sábado, 31 de agosto de 2013

Madredeus - Guitarra - num filme de Win Wenders, O céu de Lisboa


...e enfim, as províncias ibéricas de meu corpo,
em consonância ao mar que sussurra ao casco da barca no rumor das ondas,
à voz pura de Tereza Salgueiro, ao monobloco dos Açores,
onde eu, como fastasma, viverei de pés molhados,
olhando o sol dos mortais, sinalizarei aos argonutas,
com o fogo nos galhos dos cedros, que 
ali está o caminhos para as índias...

...de violão em punho, direi:

'eu tive o meu caixão naquela forma bizarra: a forma de um coração,
 a forma de uma guitarra...
...sinto mais suave a vida, quando tu,
guitarra,
choras comigo'.    

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Alma vagabunda



Só ‘vai pro céu’ quem for capaz de viver em paz consigo mesmo. Aquele capaz de olhar a mudança lenta e constante das estações. Quantos pássaros freqüentam a árvore de seu quintal? Saber isso é um pré-requisito imprescindível para se alcançar o paraíso. Há outras coisas que precisamos aprender para encontrar a paz: quantas ondas batem diariamente nas areias das praias de Ubatuba?  Ou ainda, sentir o cheiro da chuva, que é terra molhada, um momento antes de saborear um gole de vinho português.
O caminho mais longo para o céu é através das Instituições religiosas, que são apaixonadas pelo sofrimento. Teólogos, by Paraguai, dizem de boca cheia que o termo, Religião, vem do latim e quer dizer religare. Ou seja, se re-ligar a algo do qual você já fez parte. Todos, dessa forma, têm um desejo ‘inconsciente’ de retornar pro lugar de origem. Mas do que adianta voltar ao seio da luz com a alma atormentada pelas urgências da vida banal e patética que vivemos? Esse papo de encontrar o ser perfeito, puro e eterno, é caô. Como alguém que ainda não se encontrou consigo mesmo, e nem com os que lhe estão próximos, vai alcançar a perfeição? Parece pura pretensão da bolha de sabão que deseja ser águia.
Quando se pratica ‘o fazer nada o dia inteiro’, nos deparamos com alguém que tem a alma vagabunda. Somente aqueles que gostam suficientemente de si mesmos podem ficar à toa. E não significa que são uns à-toa. Quando passam a gostar de si mesmos, conseqüentemente, se apaixonam pelos outros. Tudo fica mais fácil: se enamorar, partilhar pequenas delícias, cultivar leves indecências, amar palavras secretas, usurpar partes de poemas para se roubar beijos, possuir pedaços de outras almas e finalmente, tornar-se um polígamo virtual.
Vinícius de Morais era um polígamo real. Amava a música, as mulheres, o uísque, a banheira em que compunha canções, as amizades —, que em nossas vidas são como as monções de inverno e verão — e, acima de tudo, amava ficar à toa, olhando pro mar e tentando fugir o máximo possível da morte. A felicidade de poder encontrar a si mesmo, pelos caminhos da vida, desperta um profundo anseio de viver pra sempre.
Somos muitos dentro de uma casca perecível. ‘Legiões’ representando papéis teatrais escritos por mãos nem sempre generosas. Culpamos o destino quando a tragédia nos envolve em situações asfixiantes. Mas é só falta de coragem de expulsar, de dentro de nós, esse espectro de personalidades que nos torna ‘um Legião’. O fascista, o advogado, o capitalista, o religioso, o mestre, o comerciante, o vaidoso, o atleta, o faxineiro, todos eles, sem exceção, devem ser expulsos de nós. Que sejam abismados nas nuvens e se tornem chuva sobre o sertão.
Quem deve sobrar? Você deve estar perguntando. Não sei, se desse a resposta, assim, sem pensar ou sentir, não seria autêntico, mas algo fabricado por mim para parecer verdadeiro aos seus olhos. Quando estou a fazer nada, penso em Saramago e nos palhaços. Devo expulsá-los de mim? Para me encontrar comigo mesmo tenho que ser justo e imparcial para a expulsão de todos que compõem minha alma. Mas como suportar a ausência de palhaços nos salões de bailes? Com quem irei conversar, quando Saramago deixar de ser parte de mim? Que palavras irei usar para explicar o mundo a partir de então?  Mas pra que explicar o mundo? 
Só sei que nada quero saber, — bem diferente da mentira dita por Sócrates para parecer humilde e disfarçar sua sagaz e vaidosa inteligência. Voltando ao tema: vou publicar um decreto: as portas de minha mente estão abertas, que todos partam em paz. Você não pode ver, mas assim que decretei isso, enquanto escrevia essas pobres palavras, apareceu diante de mim uma ‘escada para o céu’. Tudo bem, você não pode vê-la, então ouça. É a quarta música do quarto LP do Led Zeppelin. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Maciel Cisterna



Maciel tinha a cabeça no formato de uma cisterna, diziam que sabia de tudo. Devorava qualquer livro, ou qualquer informação de maneira rápida, e que em poucos minutos era capaz de discursar sobre o assunto absorvido e sem o uso dos dentes, ou da necessária digestão metabólica cerebral. Dava luz imediata a ensaios, que para freqüentadores de salões acadêmicos, medianos em sua formação, sugeriam pérolas da originalidade. Mas que na verdade, desmascarado o vocabulário pomposo e rococó nas entranhas de tais ensaios, emergiam meros aglomerados de citações de outros autores. Era seu maior segredo, o fato de não ter uma voz original.
Apesar de lecionar Lógica, seus alunos, durante suas exibições retóricas e digressões temperadas por UFOs, espiritismo, xamanismo e ‘filosofismos’, nunca conseguiram desenvolver uma linha de raciocínio que os libertasse do labirinto da ignorância. Quanto mais aulas, mais trevas e mais citações de um mundo distante e, inevitavelmente, menos lógica. Aos pobres alunos só restava uma arma: afagar o ego da Hidra das citações vaidosas para que ela não os castigasse na nota. Logo, em termos lógicos, só sobrava aos alunos a manipulação. 
Mas um dia a casa caiu. Uma bela noite um aluno lhe perguntou o que significavam os versos: “...homens vestidos como nuvens, ajoelhados diante de redes crepusculares...”, de Dylan Thomas. Abatido, sem voz, sem capacidade de entender uma simples metáfora que indicava o fim comum da vida de velhos pescadores do país de Gales, terra de Dylan Thomas, e também pelo fato de nunca ter lido nada a respeito do poeta, Cisterna extraiu do limbo a frase que sempre condenou em seus colegas, “...vou pesquisar, depois te explico!”. Foi o silêncio mais constrangedor já ouvido naquela Universidade.
Pode parecer estranho, caro leitor, um aluno perguntar ao professor de Lógica sobre uma questão de Literatura, mas Cisterna dizia-se a última coca-cola do deserto, e que sabia de tudo e lia sobre todos os assuntos. Era um buraco negro capaz de absorver qualquer livro e expelir a luz de suas páginas em forma de críticas, ensaios, artigos e discursos mais.
Pobre Maciel Cisterna, dizem que até hoje não aprendeu que o significado de ser sábio corresponde ao gesto de saborear, sorver lentamente os saberes do mundo. E ainda: que o oposto disso, segundo o bom e velho Nietzsche, a quem agradeço as lições de vida, é a gula suína, que não mastiga o que come, e simplesmente engole sem sentir o sabor de coisa alguma.
Se engana quem pensa que tive aulas com o Cisterna, quando passei por essa Universidade. Me formei em Assistência Social, um curso que não tinha espaço para um professor de Lógica. Na realidade, eu ouvia conversas nos balcões dos botequins que rodeavam o prédio da Universidade. Muita piada, muita maldade, muita invencionice.
A última que me chegou aos ouvidos, quando já estava formado, parecia um castigo do Olímpo. Sua noiva, cansada de esperar por seus doutorados, o trocou por um pé-de-valsa, um mestre de salão de bailes de forró; uma alma simples, que nem diploma ainda conquistou, mas que é gentil e doce a ponto de roubar o coração de damas que vivem trancafiadas em castelos acadêmicos.
Espero que hoje esteja lendo Dylan Thomas e entendendo por si só e que ele não se confunda quando souber que o poeta Gales disse que uma cerveja gelada, no primeiro gole, é Deus engarrafado.                                                                 

domingo, 18 de agosto de 2013

Buzz Lightyear



Infelizmente nossa ‘era’ confunde a figura do filósofo com a do Conselheiro Acácio, um personagem da obra, O primo Basílio, de Eça de Queirós. Segundo a Wikipédia: ...esta figura fictícia tornou-se célebre como representação da convencionalidade e mediocridades dos políticos, burocratas e filósofos dos finais do séc. XIX, sendo até à atualidade utilizada para designar a pompa balofa e a postura de pseudo-intelectualidade utilizada por muitas das figuras públicas. Deu origem ao termo ‘acaciano’, designação utilizada para tais figuras ou para os seus ditos.
A filosofia acaciana é habitada por uma série de papagaios hermeneutas, capazes de citações sobre o quê disseram Sócrates, Platão e Aristóteles, — santíssima trindade da filosofia convencional —, sobre fatos ocorridos aos filósofos, em geral, e o que disseram sobre eles, alguns outros autores de textos sobre filosofia. É como estar diante de um catálogo de páginas amarelas de serviços, não de sabedoria. São esses mesmos ‘Acácios’ que elevam alguns pensadores ao status de verdadeiros e imprescindíveis e determinam que outros devam habitar o limbo, como no caso de Marx, banido por gente que não produziu nem 1%, em termos filosóficos, da obra do crítico maior do capitalismo.
A quem interessar possa, o filme Toy History I traz uma cena extraordinária sobre o significado de conhecer o mundo e a si mesmo. Buzz Lightyear, herói espacial, que tem a missão de exterminar o malfeitor Zurg e proteger a galáxia, descobre o significado de sua existência. Desde que foi retirado de sua caixa (ventre) e que seu cérebro começou a ‘funcionar’, ‘acreditava’ que sua missão era sua essência e que seus poderes, indicados num manual, o livro máximo da ‘verdade’, o constituíam como a plenitude do que é o ser. Um ‘Ledo e Ivo engano’ temperado pela ausência de consciência sobre si mesmo
Buzz demora, mas tal qual Zizek, entende o ‘significado’ das coisas. Tem uma revelação diante da tela de um aparelho de televisão. Assiste ao comercial que o localiza no mundo, que revela seu papel e desnuda seu ‘ser-em-si’. A partir daquele exato instante, passa a conhecer a si mesmo de maneira integral e inquestionável: ele é só um brinquedo manipulável. O choque entre a idealização de si mesmo e a dura realidade o projetam numa vertigem (náusea) e o colocam no mesmo patamar de um Lennon. Buzz conclui, diante de si mesmo estampado no comercial da TV: “...the dream is over”.
A questão principal do Conhecer a ti mesmo não é o fato possibilitar a criação de uma descrição, um perfil, uma imagem virtual-moral de nós mesmos, mas sim de entendermos qual é o significado de conhecermo-nos a nós mesmos e de maneira crítica e ética. Mais fácil escrever uma obra como a dos Beatles do que sermos éticos com a própria auto-análise. — Singer, meu irmão que estava perdido no mundo e à casa torna, sabe que não estou falando de culpa, nem de desejos frustrados.
É por isso que admiro Buzz Lightyear, capaz de caminhar em direção à maturidade filosófica e suportar os sintomas de decepção e tristeza, — ele nunca foi o que pensava ser —, mas se torna senhor do próprio destino quando entende o quê significa ser Buzz Lightyear no mundo. ‘Afora todos os sonhos’, somos todos um tanto quanto Buzz Lightyear: temos um manual implícito, o DNA; lemos em nossos livros, escritos por nós mesmos, o que é a verdade e nos imaginamos muito maiores do que realmente somos. Se houver coragem suficiente para duelarmos com a vaidade, — essa nossa alma gêmea que vem ‘em anexo’ —, e vencermos, começaremos a entender o significado de nós mesmos no mundo.
Entre uma palestra dos Conselheiros Acácios da vida e uma gota de silêncio que precede o mergulho de um sapo num lago de uma floresta qualquer, prefira o filosofar anfíbio. Afinal, viemos da água ou da terra? Depois tente entender o que significa poder responder tal questão.      

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Os irmãos 'metrôlhas'


Se não fosse a corrupção dos cartéis tucanos no metrô de SP, um rombo próximo dos R$ 550 milhões, o preço da passagem estaria custando, hoje, R$ 0,90. Covas, Serra e Alckmin, e até a campanha de FHC em 1998, foram ‘alimentados’ pelas empresas que ganharam as licitações ao longo desses anos. Era isso o choque de Gestão que apregoavam os tucanos?
Alckmin quis sair pela tangente dizendo que, “...o estado de SP foi lesado!”. Sim, nós sabemos e foi pelos governos dele, do Serra e até por uma pitada do governo Covas. A classe média alta paulista está órfã. Seus heróis são de carne e osso e não querem nem saber desse papo de que dinheiro público é ‘sagrado’.
O PSDB nacional até agora não disse nada. Alckmin tentou um segundo ato para sua reação de ‘espanto’, um teatro que tem como finalidade a tentativa de dizer que, o governador ‘não tinha domínio sobre os fatos’. ‘Dessa forma’, o governo paulista processou a Alston e a Siemens para que devolvam o dinheiro provindo da formação de cartéis nas licitações das obras do metrô. Ótimo! Mas pergunto: os tucanos não deveriam devolver o dinheiro do financiamento de campanhas, primeiramente, para essas empresas, para que depois elas possam ressarcir os cofres públicos?      
No caso específico desse processo, se Alckmin afirma não saber nada, passa a ser indiferente, para nós, cidadãos, se somos governados por ele ou por uma banana, ou uma chuteira velha.  Como o governador do estado de SP não sabe nada sobre uma das maiores obras de transporte público do país? É essa gente que quer voltar a governar o país?    
Destruída a escola pública paulista, mais a inépcia na saúde e ainda as privatizações sem sentido, ‘obra de deuses’, resta o PSDB um pedido de desculpas nacional e um suicídio para nosso alívio definitivo. Por favor, tucanada, vão para os EUA, China, Itália, Egito, qualquer lugar onde acreditem nessa ladainha de choque de gestão e de privatizações a todo custo.
Na roça, em meio á sabedoria popular, o tucano é um pássaro de mau agouro. Destrói galinheiros, rouba frutas e quando recebe muito vento de frente, em seu voar atabalhoado, volta para ponto em que partiu. Ou seja, voa pra trás. Uma anomalia, um desequilíbrio, uma ave que desafia as leis da evolução e da inteligência de milhões de eleitores masoquistas desse Brasilzão.
Quero das os parabéns ao Serra, filho de um feirante, mas que hoje pode se orgulhar de sua filha, Verônica Serra, uma vitoriosa, que tem como sócio, Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do País. Com um aporte de R$ 100 milhões, adquiriram 20% da sorveteria Diletto, avaliada em R$ 500 milhões.
Gente fina é outra coisa. Gente que, com certeza, não anda no metrô de SP.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

‘Novidade!’



O noticiário, às vezes, quer nos surpreender. Mas o Eclesiastes, desde antes do mundo, já havia nos avisado que nada seria realmente novo sob o céu de nossos dias. Dessa forma fico em dúvida, se meu espanto, minha cara de cultivador de batatas, diante das constantes ‘velhas novidades’, é realmente verdadeira, ou hipocrisia da grossa.
Mas como ficar espantando com o fio de cabelo do sovaco do Messi encontrado entre os dentes do Neymar? Mais ainda: que a Rede Globo sonegou impostos dos direitos de transmissão da Copa de 2002, criando uma empresa fantasma nas Ilhas Virgens? Ou pior: que Joaquim Barbosa é um mutante, deve aparecer no próximo X-Men, graças a poderes que possibilitam sua metamorfose numa picareta de ouro?
Irmãos, nem Malafaia, com seu discurso, “Io sô Jesus! Pode me dar su grana!” poderá nos salvar das ‘novidades’, que na verdade, são velhas tragédias. O que realmente há, é nossa incapacidade de revolta. O próximo protesto da massa ‘crítica’ do face-shit-book será para que o preço do Playstation 4 seja reduzido e também para o retorno da bala kids ao mercado.
Não bastasse tudo isso, gritaram que os EUA nos espionam na internet. Céus, no dia em que os satélites ‘forem inventados’ irão nos espionar mais ainda. Já pensou os gringos olhando a gente pulando a cerca do vizinho pra ‘ficar’ com a galinha dele? Vai dar BO.  Publicar-se-á o que é óbvio: pulamos a cerca da moral e da ética com tanta freqüência, que ela mais parece um queijo suíço do que uma demarcação territorial para salvaguarda da monogamia galinácea e da saúde do dinheiro público. 
Há quem afirme, na NASA, INPE e em outros laboratórios do Dexter, que os ETs, — que passam a existir de acordo com a quantidade de cachaça que o contador de histórias ingeriu — não pulam a cerca de seus quintais para ficar com a galinha do vizinho. Eles se teletransportam, o que deixa a cerca intacta; mas não a galinha. É a tecnologia a serviço da manutenção da cerca moral e da ética, um triunfo intergaláctico. O STF usa tecnologia parecida.
Mas a última obviedade transformada em notícia, a ‘revelação’ do ‘propinoduto’ tucano no metrô de SP, não espantou nem os colunistas da Veja. O fato de não publicarem o treco, não revela ‘nenhuma’ relação de proximidade e interesse entre a revista e o governo paulista. Só porque o Estado SP é um dos maiores assinantes da Editora Abril, não significa que haja conivência com o trambique. É só dinheiro público que foi roubado por um grupo de políticos que se diz honesto. Novidade!