O primeiro LP
do LED ZEPPELIN,1969, chegou às minhas mãos em 1980. Eu tinha 14 anos. Era uma
tarde luminosa. Vinis eram objetos distantes, como diamantes no fundo de uma
caverna. Em silêncio me dirigi para o toca discos. Levantei a tampa e encaixei
o buraco daquela bolacha negra no pequeno obelisco do meio do prato rodopiante,
ele girava à velocidade de 33 rotações por minuto. Conduzi o braço mecânico que
fazia a leitura dos sulcos com a ponta do dedo indicador da mão direita. A
agulha desceu suavemente no espaço inicial que antecede a primeira faixa de
todo vinil. Um giro em silêncio. Não consegui me afastar e sentei no chão
mesmo, bem à frente do aparelho. Então veio o primeiro acorde: guitarra, baixo
e bateria em sincronia.
Um som seco, único. Em seguida as baquetas tamborilando nos
pratos. De novo tudo junto. Seco, pesado e flutuante. Então veio a voz e a
música se expandiu. Olhei por alto, como se não houvesse paredes em meu quarto.
Era ritmo, peso e melodia. O som da guitarra trazia uma idéia clara de que
havia vida naqueles sulcos. Àquela altura eu sentia o cheiro da tarde, e a luz
invadiu meu quarto, um inexplicável estado de espírito que poderia ser chamado
de liberdade.
Eu nunca fui
de idealizar histórias quando a música rola. Nada de clips na cabeça. Me vejo
tocando com a banda, sou o quinto integrante de uma série de bandas mundo
afora. Sempre me orgulhei disso. Mas aquele som luminoso, cheio de virilidade,
já era velho. A luz que invadia meu quarto vinha da habilidade de 4 jovens
músicos.
Nos raios
daquela luz eu via a banda como num filme em 3D, minha imaginação era forte o
suficiente para criar esse efeito especial. Naquele dia ouvi a primeira faixa
várias vezes. Depois a segunda. Um dia uma amiga foi ouvir o disco comigo, essa
era a outra coisa legal do vinil, garotas iam até a casa da gente para ouvir as
novidades. Então ela perguntou, “Você não ouve as outras faixas?”. Claro, havia
ainda uma longa jornada musical no LP a ser descoberta. Hoje tenho a clara
convicção que os LPs são máquinas do tempo.
Quando ouvi o
LED ZEP pela primeira vez, em 1980, como já disse, o baterista estava próximo
da data de sua morte, ela ocorreria em setembro de 1980 e eu havia embarcado na
Nau Zeppeliniana em abril do mesmo ano. Tinha uma longa jornada por toda a
discografia da banda, mas no tempo real, ela já estava no último suspiro. Em
breve o altar estaria com a bateria vazia, e eu em plena preparação para voar
na mais significante trilha sonora que meus ouvidos já saborearam; em se
tratando do bom e velho rock. Ainda não terminei minha jornada na discografia
do Zep, porque não sei quantas vezes se é necessário ouvir cada disco, cada
nuance.
Em 2007 eles
se apresentaram com o filho do baterista ocupando o lugar vazio no altar. E
eles começaram com essa primeira música do primeiro disco: Good times, Bad
times. Então as minhas lembranças se juntaram ao presente e uma vertigem tomou
conta do espaço. O tempo, a vida e a música estão sempre num carrossel, por
isso podemos largar as rédeas e deixar o cavalo nos levar por essas terras
ermas, por essas harmonias de chumbo-flutuantes. Nós não corremos perigo.
13 julho....inicio do ano novo dos tripulantes da nave de chumbo