segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Darwin



Não sei se é possível quantificar dívidas de conhecimento; não, eu não quero transformar o conhecimento em moeda é só uma figura de linguagem, mas imagino como poderei, um dia, agradecer a Darwin ao que ele fez pela humanidade.

Eu nunca li o livro, A Origem das Espécies, mas ele é parte integrante do que eu sou hoje. Um livro que se transformou em milhões de livros didáticos de biologia e que ajudaram na formação do entendimento que se tem do mundo. Sempre que abria o meu livro, no antigo ginásio ou no antigo colegial, sempre aparecia o seu rosto num verbete, aquela barba gigantesca, aquele olhar triste, querendo dizer, " ...vocês ainda vivem a fantasia criacionista?", e o dizia sem ser panfletário, de maneira serena, bem diferente dos filósofos, donos das verdades. Darwin, um tanto cabisbaixo, queria deixar claro que dizia respeito a ele também. Suas descobertas o incomodavam, e muito; parecia dizer: "...isso é difícil pra mim, tanto quanto o é para você; sou um habitante do século XIX, que descobriu 'o mundo' apenas com a observação, com a especulação e alguns poucos fosséis, coisas que já estavam nos olhos de todos, há milhões de anos, mas eu enxerguei, então sofri por ter o dom de ver em meio aos aprisionados da Caverna".

Assisti no fim de semana ao filme, "Criação" e fiquei, de certa forma, emotivo, como há muito não ficava diante de um filme novo. A história se baseia muito mais nos dilemas pessoais de Darwin, do que na revelação da teoria da seleção das espécies e seu impacto no mundo. Em suma, o espectador já deve saber de antemão que nós viemos dos primatas, e não de Adão e Eva. (é o mínimo que se pede).

Seus dilemas: - a morte precoce da filha mais velha; - o abalo de sua fé cristã; - a tristeza de ver sua mulher sofrer, porque tais idéias o levariam ao inferno, impedindo assim que os dois continuassem a história de amor que esperavam alcançar na eternidade, (em minha opinião, a parte mais poética do filme);

Um filme, por mais biográfico que possa ser, não pode ser entendido literalmente, mas o significado é real. por duas vezes um frio cortou minha espinha:

1- Darwin pede para a esposa ler o livro já acabado, ela, e mais ninguém, deveria decidir por sua publicação ou não; e por amor, não pela ciência, ela decide pela publicação; assim, após sua morte, iria para o mesmo lugar que o marido fosse envidado. (na boa, sou chorão, mas nessa hora o amor de uma mulher foi maior que o conceito de Deus enraizado em seu modo de viver, e do que a ciência que nascia. Ela deixou claro que estaria com ele para o quê desse e viesse).

2- Darwin coloca a Origem das Espécies, escrito à mão, na traseira de uma carroça, o correio da época. O livro vai embrulhado e amarrado com barbante, com uma carta anexada, rumo a editora.

ou seja, por dois momentos o livro, que acho ser um dos mais importantes da história da humanidade, expõe-se de maneira tão frágil, que me pergunto, como foi que não se tornou presa em meio a tantos 'cassadores&caçadores' da selva social?

num paradoxo, parece coisa do destino...coincidências favoráveis, que Einstein diria que: 'são jogos de dados que não enxergamos'...ou, que o mundo é movido por misteriosos motivos, as linhas tortas.

O espantoso é que a publicação do livro, A origem das Espécies, beirou o milagre. Paradoxo!