Não, o
conceito não é meu, mas de um amigo. Disse-me ele, certa vez, que na vida é
preciso se alcançar a eficiência técnica com uma boa dose de displicência. O
primeiro displicente-eficiente que me veio à mente foi Cristo, com o milagre
inaugural do cristianismo, as bodas de Canaã. A primeira ‘saideira’ da história
da humanidade. Esvaziados os tonéis de vinho, bateu desespero nos anfitriões do
casamento. O povo ali, querendo brindar, e não havia mais vinho. O bom e velho
Rabi estalou os dedos e tudo se resolveu. Pra quem já havia dito, “e faça-se a
luz!”, foi mais fácil ainda dizer, “que venha a mim as vinhas do mundo!”, e
permitir a consagração da ‘saideira’, nas bodas de Canaã.
Outro
displicente genial foi Mané Garrincha, que nunca seguiu esquema tático algum,
não se cansava de jogar bola como numa pelada, amava as morenas, tinha belos
goles cachaça no currículo e ainda encontrava tempo para suas pescarias. Melhor
agenda do que essa, somente nos anos de 1960, na era hippie, onde era melhor
viajar pelo mundo e esquecer completamente qualquer tipo de conselho de
Instituições burocráticas, em franco acasalamento com conceitos estóicos e
semi-fascistas.
Buda foi outro displicente da eficiência
poética, preferiu sentar-se à sombra de uma árvore, às margens de um rio, para
encontrar a sabedoria. Pode-se dizer que a sabedoria veio até ele numa balsa, na
corda da cítara de um músico que ensinava a um menino, os princípios da música:
“...se esticar demais, arrebenta! Se ficar muito frouxa, não produz som
algum!”. Era essa a essência da vida, segundo Buda, trilhar pelo caminho do
meio, nem tanto ao céu, nem tanto ao chão. Tal como na arte de fazer uma caipirinha:
se colocarmos pinga demais, azeda o paladar. O açúcar em excesso desfigura a alma
da cana. O limão em demasia deixa o treco ácido. Tem que ser a medida certa, no
caminho do meio, com duas pedrinhas de gelo como Avatares de uma transcendência
tropical inesquecível; melhor ainda se for à beira-mar. — “...ao sol que arde
em Tapuã”!
Ao contrário
da proficiência displicente, existe a ‘proficiência ortodoxa’, séria por
demais, essencialmente de direita, que é característica de quem não tem
criatividade o suficiente e não sabe escolher o que lhe é caro, em detrimento
do que é meramente aparente e vazio. O proficiente ortodoxo sempre escolhe
errado: prefere as planilhas ao invés dos prazeres da vida. Os nazistas eram
proficientes, por isso escolheram a morte e o extermínio, ao invés da beleza da
diversidade.
Imagine por um
segundo se Hitler tivesse vencido! Parte de seus planos era purificar as
‘raças’. Isso corresponderia no extermínio de judeus, negros, árabes,
japoneses, esquimós e até mesmo no fim de todos os brasileiros, mestiços por
demais, segundo ‘os cabeças-de-planilha’ nazistas. Dessa forma, seria extinta
uma das mais belas obras da evolução da humanidade: a bunda da mulher
brasileira. Não consigo imaginar um mundo sem essa obra divina e cara a todos
nós. E olha que não falta gente que diga que, “...esse Hitler estava certo,
pena que seus planos não se concretizaram!”
Não há outra
explicação: “...quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça,
ou doente do pé. ...ou ainda não descobriu o Viagra”.