terça-feira, 31 de julho de 2012

Fernando Sardo



Já me perguntaram a diferença básica entre cristianismo e o budismo, e eu nunca soube responder. Mas a música de Fernando Sardo me fez enxergar uma bifurcação em meio ao caminho: os que seguem o cristianismo desejam proibir todo impulso humano: castração, celibato, obediência a templos e líderes desumanizados pelos textos sagrados. Ascenderá aos céus se destruíres a tu mesmo como ser, pra isso está ali a cruz.

Já os budistas desejam transformar as pulsações e os desejos humanos em algo sagrado e sereno porque assim o são: humanos e passageiros, como a chuva de verão no bosque. Pela paixão, virá outra pessoa e te completará. Dos teus desejos, por vezes, um outro ser, que será o mesmo que você e assim, segue ad infinitum; mas você pode parar pra descansar à sombra dos salgueiros e deixar o mundo passar.


Enquanto a caravana passa e você a observa sob a sombra dos salgueiros, olhe pra trás e pergunte a si mesmo se desejarias percorrê-lo novamente, infinta vezes, até a exaustão da eternidade. Tome um chá com Nietzsche e Buda, sob a copa dos salgueiros, antes de seguir viagem. E ouça a música...         

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Salva-Peladas




Graças às bençãos do aquecimento global é bom por demais poder passar uns dias no litoral, em pleno inverno. Cerveja boa, camarão frito, batida de côco e caipirinhas mais; até aquele queijo vendido pelos ambulantes fica mais gostoso. Poder ficar na praia nos horários proibidos pelo Ministério da Saúde, das 10hs00 às 15hs00, sem filtro solar, é a glória maior pra nossas carcaças. E o mar fica mais azul do que de costume.
E foi em plena Praia Grande, Ubatuba, SP, numa caminhada de ponta a ponta, para recolhimento do colesterol a níveis toleráveis, que vislumbrei a decadência do Futebol brasileiro (claro, dá pra ver na TV também). A Pelada, nossa maneira mais importante de revelar craques, foi invadida por jogadores de Rugby, lutadores de Box, samurais, touros bravos, homens da idade da pedra e troglodismos mais.
Eu vi a bola na areia branca,  as pequenas traves de PVC e uma correria dos infernos: gente dando chutão, conclusões com o bico do dedão, voava areia e barro pra todo lado; o som dos corpos se chocando era pavoroso, além de muita gritaria; ou seja, um espetáculo de horror. Parecia que eu estava diante de um bando de argentinos germanizados — pra esse velho cronista, amante do futebol arte, argentinos e alemães jogam Rugby com os pés, e não futebol.
Voltei pra meu guarda-sol e não escondia minha decepção. A Pelada é um espetáculo circense. Em minha época, só participava dela os que jogavam do meio de campo pra frente e alguns poucos laterais. Zagueiros, volantes e goleiros ficavam na torcida. É que os passes eram à base de ‘cavadinhas’, pequenas trivelas, a famosa letra e mais o calcanhar; a idéia era usar o máximo possível de habilidade para deixar o companheiro quase que dentro do gol, dois tijolos a meio metro de distância um do outro, para que ele, com a chapa do pé, empurrasse a bola pro gol; o mais importante era como a bola havia chegado até ali e quanto de habilidade a jogada havia exigido.
Por isso pensei na função do Salva-Peladas. Seriam ex-jogadores de nossa Seleção, Campeões do Mundo, atacantes e meio-campistas ofensivos, contratados pelo Estado brasileiro, para nos períodos de férias, permanecerem de plantão em praias, campinhos, quadras de condomínios e praças. Quando diante de uma Pelada em que a bola estivesse sendo maltratada por demais, teriam o direito constitucional para intervir: “Ô Cabeça de Touro, ô Locomotiva, ô Foguetero e mais o Maguila ali, parem de jogar e sentem-se aqui!”. A primeira lição que dariam aos Minotauros das peladas era que, a bola, ontem, hoje e amanhã, será sempre redonda. Tem que ser tratada como uma mademoiselle.
Quem assistiu a Corinthians e Boca Jr, e comparou com Espanha e Itália, na final da Euro-Copa, percebeu a diferença de como a bola foi destratada na Libertadores da América, e acariciada no jogo de encerramento da Euro-Copa. Guardiola (ex-técnico do ‘Barça’, base da seleção espanhola) ensinou aos espanhóis que era preciso jogar como os brasileiros. Sim, o time da Espanha parece um aglomerado de peladeiros. Messi nem faz falta.
Já no Brasil de hoje, Tite e Felipão, no Corinthians e Palmeiras respectivamente, querem que joguemos como argentinos, temperados à germânia: um Deus-nos-livre à base de chutão pra frente que alguém lá frente faz um gol e a gente ganha a Libertadores e/ou a Copa do Brasil.  Sim, eu sou um purista. Ganhar é bom, bom demais. Mas tem que ser igual foi nas Copas de 1970 e 2002, que apesar do Felipão nessa última, os três Rs jogaram muito; era time peladeiro, por isso que outro peladeiro, Romário, de certa forma, não fez falta.
Ah! Quase que já ia me esquecendo: outra lição dos Salva-Peladas pros cabeças de bagre seria perguntar-lhes: “Ô rapaz, o que você tem sobre os ombros? Isso! Em cima dos ombros! Não! Aí não! Aí é o cotovelo! Isso, sobre o pescoço! Isso! Entendeu? É uma cabeça. Olha pra cima! É que antes da bola chegar em seus pés, você já deve saber pra quem vai passar”. Se essa molecada pudesse ver o Gerson jogar. Hum! Acho que é sonhar demais.                                               

terça-feira, 24 de julho de 2012

A queima do homem do deserto - Black Rock City



"O que você diria de ir com outras 50 mil pessoa para o meio do deserto assistir um boneco queimar? Parece programa de índio, mas não é.
Há 25 anos, o festival Burning Man (“homem queimando”, em português) rola anualmente no deserto Black Rock do estado americano de Nevada, embora as primeiras edições tenham acontecido em San Francisco, na Califórnia.
O evento dura uma semana e termina exatamente no Dia do Trabalho americano, celebrado na primeira segunda-feira do mês de setembro.
Durante a celebração, pessoas de todas as idades se reúnem para comemorar a expressão da cultura em todas as suas formas.
Além disso, queimar o grande boneco faz parte de toda celebração. Outras instalações também são queimadas, mas o ponto alto, mesmo é quando o Burning Man vira fogueira.
No começo, não havia regra nenhuma. O Burning Man era uma espécie de terra do "faça o que quiser". De uns tempos para cá, algumas regras foram impostas aos participantes - os chamados "Burners" (queimadores). Por exemplo: não é permitido o uso de dinheiro. A economia funciona na base do escambo. Se você quer alguma coisa de alguém, você tem que trocar por algo que você tem. Ou não. Porque a outra pessoa pode ser legal e, de repente, te dar o que você quer sem pedir nada em troca".
O símbolo do Burning Man é simples. São dois parênteses e, no meio deles, um apóstrofe.  )'(
Fonte: R7




  

segunda-feira, 23 de julho de 2012

José Saramago










"Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos os selvagens".

Chefe Seatle



quarta-feira, 18 de julho de 2012

Jon Lord - Deep Purple


Do pântano de chorume do ocidente brota a flor de lótus.
Um louvor à humanidade, uma declaração de amor à vida.
o coração deve ser um corcel lunático e desaforado
Narinas de dragão, ninfas de absinto (às vezes sou Tom Vital)

A morte é o espelho, todo dia somos um pouco menos daquilo que éramos

John Lord .................................................................

O Senhor é apenas um João, um Ari, um A&V, um Tom, um Sávio, um Alício, um Bruno....................

Sem um rock, uma cachaça, uma mina, um cigarro, uma canção, o quê seria de nós?

Jon Lord ( 1941    2012)


Carpe Diem 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Led Zeppelin: o dia do rock


13 sexta-feira, julho de 2012, dia do Rock.
Me perdoem porque, afinal, no dia do rock, Led Zep e rock formam um pleonasmo.






aumenta o som, meu velho!!!

domingo, 8 de julho de 2012

O inverno paraguaio



Apoiaram o golpe: EUA, Igreja Católica, Mídia paraguaia, Mídia brasileira, Monsanto, os militares do Paraguai, o PSDB, o DEM e o PPS.

    
Não, não estou usando ‘paraguaio’ como adjetivo e fazendo uma crítica ao nosso inverno que se metamorfoseou em um quase verão. Refiro-me ao golpe de Estado, de 30 horas, que derrubou Lugo da presidência do Paraguai. País com uma ‘democracia’ embasada num sistema jurídico-legislativo a jato e mais rápido do que caixa eletrônico de banco para informar o saldo negativo, sem deixar o mínimo de direito à defesa. Lugo não teve direito a um advogado, não pode ler o processo que havia contra ele e não havia testemunhas inquiridas. Recebeu, ‘just-in-time’, um veredicto: você está fora! O vice assume! Assim desejou a elite paraguaia, assim foi aprovado pelos EUA.
O motivo alegado pelo Golpe (disfarçado com a palavra Impeachment) foi o confronto entre grandes proprietários de terras, ‘sem terras’ e a polícia paraguaia. Resultado: um massacre. Responsabilidade: Lugo; isso segundo o congresso paraguaio, com ratificação do poder judiciário.
No Paraguai é assim: confrontos campesinos, brigas de torcida de times de futebol, bate-bocas entre genros e sogras, engarrafamentos de trânsito, greves de estudantes e confrontos mais, é sempre culpa do presidente. É a mais profunda ‘racionalidade democrática’. Nem técnico de futebol cai tão rápido, aqui no Brasil e/ou no Paraguai mesmo. — Desculpem-me os paraguaios, mas assim me parece ser a Constituição deles: uma palhaçada. Qual Constituição, entre os países democráticos, permite a cassação de um Presidente da República em 30 horas? Claro, foi golpe! Caô!         
 Pela lógica da Constituição paraguaia, a matança ocorrida em Eldorado dos Carajás, PA, 1996, Brasil, Fernando Henrique Cardoso, então presidente, é quem deveria ter sido cassado e responsabilizado pelas mortes daqueles nossos patrícios camponeses. E não os policiais militares e seu comando, sobre quem, de fato, recaiu o processo, o posterior julgamento e só agora, 16 anos depois, a pena. 
Mas a hipocrisia maior, no caso Lugo, ainda estava por vir após o golpe: em tempos de celebração da Primavera Árabe, especialistas da mídia brasileira — Globo, Estadão, Veja, Folha de SP — se alinharam com o golpe do ‘inverno paraguaio’, o que é até natural, pois aqui no Brasil, historicamente, também apoiaram a Ditadura Militar: a mídia brasileira é igual mulher de malandro: adora um homem de farda; melhor ainda se ele estiver à serviço dos EUA.
O mesmo ocorre com os partidos conservadores paraguaios que derrubaram Lugo e que agora governam com apoio dos militares, das mídias paraguaia e brasileira: são fascinados pelo ‘domínio’ estadunidense. — Pra quem não sabe, os EUA queriam uma base militar na Argentina. Cristina Kirchner disse: “Não!”. Agora querem uma no Paraguai. O golpista Franco, — nome sugestivo para um ditador — dirá, provavelmente, “Sim, meu amo!”
Fico imaginado a dificuldade dos dois neurônios da atriz global Maitê Proença, e mais os bobos da corte que lhe seguem os passos, entenderem a importância geoestratégica da hidrelétrica de Belo Monte. Totalmente dentro de nosso território, com verba própria, com a possibilidade do país de ampliar a oferta de energia, fortalecimento do MERCOSUL e por conseqüência, a economia da região. É tudo que os EUA não querem. — Lembrando: a hidrelétrica de Itaipu também está em solo paraguaio, que passará a obedecer ao Tio Sam, que deseja que o Brasil não avance na industrialização. 
Historicamente, a elite norte-americana sempre olhou para o próprio sonho, o ‘American way of life’. Lutou político e economicamente para que isso ocorresse e é isso que se espera de uma elite. E, diga-se de passagem, nas democracias liberais, é até normal que as elites assumam os cargos de maiores importância que norteiam a política interna e externa. Com a evolução natural do processo democrático, que é o debate político e a alternância de poder, ocorre o avanço das questões sociais e das politicas públicas. Assim todos saem ganhando. O difícil é enfiar isso na cabeça das elites latino-americanas, que ao invés de cultivarem a prosperidade do espaço geográfico em que vivem, ao contrário, embalam o sonho estadunidense. Os vulgos traíras.
Fiquei envergonhado de ver nos jornais e revistas semanais, o Senador Álvaro Dias, PSDB do Paraná, em visita de solidariedade ao golpista Franco, em solo paraguaio. Patético. Mas esperar o quê dos tucanos, que também se comportam como ‘mulher de malandro’? Basta a presença de um Americano nas cercanias e vão logo tirando a roupa e gritando: “Privatiza-me! Privatiza-me!”
PS: ainda bem que temos Dilma, mestre em xadrez e com visual da Mônica, de Maurício de Souza. Que venha a Venezuela, com seus poços de petróleo para fortalecer o MERCOSUL! O Paraguai, um fazendão que vende muamba, temporariamente fica suspenso, até que se restabeleça a democracia. Mas com ares de primavera e sem Tio Sam nos bastidores.                                        

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Montaigne






O meu bom e velho amigo do Rio Grande do Norte, Alexandre A&V, publicou em seu blog sobre Diógenes, o cão, pai dos cínicos da Grécia antiga. Filósofo que se isolou do mundo numa barrica e ainda era performático. Certa vez soltou um galo depenado no meio de uma aula de Platão e disse aos alunos, que arregalaram os olhos diante daquela heresia master: “Eis o homem de Platão”. (somente na Idade Média a Igreja conseguiu decifrar o que seria o Homem-galo-depenado - Tom, perdoe o chiste! - e passou a praticá-lo despudoradamente)  
..............................................

Mas de Diógenes fui a Montaigne, no século XVI, que se isolou do mundo em seu sótão. Era um grande proprietário de terras da França, e vivia numa propriedade imensa (um feudo). Porém, sua mulher, descendente da alta estirpe francesa, era a personificação da vulgaridade que devorava rapazes e dinheiro com voracidade insaciável. Ao grande filósofo, com profunda elegância, abriram-se as portas da sabedoria e do amor sincero e profundo de uma das jovens serviçais de suas glebas. A menina abandonou os serviços domésticos da Casa de Montaigne e tornou-se a mão que escrevia os textos ditados pelo mestre, em devaneios e especulações sobre as feridas e ilusões da Condição Humana. Seus famosos Ensaios.
Alheio e estrangeiro em suas próprias terras, Montaigne viveu o amor entre o homem maduro e a jovem inteligente, que era capaz de enxergar bem além dos anseios femininos da época: tecidos caros e jóias sobre um corpo que quase não via água, à caça de homens ricos e e/ou proprietários de folgada renda.
Do alto de seu sótão, em caminhadas circulares ao redor da mesa em que sua jovem amada anotava suas pérolas, Montaigne escreveu para o futuro; suas idéias eram avançadas demais para um mundo ainda à base de homens-galos-depenados. A arrogância, a mediocridade, a ignorância, a brutalidade a falsidade e etc. eram desnudadas sob a fantasia de seus portadores: papas, reis, banqueiros, ‘artistas’, ‘filósofos’, nobres e derivados das diversas pocilgas 'lustradas e institucionalizadas' da época.
Uma das imagens mais lindas da história do velho mestre, é a dos passeios que fazia com sua jovem amante, de mãos dadas, no contra-tempo do mundo, nas tardes de domingo, no meio das manhãs dos dias úteis e à hora do crepúsculo; era sempre quando a massa estava absorta em suas tarefas ‘imprescindíveis’, a ponto de lhe oferecer altas doses de sossego e liberdade.
Quando ‘li’ em Giles Deleuze, num de seus textos mirabolantes, uma análise sobre o isolamento dos filósofos latinos, em relação ao ‘chão’ (dinâmica do espaço geográfico), vislumbrei Montaigne de imediato. A metáfora me fez denotar Montaigne e também a Diógenes; mais aquele do que este, diga-se de passagem. Para Deleuze, os filósofos latinos são como cometas, brilham fulgurosamente nos céus, às vezes até mudam os rumos da história, mas não têm os pés devidamente plantados na Terra.
Em termos ainda mais ‘deleuzianos’: não se ‘Territorializam’, ao contrário, estão sempre des-territorializados, o oposto da tradição dos filósofos da escola anglo-saxônica: firmes com os pés no chão, a ponto de desenvolverem a Revolução Industrial. — A posterirori, não sei se isso se limita apenas ao mero duelo de empíricos X racionalistas (?).
E assim cabe a nós, pobres mortais, seguirmos em nossa inveja admiradora a ascensão de Montaigne ao seu sótão, gesto que lhe permitiu a produção dos Ensaios e a companhia de um amor jovem e verdadeiro. Pensar, amar, passear, olhar pras cores do mundo e compromisso zero com a ‘realidade’ criada pelo penamento galináceo/católico do século XVI, intoxicado de Platão e ‘augustianismos-tomasianos’ floreados à ‘neon’.