conto escrito em 2001
Tudo no universo está conectado. Tudo é unido numa teia infinita. Sabemos que através de nosso raciocínio cartesiano não
conseguiremos, jamais, desvendar tal emaranhado. Talvez como muita intuição, muito
improviso e com a percepção fora da gravidade racional, tal como um Xamã, talvez, então, entendamos o universo ou possivelmente atinaremos em algo que se aproxime disso. E é daí, justamente daí, que
deixaremos de ser humanos. Quando conseguirmos sentir o universo como numa teia
quântica, a unidade que nos deu o impulso para tal compreensão já não existirá
mais, ou seja: a nossa razão. Não podemos entender o universo, só podemos
senti-lo e 'nada mais'. - Tente explicar isso para Bolsonaros, Malafaias, Padres Jonas e coxinhas mais. Verás então que um rumunante é extremamente fiel às suas quatro patas, porque a Terra é plana.
Mas enfim, podemos concluir com essa ladainha toda que, toda
ação tem uma reação porque tudo está interligado. Não há individualidades no
universo, o oposto, é nossa maior ilusão. Sim, o ato jogar uma pedra num lago pode iniciar o
vôo de algum meteoro que irá destruir a terra daqui a três milhões anos. Por
isso, pense bem antes de agir, pois há conseqüências adormecidas no tempo da
inexistência. Eu acredito piamente que há um enredo dos não acontecimentos
paralelos à nossa volta.
Temos o livre arbítrio, o que significa fazer uma
escolha a toda hora, abandonando uma série infinita de outras escolhas. Cada
escolha significa a exclusão de milhões de possibilidades daquilo que poderia
ter existido. É só pensar numa não história constante, paralela a essa que
chamamos de realidade, que na verdade, não é realidade alguma, somente o
universo num de seus próprios fiapos da teia insondável que...
...a explicação pode ir longe, não sei se é legal
começar um conto com uma digressão tão absurda. Mas quem pode negar uma série
de ações e suas conseqüências insondáveis? Há quem diga que a impotência de
Hitler matou seis milhões de judeus; que se Eistein soubesse de Hiroshima e
Naghazaki, não mostraria a língua naquela famosa foto E=MC2; que se os Ascetas
soubessem dos espanhóis, queimariam os próprios “livros” religiosos; se
argentinos soubessem das histórias das copas, usariam amarelo na camisa e
etc..
Bem a história que quero contar se passou no 'fundo' do Vale do Paraíba, numa das cidades mortas de Monteiro Lobato, um acontecido
que comporva a existência da teia quântica. Um menino, dez anos, caminhava com
a mãe numa ensolarada manhã de uma segunda-feira inevitável. Tudo corria bem
até que seu amigo, no alto do barranco da escola, chamou por seu nome. O menino
e mãe olharam e acenaram para o amiguinho e continuaram a caminhada. Mas de novo o
menino chamou e de novo a dupla olhou. Dessa vez o menino segurava o pênis com
a mão esquerda e revelava sua individualidade para quem quisesse ver. A mãe
tapou os olhos, não queria ver aquele mostrengo. O filho, ofendido e cuspia
palavrões. Que tempos eram aqueles que meninos sobre barrancos de escolas
mostravam o pau às mães dos colegas? E se a onda pegasse?
—...filho da puta, cê vai ver só!!
De posse de um bom pedaço de pedra, nosso ofendido
herói lançou o petardo em direção ao satírico que desnudava o próprio objeto
fálico em nome da bazófia. Em momentos de desequilíbrio a mira não é boa. A
pedra foi em direção a uma professora que num voeirismo exaltado, deliciava-se
com o nudismo, com a indignação maternal e finalmente, com a revolta
adolescente. O resultado de tal observação dotou a professora de uma agilidade
Romário. Ela curvou as costas e a bomba passou raspando, tal como na copa de
94, contra a Holanda. Brasil 3 a
2.
Já o carro do professor de educação física, que
nada tinha com o enredo, levou o chumbo que havia passado pela professora
Romário. O carro do proletário fora amassado por um filho que defendia a honra
da mãe, contra a exposição despudorada do pau do coleginha de sala em plena luminosidade solar de um dia útil. O resto da história é uma somatória de bate-boca. Era o pau, era a
pedra, a mãe, o carro, o pai pagando a conta. Um plágio sobre a obra magnânima
de Tom Jobim, que segundo dizem, é um plágio de uma outra obra, que por sua
vez, está na teia quântica. Um seja, um rolo só!
Quando o franco atirador foi interrogado,
defendeu-se dizendo:
—...ele queria comer a mãe!!
Ninguém come a mãe do outro assim, sem nenhuma
represália. A sociedade ocidental dava às mães um valor incalculável. A mãe de
Cristo, por exemplo, subiu aos céus; a mãe de Garrincha ganhou estátua no
Botafogo; que seria de nós sem a mãe do Pelé? Enfim, não se mostra o pau assim,
de uma maneira sacana à mãe de ninguém. O que o professor proletário não conseguiu
explicar a esposa, foi a lógica da equação quântica: pau + mãe + filho + pedra
= carro amassado.
—..cê táva na farra, né seu safado!?
Nem a física quântica explica as variações de tempo
nas mulheres. Depois de tanta confusão, só restou a ele, o suicídio. É
preferível morrer que viver num mundo assim. Certo?
Mas antes de apertar o gatilho que o mandaria para
o insondável mundo da morte, o telefone tocou. Era seu pai, que lhe pedia
auxílio.
— Filho, vou ao supermercado. Você pode me buscar daqui
a pouco?
Claro, o suicídio ficou para outro dia.