Eu sou naturalmente cético. Sempre fui. Quando alguém me diz que viu um OVNI, imediatamente penso no nome da cachaça que foi ingerida e qual a quantidade. Aos fantasmas vistos em noites de trovões, eu associo ao consumo de alucinógenos. Já as vozes misteriosas me lembram esquizofrenia. Sócrates, filósofo grego antigo, dizia que ouvia constantemente uma voz dentro de sua cabeça. Não fundou religião nenhuma. Pelo contrário, casou-se com a razão e abraçou uma ética de princípios rígidos. Essa voz dentro de nossa cabeça, esse diálogo que fazemos de maneira constante, chama-se dianóia (razão discursiva) e é onde negamos, confirmamos ou testamos idéias e conceitos. Na cultura caipira se dá o nome a essa conversa do eu com o eu de ‘matutar’.
Quando ‘matuto’ em relação à reencarnação, sempre chego ao mesmo resultado: se estamos sempre reencarnado, de onde vem a multiplicação das almas? Deveria ser sempre o mesmo o número da população mundial, porém ocorre uma multiplicação exponencial, já somos 7 bilhões de terráqueos, multiplicamo-nos como os insetos e coelhos. Sem falar que em toda sessão de regressão ao passado imemorial dos indivíduos, os mesmos descobrem, sempre, que já foram Napoleão, Martin Luther King, Carmem Miranda, Leonardo da Vinci ou Airton Senna. Dias atrás me disseram que Neimar, craque do Santos, é a reencarnação de uma bailarina do Axé. Por isso baila ao comemorar os gols que faz.
Na Índia não sei quem disse que as águas do rio Ganges são sagradas. Milhões de pessoas se banham em transe, com bocas abertas, mãos aos céus, e engolem uma água que contém o maior número de coliformes fecais por cm3 do mundo. Não bastasse beber água com cocô, ainda transformaram a vaca num deus. Além disso, os indianos destruíram milhões de hectares de florestas tropicais para cremação de seus mortos, caso contrário, eles transformar-se-iam em vampiros.
No que diz respeito ao espiritismo, às cartas psicografadas, fico pensando nos surdos e mudos que morreram e, acredito, não podem ditar nada; também os espíritos analfabetos: como conseguem ‘escrever’ as cartas através dos guias? Claro que os mais empolgados dirão que é o guia quem as escreve e não o espírito, logo a gramática estaria preservada. Deve ser duro o dia em que um boxeador vier deixar uma mensagem, escrever com aquelas luvas não deve ser fácil, já que os espíritos atormentados mantêm suas obsessões num espaço que não é o céu nem a Terra, segundo o próprio kardecismo.
Com o decorrer do tempo entendi que eu não era o único cético a perambular pelo mundo. Há tempos um aluno me disse que a ascensão de Jesus deveria ser analisada no sentido metafórico ou de maneira totalmente espiritual. Fisicamente seria impossível, pois caso isso tivesse ocorrido, ainda seria possível observá-lo voando na galáxia, já que a redenção teria ocorrido a dois mil anos; logo ainda estaria ao alcance de telescópios e sondas espaciais. Nesse dia não respondi nada a meu aluno, que também disse que não conseguia entender os homens-bombas do islamismo. Acreditar que onze mil virgens estão esperando um herói que cobriu o corpo de explosivos e explodiu a si mesmo para glória maior de Alá é, no mínimo, estupidez. Encerrei com meu aluno, nesse dia, dizendo-lhe que era melhor não discutir religião. Normalmente somos mal interpretados e a conseqüência é o isolamento, e a ampliação de inimizades. E ele me respondeu:
— Então devo ser hipócrita, ignorar a razão que aprendo nas escolas e silenciar perante as ignorâncias?
Procurei a viscosidade dos quiabos para a resposta e disse-lhe que, somos maravilhosos porque criamos literatura e acreditamos que ela é tão real, tão viva, que passamos a praticá-la sem medo. Criadores de textos e criaturas da própria ficção. Por que não amar uma espécie que delira assim, de maneira tão maravilhosa?
Na Índia não sei quem disse que as águas do rio Ganges são sagradas. Milhões de pessoas se banham em transe, com bocas abertas, mãos aos céus, e engolem uma água que contém o maior número de coliformes fecais por cm3 do mundo. Não bastasse beber água com cocô, ainda transformaram a vaca num deus. Além disso, os indianos destruíram milhões de hectares de florestas tropicais para cremação de seus mortos, caso contrário, eles transformar-se-iam em vampiros.
No que diz respeito ao espiritismo, às cartas psicografadas, fico pensando nos surdos e mudos que morreram e, acredito, não podem ditar nada; também os espíritos analfabetos: como conseguem ‘escrever’ as cartas através dos guias? Claro que os mais empolgados dirão que é o guia quem as escreve e não o espírito, logo a gramática estaria preservada. Deve ser duro o dia em que um boxeador vier deixar uma mensagem, escrever com aquelas luvas não deve ser fácil, já que os espíritos atormentados mantêm suas obsessões num espaço que não é o céu nem a Terra, segundo o próprio kardecismo.
Com o decorrer do tempo entendi que eu não era o único cético a perambular pelo mundo. Há tempos um aluno me disse que a ascensão de Jesus deveria ser analisada no sentido metafórico ou de maneira totalmente espiritual. Fisicamente seria impossível, pois caso isso tivesse ocorrido, ainda seria possível observá-lo voando na galáxia, já que a redenção teria ocorrido a dois mil anos; logo ainda estaria ao alcance de telescópios e sondas espaciais. Nesse dia não respondi nada a meu aluno, que também disse que não conseguia entender os homens-bombas do islamismo. Acreditar que onze mil virgens estão esperando um herói que cobriu o corpo de explosivos e explodiu a si mesmo para glória maior de Alá é, no mínimo, estupidez. Encerrei com meu aluno, nesse dia, dizendo-lhe que era melhor não discutir religião. Normalmente somos mal interpretados e a conseqüência é o isolamento, e a ampliação de inimizades. E ele me respondeu:
— Então devo ser hipócrita, ignorar a razão que aprendo nas escolas e silenciar perante as ignorâncias?
Procurei a viscosidade dos quiabos para a resposta e disse-lhe que, somos maravilhosos porque criamos literatura e acreditamos que ela é tão real, tão viva, que passamos a praticá-la sem medo. Criadores de textos e criaturas da própria ficção. Por que não amar uma espécie que delira assim, de maneira tão maravilhosa?