terça-feira, 27 de julho de 2010

NAU SOLITÁRIA ** VENTO ZERO




uma balada a cada cão na estrada,
para cada dia nublado na alma.
Em cada olho negro vivo na noite,
vivo a esperança do bobo na corte.

Uma valsa para cada dia de vento,
para cada bobo que escreve sonetos.
Na prosa infeliz dos momentos,
escuto sopro atroz que invento.

Não posso ser barco, voar e sair.
Vejo no espelho vazio de tempos,
silenciosa balada de quem fica.

Não posso ser vento, partir, me iludir.
Encontrar nas ruas uma voz meretriz,
tudo é só um desejo de se matar feliz.

Ode aos pulhas

Cuspa sobre minhas mãos que constroem o mundo.
Eu evoluí na modernidade,
já sou um número, um índice.
Quero retratos na parede: todos os carros que tive.
As promissórias povoam a estante. Os livros fogem.
Adeus Marcel, adeus Miguel, adeus Hugo.
Suas histórias precisam de mais tempo do que posso dispor.
Minha boca é alimentada com o fantástico sabor do isopor.
Rima infeliz, eu sei. Mas é real o deserto infernal do capital.
A estátua da liberdade está nadando em direção ao Brasil.
Logo seremos patetas perfeitos, com roupas cheias de estrelas brancas.
Deus irá falar conosco e todos nossos filhos chamar-se-ão georges.
A voz de deus em megafones de plástico.

— bombardeiem o irã; amem israel
— bombardeiem o irã; amem israel
— bombardeiem o irã; amem israel

E responderemos balindo com sinetas made in china pro natal:

— sim, bem; amém
— sim, bem; amém
— sim, bem; amém

Depois é só privatizar a petrobrás.

“...o homem que ainda sorri, não sabe das más notícias.”
Bertold Brecht