O papa Francisco
I saiu com esta, dias desses, antes de vir ao Brasil: a adoração ao dinheiro
deve cessar e o mais rápido possível. Logo a Igreja, que defendeu o capitalismo
ao longo da História, com todo o mal que ele causou, — e causa —, aos homens de
boa vontade, pelo simples contato com o pensamento especulativo, a ponto de tornarem-se
porcos e/ou cães de guerra, vem com uma declaração dessas. Se for verdade, que
bom! Seria a glória maior de El-Shadai.
Confesso que fiquei
feliz por tal declaração. Pensei nas ordens religiosas que vivem da educação.
Após tal declaração do chefe, imediatamente, pensei comigo, podiam iniciar uma
campanha prática contra a adoração ao dinheiro. 1º passo: abaixar as
mensalidades das escolas, faculdades, cursos de pós, mestrados, doutorados. 2º
passo: aumentar o salário dos pobres professores; depois liberação de bolsas de
estudo a favelados, pequenos ladrões e crianças órfãs.
As ordens e
congregações que não lidam com educação, ao invés de pedir dinheiro pela
televisão, iriam oferecê-lo aos endividados. Depois doariam as terras
adquiridas para pequenos produtores. Já as jóias que ganham dos fiéis, seriam
doadas para o tratamento dos infelizes drogados, para que possam ver a luz da
vida. Tenho certeza que assim, o mundo se tornaria mais ‘carismático’ e
fraterno.
Aqueles que
vivem e freqüentam tais congregações, em mutirões em nome de Cristo, deveriam
limpar escolas e hospitais públicos, lavar os pés dos habitantes da
cracolândia, abraçar os desgraçados que fedem e não somente deveriam dar-lhes o
que comer, mas também ouvir suas histórias, apesar de serem histórias que não
lhes dizem respeito. — E a bem da verdade, são histórias chatas e
cotidianamente ordinárias. Fingir que elas nos tocam é hipocrisia.
Sinto muito,
mas os cristãos ainda estão por vir ao mundo. O que existe é um rebanho alienado,
com a idéia fixa de afastar o inferno após a morte através de orações (mantras)
repetidas a exaustão. Um misto de lavagem cerebral com pitadas de hipocrisia:
sim, eu estou a julgar! Quem não faz isso: julgar?!
Mas essa fusão
de ideologias tão incompatíveis, capitalismo e cristianismo, dentro de um pobre
cérebro, transforma o aspirante a cristão num pseudo-cristão. A corda arrebenta,
sempre, do lado mais fraco. Na hora de mudar o mundo, os donos do poder, com a
mitra na cabeça, batina e anéis sagrados nos dedos, repetem o credo da
submissão: “...é preciso bom senso!”. Se Cristo tivesse tido bom senso contra
os poderosos, não haveria cristianismo.
Os cristãos
lutam contra o próprio cristianismo e enriquecem os sepulcros caiados, as
igrejas e ordens, que arrecadam fortunas e são usadas sabe-se lá onde, para
proveito sabe-se lá de quem. Congregações e Ordens vivem do medo, da agonia que
provém do mundo capitalista. Os indivíduos comuns sofrem porque têm medo de
perder o emprego, têm medo dos filhos ficarem sem estudo, sem trabalho, sem
alimento e sem chances de constituírem famílias. A carência material transforma
os indivíduos em escravos espirituais.
Atormentados e
paranóicos, esses falsos cristãos encontram analgésicos e ansiolíticos nos
discursos religiosos com a finalidade de manutenção da ordem capitalista, que é
quem de fato gera o sofrimento. Mas tal sofrimento é atribuído à vontade de
Deus pelos seguidores do cristianismo mercantil. Ganha-se dinheiro com a agonia
de terceiros. Dessa forma, o capitalismo é mais sagrado para as Instituições
religiosas do que o próprio Cristo. Sem sofrimento não há arrependimento, não
há culpa, não há genuflexão. E quem causa o sofrimento é o capitalismo.
Diabólico, não?!
Por isso a
Igreja sempre lutou contra tudo que pudesse soar próximo às políticas sociais.
Ao se eliminar a fome, o desemprego, o medo de se perder o emprego, a culpa por
ter falhado economicamente, as ovelhas se tornam aves livres e voam pra longe,
sem cabresto e sem líderes.
Na Idade Média
o inferno atormentava a alma humana. Com medo, a humanidade rastejava diante da
Igreja e doava-lhe os bens, que se transformavam em tickets pro céu. Hoje, o
inferno foi substituído pelo capitalismo, e a humanidade, com medo, continua
rastejando e doando o suor de seu rosto àqueles que atribuem a Deus o motivo do
sofrimento perene que nos cerca, mas que é provindo do capitalismo.
Será que não há ninguém no cristianismo com um mínimo de ética para propor um rompimento definitivo entre o cristianismo e o capitalismo? Acho que não, é preciso ter bom senso e deixar as coisas como estão. Onde está a Teologia da Libertação?
Será que não há ninguém no cristianismo com um mínimo de ética para propor um rompimento definitivo entre o cristianismo e o capitalismo? Acho que não, é preciso ter bom senso e deixar as coisas como estão. Onde está a Teologia da Libertação?
Texto dedicado a Leonardo Boff