segunda-feira, 1 de abril de 2013

Esqueçam o que eu escrevi!


Tanks, Tom, pela indicação do link

A Academia Brasileira de Letras está prestes a se jogar na mais profunda mediocridade decadente. Quando foi ‘criada’, no século XIX, pelo mestre, Machado de Assis, tinha como finalidade aproximar os amantes das letras, da palavra impressa, da arte literária; pessoas que viviam isoladas, em seus quartos, bibliotecas, gabinetes, mas que tinham em comum, o livro.
A genialidade de Machado de Assis trouxe para academia, bem mais tarde, homens como Guimarães Rosa, gênio que ouviu no sertão, no grotão mais profundo, a alma brasileira sublimando e retorcendo a língua portuguesa, uma alquimia de pedras, águas, calangos e cachaça e mais sangue do sertão. Mais Brasil do ‘quê’ isso, livro nenhum pode ‘destendê’ no varal do senso comum.
Mas voltando à Academia de Letras, ela abrigou também outro mestre, Carlos Heitor Cony, que na opinião desse favelado escriba, nunca foi aplaudido o tanto quanto lhe é de direito. Sufocado pela mediocridade moderna, ‘amplamente’ mergulhada nos crepúsculos da vida, nos pálidos tons de cinza, nos artigos da Veja, nas novelas e BBB globais, Cony, hoje, está aprisionado numa coluna da Folha de SP. Pelos comentários que escrevem sobre seus textos, sinceramente, são ‘leitores’ dignos de pena. Ninguém mais entende a ironia, a fineza e o domínio dos Clássicos, mais as analogias e contextualizações criadas em relação a eles. Lamentável modernidade digitalizada, além de superficial, analfabeta de símbolos e metáforas.
Fico imaginando Cony ao lado de Ariano Suassuna, outro capturado pela ABL, que de tanto amar o Brasil, criou uma literatura que vai além do humano e roga aos céus que se compadeçam de nós e que, além disso, fundou a Pedra do Reino, de onde Dom Sebastião irá nascer quando voltar da batalha do Alcácer-Quibir e fundar um reino no sertão nordestino do Brasil. Suassuna e Cony: Deus e o Diabo na terra da Academia Brasileira de Letras.
Mas, nesses últimos anos, o Senhor dos Anéis saiu da tumba com seus Orcs e invadiu a ABL, e os dias de sol, a primavera, o ar puro e a água cristalina da literatura se perderam pra sempre. O primeiro espectro das trevas a invadir o Condado do Bruxo do Cosme Velho, foi Roberto Campos, (já desencarnado) ex-ministro do planejamento da ditadura militar, entusiasta do capitalismo, entreguista e nada poético.
O segundo espectro invasor da ABL se chama Sarney, que dispensa explicações históricas para seu pacto com as trevas. O terceiro ser do negrume a tomar uma cadeira imortal pra si, atende pelo nome de Merval Pereira, sabujo jornalista global, que até onde se sabe, nunca escreveu outra coisa senão seus patéticos artigos no O Globo, com a finalidade única de enaltecer os EUA e criticar governos populares da América do Sul. Deveria ser imortal na Academia de Washington.   
Até então, a sinfonia de morte da ABL parecia em seu limite. Mas quando algo pode piorar, se deteriorar ainda mais, eis o toque de requinte, a ‘estrelinha’ final que vai sobre o bolo de estrume: FHC é candidato a uma vaga na ABL.
Lamentável?! Sim, e muito. O princípio da ABL é o amor à escrita, seu sentido, significado e imortalidade, além da importância social que é o exercício de uma língua viva e autêntica. Um escritor escreve (pensa) porque acredita, primeiramnte, em sua escrita, — pois afinal quer ser lido — e pelo desejo de tornar o mundo um lugar melhor.  Mas ‘nosso’ sociólogo, aspirante à imortalidade, com seus artigos clonados da obra de Max Weber, dono da frase, “ESQUEÇAM O QUE EU ESCREVI!”, agora quer ser lido, entendido, repaginado, perdoado.
Claro, todo ser humano é digno de perdão, por isso posso perdoar FHC por ter chamado os aposentados do Brasil de vagabundos. Digo isso em função dos primeiros semestres de minha faculdade que foram pagos pelas aposentadorias da tia e da mãe, um lugar onde professores pediam para que lêssemos artigos de FHC, entre outras coisas. Ironia?!
Era um Brasil estranho: na tela da Globo ele chamava aposentados de vagabundos, mas eram eles que me pagavam o estudo — o desemprego da ‘era’ FHC era altíssimo e meus problemas não eram exclusivos, mas sim de toda uma geração. A 'renda' dos aposentados, à época, impulsionou o futuro de muito gente: filhos, sobrinhos, afilhados, netos e etc.   
Dessa forma, havia, em meus estudos, textos escritos por ele, FHC, e que deveriam fazer parte de minha formação profissional, mas que segundo o autor, deveríamos esquecer em benefício da tragédia que era o seu ‘governo’. Quanta 'coerência' num sociólogo/‘escritor’, aspirante à imortalidade. Digamos que ele deseja, no momento, tornar a mediocridade imortal. Será que tem perdão, em se tratando de Literatura?