[...] "Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão. [...]
O julgamento
Sócrates,
filósofo grego antigo, foi julgado e condenado à morte por corromper a
juventude, por não acreditar nos deuses, — até que se provasse o contrário — e
também por não compactuar dos costumes do povo de Atenas. Sócrates era um ser pensante
e isso era um crime, mesmo na cidade de Atenas, berço da Democracia. Por isso morreu
envenenado, poderia ter fugido, mas não o quis. Ao aceitar sua sentença, deixou
claro o quanto eram falhas as leis de Atenas.
Jesus Cristo
foi morto e condenado, 500 anos depois de Sócrates, em Jerusalém, por crimes
contra o sistema, também chamado de sepulcros caídos. Com um cajado em mãos,
entrou no templo que sacrificava animais e foi diretamente nas barracas onde se
trocava moedas, as que faziam o sistema de câmbio funcionar. A grosso modo, a
primeira Bolsa de Valores que se tem notícia. A usura, a trapaça, a
desvalorização da humanidade em função da especulação foram seu alvo mais claro
e óbvio, e também o que o levou à cruz. Um crime que até então ninguém havia
cometido.
Jesus e
Sócrates foram derrotados. Mesmo tendo entrado, ambos, pra história, a força do
sistema foi mais forte do que eles. Sócrates virou literatura, livro de
filosofia; Jesus virou religião dividida em correntes e seitas que vivem do
comércio de sua imagem, a exemplo do que faziam no templo ‘privatizado’ que ele
quis destruir.
Pra quem não
sabe, desde os anos de 1990, o FMI tem um projeto de privatização geral dos
estados que compõem o mundo Ocidental; o plano é chamado de ‘Catastroika’. A
receita é simples: através da mídia ocorre a desconstrução dos partidos
sindicais e das lideranças populares. O eleitorado, intoxicado por um falso
moralismo, adere aos partidos chamados de direita e conservadores; todos eles com
tendências privatistas.
Assim que
chegam ao poder, essa direita começa o processo de desmanche do Estado. Através
da mídia passam a propagar que: funcionários públicos são um empecilho; os
aposentados, coisa do passado, ou vagabundos; o Estado não pode arcar com a
qualidade de vida do próprio contribuinte; educação, só a privada; estradas, só
com pedágios; filiação partidária, coisa ultrapassada; a mídia só diz a verdade;
esse negócio de esquerda e direita não existe mais. Vide Grécia, Itália e
Espanha. Adeririam à ‘Catastroika’. Venderam a alma ao diabo.
No Brasil a
coisa teria seguido o mesmo fluxo, não fosse o eleitorado, em 2002, ter gritado
“Agora é Lula!”, assim o ‘nove dedos’, com sua voz rouca, levou o Brasil para o
rumo dos antigos países do norte da Europa, que sempre lutaram, historicamente,
por uma sociedade que vivesse no bem estar social, e não eternamente em
dívidas, com o estresse no talo e com a clara idéia que tempo é dinheiro, e que
tudo deva ser privatizado.
Lula foi
julgado, não ainda pelo poder da elite, mas pela simplicidade do povo
brasileiro que viu nele a possibilidade de poder passar a fazer três refeições
por dia, sua plataforma básica de governo. Faça um teste você mesmo leitor.
Quando estiver com fome, tente se alimentar com as páginas da Veja, da Folha de
São Paulo, das palavras que saem da boca dos apresentadores do Jornal Nacional,
ou do veredicto do STF. Quando sentir frio, tente se vestir com essas páginas,
ou tente pagar suas contas com elas. Almoce num restaurante e tente pagar com
as capas da Veja. Depois me conte.
A condição
material do Homem precede ao moralismo tosco que a elite brasileira
americanizada propaga. Até mesmo o cristianismo, para que pudesse existir como
tal, necessitou que, primeiro, Deus se fizesse homem, o Cristo; e ele precisou
de alimento, de proteção contra o frio; recebeu carinho dos irmãos e irmãs, teve
um lar e foi criança.
Na semana da
condenação de Zé Dirceu, o FMI anunciou que o Brasil, além de não poder, não
vai suportar à crise econômica, e essa é a vontade do mundo especulativo
financeiro. O FMI não suporta mais esperar que outro partido de elite volte ao
poder, pelas urnas, para continuar o desmanche de nosso Estado. As ordens são:
“destruam o Zé Dirceu, o Lula, a Dilma; coloquem no poder o Serra, o Aécio,
Alckmin, nossos patetas manipuláveis de sempre, pra que o estado volte a ser sucateado
o mais rápido possível”.
Só assim a
comunidade financeira internacional poderá respirar de novo em paz, e continuar
sua ‘Catastroika’. Com Zé Dirceu, uma parte da soberania do Brasil irá pra
atrás das grades. Observe quem está a festejar e pergunte a ele, o quê ele
pensa do Brasil e por que festeja.
E outra coisa:
qual poder tem o seu voto, caro leitor, sobre as empresas privadas e quem
‘elegeu’ a direção do FMI?