quarta-feira, 11 de maio de 2016

O tempo já falava disso mesmo antes de tudo começar


nós tínhamos espinhas no rosto e não usávamos óculos. Era no ano de 1979. Nos sentamos ao redor do aparelho de som e fomos apreciar aquilo que a moçada gostava de ouvir, aquilo que 'era muito loko', o canto xamânico moderno, a magia que nos levaria ao Olimpo do som. E se fizéssemos parte do clube, fosse esse o nosso destino, estaríamos, em breve, diante de Zeus (ou Zep, para os mais íntimos). Assim foi, naquela tarde ensolarada e estridente, que nossa iniciação na audição daquilo que a humanidade havia feito de mais nobre se deu. Quem nos pegou pela mão foi o mensageiro dos deuses, Mercury, ou Hermes, um semi-deus efeminado, perdido entre o céu e a terra. Foi com ele e sua corte de músicos primorosos que descobrimos a trilha mágica do paraíso. Depois foi só apertar as mãos dos deuses: Floyd, Stones, Beatles, Dylan, Hendrix, Yes, Who, - Crosby, Still e Nash & Young-, Cream e outros, até que, não mais que de repente, chegamos ao alto do Monte Olimpo e nos deparamos com O Zep, o Zeus sonoro. 

O zep nos levou pra lugares ermos. Nos ensinou que a estética é relativa, desde que o bom gosto e a sofisticação sejam presentes. Uma maneira de nos darmos as mãos, porque ouvir é aquilo que mais fala alto em nossa alma. Depois seríamos apresentados à melancolia, Nick Drake apareceu quando o sol estava alto. O dia já havia passado e por muitas horas. A morte era a única soberana nesse mundo de degredados mortais que aspiravam por um voo no zeppelin dourado e sobre o Valhala..          


...a vida, dessa forma, posso dizer, passou e não foi de todo ruim. Hoje, eu e os amigos da época, já estamos mortos. Morrer aos 50 anos é um bom sinal, sinal de inteligência. O que vale é o amor que você leva, as histórias que podemos contar e as cachaças e os cigarros que fumamos - patrocínio Souza Paiol, de Itamonte, MG. Mas foi através de uma banda humana, demasiadamente humana, escrachada pela crítica, que conhecemos a arte e nunca mais deixamos de ouvir e sentir, por todo o sempre, aquilo que já ecoava silenciosamente dentro de nós. Entendemos, agradecidos, que só precisávamos daqueles que iriam cantar e tocar por nós. Assim foi, assim é, e assim será. Amém.