Ditadura Militar: a mídia brasileira é igual mulher de malandro: adora um homem de farda; melhor ainda se ele estiver à serviço dos EUA.
O mesmo ocorre com os partidos conservadores paraguaios que derrubaram Lugo e que agora governam com apoio dos militares, das mídias paraguaia e brasileira: são fascinados pelo ‘domínio’ estadunidense. — Pra quem não sabe, os EUA queriam uma base militar na Argentina. Cristina Kirchner disse: “Não!”. Agora querem uma no Paraguai. O golpista Franco, — nome sugestivo para um ditador — dirá, provavelmente, “Sim, meu amo!”
Fico imaginado a dificuldade dos dois neurônios da atriz global Maitê Proença, e mais os bobos da corte que lhe seguem os passos, entenderem a importância geoestratégica da hidrelétrica de Belo Monte. Totalmente dentro de nosso território, com verba própria, com a possibilidade do país de ampliar a oferta de energia, fortalecimento do MERCOSUL e por conseqüência, a economia da região. É tudo que os EUA não querem. — Lembrando: a hidrelétrica de Itaipu também está em solo paraguaio, que passará a obedecer ao Tio Sam, que deseja que o Brasil não avance na industrialização. 
Historicamente, a elite norte-americana sempre olhou para o próprio sonho, o ‘American way of life’. Lutou político e economicamente para que isso ocorresse e é isso que se espera de uma elite. E, diga-se de passagem, nas democracias liberais, é até normal que as elites assumam os cargos de maiores importância que norteiam a política interna e externa. Com a evolução natural do processo democrático, que é o debate político e a alternância de poder, ocorre o avanço das questões sociais e das politicas públicas. Assim todos saem ganhando. O difícil é enfiar isso na cabeça das elites latino-americanas, que ao invés de cultivarem a prosperidade do espaço geográfico em que vivem, ao contrário, embalam o sonho estadunidense. Os vulgos traíras.
Fiquei envergonhado de ver nos jornais e revistas semanais, o Senador Álvaro Dias, PSDB do Paraná, em visita de solidariedade ao golpista Franco, em solo paraguaio. Patético. Mas esperar o quê dos tucanos, que também se comportam como ‘mulher de malandro’? Basta a presença de um Americano nas cercanias e vão logo tirando a roupa e gritando: “Privatiza-me! Privatiza-me!”
PS: ainda bem que temos Dilma, mestre em xadrez e com visual da Mônica, de Maurício de Souza. Que venha a Venezuela, com seus poços de petróleo para fortalecer o MERCOSUL! O Paraguai, um fazendão que vende muamba, temporariamente fica suspenso, até que se restabeleça a democracia. Mas com ares de primavera e sem Tio Sam nos bastidores.