Oh! Venerável público, não percebestes a Debord e Marx no mesmo bar digital acadêmico em que estamos? Mas nós, crianças, apenas ouvimos a conversa dessa gente grande com guaraná caçula nas mãos. (imagem lúdica, eu sei, quem já não foi a um bar com o pai, e só pensava em doces e guaranás, enquanto os homens falavam de mulheres, futebol e política?); será que deixaremos um legado parecido para as gerações futuras?
Por isso abrirei a tampa de uma das caixas de Giles Lipovetski, que esculpiu em seu próprio cérebro o conceito da ERA DO VAZIO e misturá-lo a Debord, Marx, bem ao gosto de Foucault, mas permanecerei prostrado como um peregrino muçulmano diante dos olhos de Camila Vallejo, um imenso outdoor à beira da estrada, a grande imagem de minha Meca cabeluda, que tal como Tom, o satírico, desejo mergulhar e perder-me de toda razão acumulada ao longo do caminho.
Mas vamos a Lipovetsky: A Era do vazio:
Trecho da entrevista de Giles Lipovetsky a domtotal.com
“ O que eu quis dizer em A era do vazio era que vivíamos um período em que as grandes ideologias que marcaram a modernidade, como o nacionalismo, o socialismo, a revolução e o progresso, tinham perdido sua força, forma e estabilidade no mundo contemporâneo. Acho que isso continua verdadeiro. Atualmente, a descrição deva ser que, nas sociedades contemporâneas, o interesse por temas públicos é variável, tornou-se à-la-carte. Isto é, os cidadãos podem, eventualmente, mobilizar-se por uma questão ou outra, e logo em seguida deixar de manifestar interesse. Penso que não seja um desinteresse absoluto, um vazio absoluto e niilista. É um estágio em que os cidadãos mobilizam-se em função de seus interesses, e não de maneira sistemática ou em função de uma problemática do dever da cidadania. Hoje, por exemplo, nota-se um grande interesse pelas grandes questões climáticas, como o aquecimento global, mas essas grandes questões afetam diretamente a vida das pessoas. As pessoas voltam-se menos para causas anônimas ou abstratas, pois se mobilizam mais por coisas que podem concernir diretamente à sua existência, como a ecologia e o clima. Elas também se interessam por suas cidades e os lugares onde moram. Penso, por exemplo, no interesse de muitas pessoas pelas associações, que se mobilizam pela defesa de algum aspecto da vida social – os pobres, os portadores de deficiências, as crianças doentes. Entendo, então, que não haja um desinteresse absoluto, e sim um interesse que se manifesta menos em função de perspectivas universalistas”.
próximo capítulo: usarei histórias contadas por professores em escola públicas para tentar entender a luta de classes, se é que ainda existe, ou se todos só querem o mesmo papel espetacular burguês da novela das 8?