terça-feira, 9 de outubro de 2012

Marx, again...O Julgamento





[...] "Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão - 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. 
Olhou em torno: gamela 
Banco, enxerga, caldeirão 
Vidro, parede, janela 
Casa, cidade, nação! 
Tudo, tudo o que existia 
Era ele quem o fazia 
Ele, um humilde operário 
Um operário que sabia 
Exercer a profissão. [...]






O julgamento

Sócrates, filósofo grego antigo, foi julgado e condenado à morte por corromper a juventude, por não acreditar nos deuses, — até que se provasse o contrário — e também por não compactuar dos costumes do povo de Atenas. Sócrates era um ser pensante e isso era um crime, mesmo na cidade de Atenas, berço da Democracia. Por isso morreu envenenado, poderia ter fugido, mas não o quis. Ao aceitar sua sentença, deixou claro o quanto eram falhas as leis de Atenas.  
Jesus Cristo foi morto e condenado, 500 anos depois de Sócrates, em Jerusalém, por crimes contra o sistema, também chamado de sepulcros caídos. Com um cajado em mãos, entrou no templo que sacrificava animais e foi diretamente nas barracas onde se trocava moedas, as que faziam o sistema de câmbio funcionar. A grosso modo, a primeira Bolsa de Valores que se tem notícia. A usura, a trapaça, a desvalorização da humanidade em função da especulação foram seu alvo mais claro e óbvio, e também o que o levou à cruz. Um crime que até então ninguém havia cometido.
Jesus e Sócrates foram derrotados. Mesmo tendo entrado, ambos, pra história, a força do sistema foi mais forte do que eles. Sócrates virou literatura, livro de filosofia; Jesus virou religião dividida em correntes e seitas que vivem do comércio de sua imagem, a exemplo do que faziam no templo ‘privatizado’ que ele quis destruir.
Pra quem não sabe, desde os anos de 1990, o FMI tem um projeto de privatização geral dos estados que compõem o mundo Ocidental; o plano é chamado de ‘Catastroika’. A receita é simples: através da mídia ocorre a desconstrução dos partidos sindicais e das lideranças populares. O eleitorado, intoxicado por um falso moralismo, adere aos partidos chamados de direita e conservadores; todos eles com tendências privatistas.
Assim que chegam ao poder, essa direita começa o processo de desmanche do Estado. Através da mídia passam a propagar que: funcionários públicos são um empecilho; os aposentados, coisa do passado, ou vagabundos; o Estado não pode arcar com a qualidade de vida do próprio contribuinte; educação, só a privada; estradas, só com pedágios; filiação partidária, coisa ultrapassada; a mídia só diz a verdade; esse negócio de esquerda e direita não existe mais. Vide Grécia, Itália e Espanha. Adeririam à ‘Catastroika’. Venderam a alma ao diabo.
No Brasil a coisa teria seguido o mesmo fluxo, não fosse o eleitorado, em 2002, ter gritado “Agora é Lula!”, assim o ‘nove dedos’, com sua voz rouca, levou o Brasil para o rumo dos antigos países do norte da Europa, que sempre lutaram, historicamente, por uma sociedade que vivesse no bem estar social, e não eternamente em dívidas, com o estresse no talo e com a clara idéia que tempo é dinheiro, e que tudo deva ser privatizado.
Lula foi julgado, não ainda pelo poder da elite, mas pela simplicidade do povo brasileiro que viu nele a possibilidade de poder passar a fazer três refeições por dia, sua plataforma básica de governo. Faça um teste você mesmo leitor. Quando estiver com fome, tente se alimentar com as páginas da Veja, da Folha de São Paulo, das palavras que saem da boca dos apresentadores do Jornal Nacional, ou do veredicto do STF. Quando sentir frio, tente se vestir com essas páginas, ou tente pagar suas contas com elas. Almoce num restaurante e tente pagar com as capas da Veja. Depois me conte.
A condição material do Homem precede ao moralismo tosco que a elite brasileira americanizada propaga. Até mesmo o cristianismo, para que pudesse existir como tal, necessitou que, primeiro, Deus se fizesse homem, o Cristo; e ele precisou de alimento, de proteção contra o frio; recebeu carinho dos irmãos e irmãs, teve um lar e foi criança.  
Na semana da condenação de Zé Dirceu, o FMI anunciou que o Brasil, além de não poder, não vai suportar à crise econômica, e essa é a vontade do mundo especulativo financeiro. O FMI não suporta mais esperar que outro partido de elite volte ao poder, pelas urnas, para continuar o desmanche de nosso Estado. As ordens são: “destruam o Zé Dirceu, o Lula, a Dilma; coloquem no poder o Serra, o Aécio, Alckmin, nossos patetas manipuláveis de sempre, pra que o estado volte a ser sucateado o mais rápido possível”.
Só assim a comunidade financeira internacional poderá respirar de novo em paz, e continuar sua ‘Catastroika’. Com Zé Dirceu, uma parte da soberania do Brasil irá pra atrás das grades. Observe quem está a festejar e pergunte a ele, o quê ele pensa do Brasil e por que festeja.  
E outra coisa: qual poder tem o seu voto, caro leitor, sobre as empresas privadas e quem ‘elegeu’ a direção do FMI?