sábado, 3 de setembro de 2011

A educação, o Espetáculo e a Realidade


Os dogmas da educação moderna

Que os grandes mestres me perdoem de antemão, e quando digo mestres, digo Paulo Freire, Gadotti, Rubem Alves, Piaget, Vigostisky e outros tantos que ocupam o Olimpo das teorias educacionais. Em muito concordo com eles e se não os li na íntegra, li parte da obra de cada um, em artigos, reportagens, crônicas e em conversas com gente sábia, cada vez mais rara no interior de escolas e secretarias. Mas o fato é que suas idéias têm sido usadas para justificar e colher lucros e procedimentos supostamente corretos, em termos pedagógicos e didáticos, mas que na prática, estão longe de qualquer realidade.

O primeiro exemplo é o HTPC (hora de trabalho perdida coletivamente). Ahh, os nossos impostos sendo corroídos por coordenadores e diretores com discursos cansativos e essencialmente administrativos e caducos, onde a proposta é tentar jogar a bomba, exclusivamente, nas mãos dos pobres professores. O próprio histórico de vida do aluno se torna sua defesa; diretores e coordenadores fazem isso com maestria, sabem de todos os problemas de todos os alunos, e não há nada que se possa fazer, por isso, caro professor, você é quem deve arrumar uma fórmula mágica para entreter os poços de problemas que estão diante de você. Transforme-se num IPAD, cante e dance como Lady Gaga, deixe-se fazer de idiota e até apanhe se for preciso, mas nem pense em escrever, ler, ou pedir para que seus alunos façam o mesmo, são atividades proibidas, crimes contra o sistema.

É preciso dizer que o sistema quer que esses alunos avancem nas séries sem o mínimo de conhecimento acadêmico, e sem o mínimo de senso crítico, mas com os direitos de consumidores na ponta da língua. Somente um indivíduo transformado numa massa amórfica, mas com um certificado em seu currículo, pode ser manuseado por empresas, partidos políticos e sem nenhum entrave por parte do próprio sujeito, quando forem adultos.

Assim, no futuro, quando manipulado, ultrajado e ofendido, o aluno de hoje sentir-se-á bem. Não terá a mínima noção de ética ou moral, porque nos melhores anos de sua vida, o sistema educacional o afastou da leitura, da reflexão e do armazenamento do conhecimento, que pra mim, em nossa sociedade, tornou-se sinônimo de poder. “Saber é poder.” Na era do conhecimento a voz didático-pedagógica de plantão prolifera um afastamento do conhecimento acadêmico em favor de práticas pseudo-dinâmicas, que mais são fanfarronices para chamar a atenção de jovens, do que desenvolvimento da cognição.

Em outras palavras, transforme sua aula num vídeo game e ele irá achar você um Deus. Eu sei, no final ficaremos com peso na consciência, pois os professores devem livrar o mundo de suas mazelas e não transformá-las em metodologia da prática de ensino. Essa decadência é disfarçada pela frase, “sua aula precisa ser mais dinâmica”, que é sempre dita pelos burocráticos que nunca saem de suas salas, a não ser, na hora do HTPC.

Mas você pode me perguntar se em meio a esse mundão de gente que ocupa as escolas não haverá aquele ‘estudante’, tal como no passado, que fazia a diferença em sua rebeldia e sacudia o mundo para se fazer algo melhor da situação? Eu acho difícil. Pois lutar contra o sistema, hoje, significa: estudar para uma prova, passar sem colar, assumir compromissos, ser pontual e tornar-se um indivíduo diplomado, mas crítico, que além de ser capaz de dizer “não” às safadezas das empresas sem ética, dos partidos corruptos, se afasta da violência careta das ruas com seus cracks e oxis.

Nas escolas particulares esse mesmo mal começa a invadir a prática ‘pedagógica’. A mediocridade social vem de cima pra baixo e não o contrário. Assim, a solução para todos os problemas passou a ser o ‘data-show’. Apaga-se a luz da sala, os jovens se alinham e em seguida começa a exibição de ‘vitrais’, como nas igrejas medievais, onde se educava uma massa de analfabetos com imagens frias expostas nas paredes dos templos. Escrever, ler, pensar, refletir são práticas consideradas maçantes. Nunca se esqueça, professor, “sua aula precisa ser mais dinâmica”. Use data-show, passe filme e distribua pipocas, faça piadas, faça-os rir e assim seu ibope será alto. Normalmente quem pede para o professor fazer isso, na escola particular, nem sempre é formado em pedagogia; mas quem se importa?

.....Não só a arte está morta, a juventude também está. Mas e aí, que relevância tem isso, desde que eu tenha um IPAD no bolso, um celular, um corte de cabelo igual ao do Neymar e mande o professor para a ‘ponte que partiu’ e filme tudo para depois colocar no You Tube?