Meu amigo de violadas, guitarradas e
outros ruídos, Bruno Rocha, também conhecido como o Buda de chocolate, me pediu
para que escrevesse sobre Yoani Sánchez, a tal blogueira cubana que pousou em
nosso território.
Não posso apoiar, em sã consciência, no caso de Cuba, um país que tem em seu DNA a 'revolução' e, em contradição a si
mesmo, a prática indefensável da proibição da expressão de seus cidadãos pela
internet e meios mais. Em contrapartida, não posso me alinhar a uma
superpotência, os EUA, que impõe um embargo econômico aos habitantes da ilha
caribenha, impedindo acesso à medicamentos, alimentos e tecnologia. Ambos
cometem crimes contra a humanidade, a meu ver.
O Estado cubano peca em não permitir, em
suas entranhas, as vozes da dissidência. Isso transformou o sonho do socialismo
caribenho em algo refratário. Nem mesmo o Vaticano é tão fechado assim, com
seus anjos e demônios nos bastidores, cometendo crimes e lavando dinheiro da
máfia, no banco Ambrosiano; independente disso tudo, ‘enfiaram’ um twitter nas
mãos do ‘falecido’ Bento 16.
Quanto a Yoani, o questionamento é básico:
quem a financia? Ela é contra ou a favor do embargo? O fato de ter sido vaiada
na Bahia, mostra que todo 'palanque' gera uma reação. Orquestrada ou não, as
batalhas de palavras de ordens são sintomas de uma democracia jovem; quando nos
acostumarmos com o processo, trocaremos as vaias pelo silêncio e/ou o descaso,
que parecem ser mais elegantes, porém com menos verve.
A mídia, espero, também irá evoluir quando
a Democracia brasileira for mais consistente. Deixará de transformar episódios
prosaicos como esse, — algo que se assemelhou a uma disputa de chapas por um
grêmio universitário, ‘sim
Yoani! X fora Yoani!’ —,
num iminente furacão ‘Catrina’, que além de divisor de águas, na História da
humanidade, vai representar, até o fim dos tempos, toda a essência do
Iluminismo republicano. Eis o jornalismo numa Disneylândia desvairada.
Na abertura dos jogos Pan-americanos, no
Rio de Janeiro, em 2007, Lula, então presidente, foi vaiado pela platéia
carioca. Galvão Bueno, que narrava o evento à época, disse que era a maior
demonstração democrática que se tinha notícia. A comitiva dos EUA, de quebra,
foi vaiada também, e a cubana, aplaudida. Quem está certo: ontem, hoje, amanhã?
Democracia nem sempre pode ser o fruto da 'jurisprudência'. Ela possui uma
votalidade inata, mas que só deve agir e fluir do interior da opinião pública
para a exposição da opinião pública; confunde-se formação de opinião, com senso
comum democrático.
Todo espetáculo político-cultural-econômico-esportivo,
em micro ou macro escala, está sujeito às vaias e conflitos. A seleção
brasileira, o Corinthians e astros do mundo pop, já foram vaiados até em aeroportos. O quê fazer, impor a lei do silêncio?
Num paradoxo, alcançaríamos, na busca por elegância, o mesmo nível das palavras
de ordens da ditadura brasileira: “povo limpo, povo desenvolvido!”; era o que diziam os
gorilas militares de plantão. Assim, por analogia, segundo a atual mídia
refratária brasileira pós-yoani, o lema atual seria: “povo silencioso, povo
elegante!”.
A Democracia nem sempre é composta por regras de etiqueta, isso leva tempo. E nem
sempre deve ser representada como a luz da razão, pelo contrário, pode ser uma
chuva impiedosa que não pensa duas vezes em molhar aqueles que, por vezes, são
mais petulantes do que racionais, e menos fortes do que aparentam ser. Mas como
disse Aristóteles, “o Homem é um animal político!”. Mas é preciso ser forte.