‘Arautos’ da
liberdade andam a pregar que o jornalista Policarpo Jr, da Veja, não deve ir à
CPMI do Cachoeira. Seria um crime contra a liberdade de imprensa. Penso de
maneira oposta: é preciso lançar luz sobre o sistema de corrupção e
favorecimentos criados por Cachoeira. Se o jornalista da Veja ‘já conhecia o
esquema há mais de dez anos’ ele pode ajudar na CPMI. Além, evidente, de ser
questionado sobre o porquê de seu silêncio sobre o esquema. Afinal, não é o
papel do jornalismo esclarecer a sociedade sobre questões de interesse público?
E ainda há
outra dúvida, no caso da Veja: Roberto Civita, dono da Abril Cultural, tinha
ciência desse esquema entre Policarpo Jr e Cachoeira? Há momentos, nas
conversas gravadas entre Cachoeira e seu ‘staff’, em que fica claro que era o
bicheiro quem determinava a pauta de certas edições da revistas. Para o bem da
República, isso não pode continuar sob suspeita. Vamos imaginar por um minuto,
num conto de terror, se Fernandinho Beira-mar, o Nem da Rocinha e outras pérolas
de nossa sociedade resolvessem abrir um jornal, ou uma revista semanal (não
lhes falta capital). Segundo a lógica dos barões da mídia tradicional, Globo,
Folha de SP, Estadão e mais detritos similares com audiência menores, esses
nobres homens do crime tornar-se-iam intocáveis, pelo simples fato de se
transformarem em empresários/jornalistas. Todos os seus ‘contatos’ passariam a
ser fontes jornalísticas e logo, uma afronta chamá-los para esclarecimento numa
CPMI.
Não, não é
brincadeira. Apesar da comparação hiperbólica, a lógica do crime está presente
entre Cachoeira e Veja. Quem ganhou, quem perdeu com aquilo que foi dito e
escrito nas páginas da Veja? Um exemplo inegável: Demóstenes Torres (DEM) foi
chamado de Mosqueteiro da Ética, talvez a única pessoa honesta em que o povo
brasileiro poderia confiar. Isso escrito em páginas de 2011. Se Policarpo Jr é
amigo de Cachoeira a mais de dez anos, a questão que surge é inevitável:
Policarpo Jr sabia, ou não, que Demóstenes Torres era um ‘cachorro perdigueiro’
a serviço de Cachoeira? Nas conversas gravadas pela Polícia Federal, nos parece
que eram todos do mesmo clube. Por isso Civita precisa esclarecer a seus
leitores/consumidores, — principalmente —, se o dinheiro que gastaram com a
Veja, nesse tempo todo, tem nascentes, afluentes e remansos nessa Cachoeira.
Sim, o
‘leitor’ desse semanário tem o direito de saber se o lucro da Veja está
associado ao crime, ou não. Caso contrário, ele se torna contribuinte, sócio,
de um esquema criminoso que tem ramificações até mesmo nas gavetas da
Procuradoria Geral da República. Por falar nisso, o procurador geral da União,
Roberto Gurgel, está tentando sair pela tangente, e não quer comparecer à CPMI
e se utiliza de falsos argumentos técnicos, do tipo, “não posso ser depoente
num processo que sou acusador”.
Mas ele pode
ficar tranqüilo, já inventaram subprocudorias para casos como esses, porque o
importante, para a República, é que a luz possa exterminar o bolor sobre o
arquivamento da Operação Vega 2007- 2009, onde a Polícia Federal já havia
detectado que a dupla, Cachoeira e Demóstenes, só não dormia na mesma cama. No
mais eram próximos e já atuavam a todo vapor. Diga-se de passagem, uma
tabelinha de alta precisão nos quesitos da corrupção, das propinas e das
leviandades (através das páginas da Veja). Mesmo assim, Gurgel jogou a operação
Vega na gaveta mais profunda. Enquanto isso, Demóstenes Torres (DEM) subia cada
vez mais no cenário político. Lógica do crime: o Senado foi ludibriado e junto
dele o povo de Goiás, que não teria votado em Demóstenes, caso o arquivamento
de Gurgel não tivesse acontecido.
Devem
explicações ao país: o DEM (o partido dos panetones); Gurgel e suas gavetas
separadas por partidos; Marconi Pirilo, ‘vice-governador de Goiás’, (Cachoeira
era o titular) do PSDB; o próprio PSDB (no caso Leréia); Roberto Civita e sua
revista a serviço do Cachoeira, do Coringa e do Pinguim (pobre Batman);
Policarpo Jr, irmão gêmeo do Cachoeira; Rede Globo (o repórter Heraldo Pereira
disse, no ar, num canal de concessão pública que, por Gurgel, ele colocaria a
mão no fogo: nota: não é esse o papel do jornalismo). E tem mais: o ‘governo’
do Estado de São Paulo, (Serra/Alckmin), precisa explicar sobre as atividades
da Delta, em sampa. Essa empresa, que era ‘administrada’ por Cachoeira, assinou
contratos milionários para a construção do Rodoanel, mais a duplicação da
marginal do Tietê. Há quem diga que o dinheiro e o tempo gastos para a
construção do Rodoanel, daria para construir uma pista de mão dupla entre a
Terra e a Lua.
Por isso,
quando há dúvidas, para que a República não morra asfixiada por tanta
escuridão, é necessário uma CPMI. É assim que fazemos política. Parabéns ao
Congresso que, no momento, faz o papel da imprensa e investiga o tamanho do
estrago: dos telefonemas do Cachoeira, aos bastidores do STF. A imprensa, por
sua vez, anda a defender os seus e sabe-se lá a que preço.