sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A sociedade do Espetáculo - A Era do Vazio


...........Ainda sobre o Espetáculo. Não paro de pensar nas pérolas que se proliferam por aqui. Alício, Tom, A&V, Dandi e outros visitantes esporádicos ou perenes, na sombra do anonimato, ou num clarão meteórico de uma simples e única postagem, estimulam ainda mais o 'divagacionismo' de nosso mundo de Solidão&Comunicação. Trazemos para a dança ‘simbiótica’, — semiótica-digital-blogueira-já-decadente — pessoas já em estado de desmanche atômico, já ao pó se foram, mas suas idéias percorrem os trilhos digitais e o fundo de nossos olhos em espantos, sorrisos, deboches e indignações, tudo se exibindo no ecrã de nossa massa engordurada de circuitos cerebrais. Sentimo-nos como quem se regozija.

Oh! Venerável público, não percebestes a Debord e Marx no mesmo bar digital acadêmico em que estamos? Mas nós, crianças, apenas ouvimos a conversa dessa gente grande com guaraná caçula nas mãos. (imagem lúdica, eu sei, quem já não foi a um bar com o pai, e só pensava em doces e guaranás, enquanto os homens falavam de mulheres, futebol e política?); será que deixaremos um legado parecido para as gerações futuras?

Por isso quero chamar um ente vivo, ainda em carne e osso, mas distante de nós, porque lhe somos a massa amórfica que compõe a multidão sem 'significado fenomenológico', para quem, num paradoxo, ele escreve. — Quando nossa voz não está no texto, o texto se torna impessoal, não o narramos, ‘apenas’ o escrevemos e os que o lêem, ‘fazem da própria voz, sua voz’, o gramofone de si-para-si (eh eh). É a hermenêutica do texto. Todo texto é hermético em si, mas não menos hermenêutico.

Por isso abrirei a tampa de uma das caixas de Giles Lipovetski, que esculpiu em seu próprio cérebro o conceito da ERA DO VAZIO e misturá-lo a Debord, Marx, bem ao gosto de Foucault, mas permanecerei prostrado como um peregrino muçulmano diante dos olhos de Camila Vallejo, um imenso outdoor à beira da estrada, a grande imagem de minha Meca cabeluda, que tal como Tom, o satírico, desejo mergulhar e perder-me de toda razão acumulada ao longo do caminho.

(o corretor ortográfico do word me informou que o parágrafo anteriror contém 80 palavras; deveria conter, no máximo, 60 palavras) Favor, leitor, desconte de seu cérebro as 20 palavras a mais e obedeça aos americanos, que criaram um limite de palavras num parágrafo no Word. Ilimitado somente a quantidade de hamburguês, coca-cola, armas, e invasões e tea partys da vida.

Mas vamos a Lipovetsky: A Era do vazio:

Gilles Lipovetsky escreve sobre as novas atitudes surgidas na Europa e nos Estados Unidos, a apatia, a indiferença e a substituição do princípio da sedução ao da convicção. A Era do Vazio fala-nos ainda do narcisismo e das novas relações sociais caracterizadas pela redução da violência e a transformação das suas manifestações íntimas. Lipovetsky, professor de filosofia na universidade de Grenoble, pensa poder reduzir todos esses fenômenos ao individualismo, que teria entrado numa nova fase nos países desenvolvidos.

Trecho da entrevista de Giles Lipovetsky a domtotal.com

“Em 1983, o senhor publicou o livro A Era do Vazio, no qual diz que nossa sociedade sofre de uma falta de interesse pela esfera pública. O senhor acredita que essa tendência tenha se aprofundado desde então?”

O que eu quis dizer em A era do vazio era que vivíamos um período em que as grandes ideologias que marcaram a modernidade, como o nacionalismo, o socialismo, a revolução e o progresso, tinham perdido sua força, forma e estabilidade no mundo contemporâneo. Acho que isso continua verdadeiro. Atualmente, a descrição deva ser que, nas sociedades contemporâneas, o interesse por temas públicos é variável, tornou-se à-la-carte. Isto é, os cidadãos podem, eventualmente, mobilizar-se por uma questão ou outra, e logo em seguida deixar de manifestar interesse. Penso que não seja um desinteresse absoluto, um vazio absoluto e niilista. É um estágio em que os cidadãos mobilizam-se em função de seus interesses, e não de maneira sistemática ou em função de uma problemática do dever da cidadania. Hoje, por exemplo, nota-se um grande interesse pelas grandes questões climáticas, como o aquecimento global, mas essas grandes questões afetam diretamente a vida das pessoas. As pessoas voltam-se menos para causas anônimas ou abstratas, pois se mobilizam mais por coisas que podem concernir diretamente à sua existência, como a ecologia e o clima. Elas também se interessam por suas cidades e os lugares onde moram. Penso, por exemplo, no interesse de muitas pessoas pelas associações, que se mobilizam pela defesa de algum aspecto da vida social – os pobres, os portadores de deficiências, as crianças doentes. Entendo, então, que não haja um desinteresse absoluto, e sim um interesse que se manifesta menos em função de perspectivas universalistas”.

próximo capítulo: usarei histórias contadas por professores em escola públicas para tentar entender a luta de classes, se é que ainda existe, ou se todos só querem o mesmo papel espetacular burguês da novela das 8?