O Eu aspira comunicar-se com outro Eu, com alguém igualmente livre, com uma consciência similar à sua. Só dessa forma pode escapar da solidão e da loucura. (Ernesto Sábato)
terça-feira, 29 de março de 2011
GERMINAL
segunda-feira, 28 de março de 2011
Xintoísmo - Japão
domingo, 27 de março de 2011
Eu vi 'o Sicko', do Moore...
sexta-feira, 25 de março de 2011
A terceira ponte
A terceira ponte
Eu estava na rodoviária de Passa Quatro, MG. Pedi a mulher do guichê que me desse uma passagem para Cruzeiro, SP. Enquanto ela carimbava e calculava o troco, eu olhei as montanhas ao redor da cidade e disse:
— Quando estou em Cruzeiro e olho pra essas montanhas, digo que lá é Minas Gerais; agora que estou aqui, digo que lá é o estado de São Paulo.
A mulher me olhou, cara de poucos amigos, disse:
— Ora, faça me o favor! A essa hora do dia!
Peguei minha passagem e fui esperar num banco à frente da plataforma de embarque. Foi quando vi um homem de calça de algodão esgarçada, amarrada com cipó, cabelos brancos, camisa de cor indefinida e um saco de estopa que transbordava alfazema. Sentou-se ao meu lado e sorriu. Depois apontou um pequeno redemoinho no meio da rua. Voavam poeira e papéis de bala, enquanto me dizia:
— Redemoinho é quando o vôo do olhar do cachorro dá voltas, pra ver se tem rabo também.
Foi a melhor definição de redemoinho que já tinha ouvido. Nunca gostei da idéia de que o Diabo, segundo Guimarães Rosa, vivia dentro dele. Era só jogar uma peneira com uma cruz desenhada na palha e apanhar ‘o coisa ruim’. Bom, acho que misturei Lobato com Rosa. Mas isso não tem importância.
O homem que via o olhar do cachorro dando voltas no redemoinho, me convidou para ir a pé para Cruzeiro. Descer a serra para encontrar Bernardo na terceira ponte, seu amigo desaparecido. Eu fui. Paramos na Santa, mãe negra de Deus de olhar voltado para o Vale.
Um menino de cara triste, mas de sorriso, nos vendeu uma cesta de amoras. Descemos pelo asfalto na cesta, dois meninos num trenó de palha, desgastando a estrada e comendo amoras. Em meio às curvas arrojadas, me lembrei do cometa Halley; ninguém pensa mais nele. Paramos na terceira ponte. O homem velho olhou pro Paraíba e gritou. Sua voz era de amigo que procurava o irmão perdido no tempo:
— BERNARDO!!! BERNARDO!!!
Ele me disse que se em Cruzeiro existia a terceira ponte, então também haveria de ter a ‘terceira margem do rio’. Seu amigo, homem tão substancioso como um rio e tão puro como uma árvore, dessas que tem ninho de coleirinha, remando sem parar numa canoa de Jatobá Tupi, poderia estar por ali. Mas de maneira triste foi o silêncio quem respondeu.
Eu tinha esperanças e fui com ele até a segunda ponte. É onde sempre vejo homens andando sobre a água. São canoas de lata, cheias de areia. Os homens do porto de areia pescam areia, a canoa de lata fica tão pesada que a borda vai quase abaixo do nível da água, barriga submersa. Sobre ela o homem de chapéu de palha. De longe parece que ele anda sobre as águas. Talvez Bernardo se encontrasse ali. Mas o velho me respondeu:
— É belo os homens sobre as águas, mas Bernardo não pesca areia. Conta histórias pros peixes que dormem na areia, olhando a lua.
Ele se foi ao ouvir o rangido de um carro-de-boi que passava naquele instante. O condutor do veículo bovino deu-lhe a mão e ele achou lugar na carroça. Ainda ganhou um chapéu pra amenizar o sol. Foi quando me lembrei que não havia perguntado seu nome. Corri atrás do carro-de-boi, os caminhões da segunda ponte buzinavam, tinham pressa, sempre, mas consegui alcançá-lo.
— Ei! Qual é seu nome?
Ele sorriu e acenou, tinha óculos e um bigode ralo:
— Manuel de Barros.
E se foi, especializando o mundo em nada e em outras estripulias.
quinta-feira, 24 de março de 2011
Rodin
A lua na longa noite dos esquecidos.
Melhor ser feliz em tempo e sobre o trigo.
É lua da semana santa,
O “senhor” é morto.
É a hora da bagunça.
Ele não nos vê, assim não julga.
Queres eu da lua sonho.
Saciação.
Ardência. Serenidade. Explosão!!
Queres eu da lua minha amada.
Pele branca. Seios fartos.
Ejacular-se-ia acordes em sol.
À luz da lua, luz florestal,
luz fosca da lua,
ao bronze dos olhos pássaros,
é noite.
terça-feira, 22 de março de 2011
A rosa de Chernobyl, Hiroshima & Fukushima
quarta-feira, 16 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
A Saudade
sábado, 12 de março de 2011
Jornais e petróleo - Crônica publicada pelo jornal Classe Líder, em Cruzeiro-SP. Acho que o Dandi vai gostar.
Às vezes falta inspiração para escrever uma crônica. É a hora de assistir algum jornal televisado. Todos os jornais de todas as emissoras têm uma capacidade infinita de noticiar bobagens; quando não mentem descaradamente. Penso eu que, por vezes, eles mesmos acreditam no que dizem; ou é a pressa que os transforma em patetas e sem que eles o percebam. Me protejo da TV com um livro. Machado de Assis é ótimo pra isso: ele impede que os raios magnéticos nocivos dos jornais televisados nos transformem em seres ruminantes.
Quando se iniciaram as manifestações pela queda do ditador Gaddafi, na Líbia, o Jornal Nacional, da rede Globo, exibiu a bandeira do Líbano ao fundo de seu cenário azul e não a da Líbia. O casal de apresentadores foi fundo na pesquisa. Só errou a bandeira do país. Realmente estamos diante de um jornalismo confiável. Por isso tenho preferido não assistir, mudo de canal quando o assunto é a Líbia; acompanho mesmo é pelos blogs; um deles é de um amigo, o ‘Inferno de Dandi’.
Noutro dia, passava desavisado diante da TV, e ouvi a apresentadora do canal Globo News, — que nunca desliga, segundo jargão do mesmo, mas que incrivelmente nunca deu um furo jornalístico —, veicular mais informações sobre a Líbia. Ela disse que os EUA não iriam participar de uma possível invasão das tropas da OTAN à Líbia. Essa decisão caberia à Europa, mais precisamente à Itália, que como sabemos, acende uma vela pra Deus no Vaticano e outra pro diabo na Líbia, pois a ditadura de Gaddafi mantém a terra da pizza em dia com o petróleo. Mas voltando, deu pra entender a notícia: EUA fora do possível combate; só de camarote.
Depois veio uma outra notícia, e ainda sobre a Líbia: um porta aviões americano havia passado pelo canal de Suez, no Egito, e se preparava, àquela altura, para se posicionar à frente do litoral líbio. Realmente somos bobos, ou eles ‘não perceberam’ que uma notícia contrariou a outra. Se os EUA não vão invadir a Líbia, por que posicionar um porta aviões no litoral líbio? Talvez para facilitar o trabalho dos paparazzi, sedentos por uma última foto de Gaddafi com um de seus modelitos esquisitos.
Interessante, e não menos confuso em termos analíticos, é a conseqüência inevitável dos tumultos na Líbia: o aumento do preço do petróleo. No capitalismo qualquer conflito favorece aos especuladores que, normalmente, nunca ‘têm relação nenhuma com o fato em si’. Prá nós, no Brasil, é bom porque as ações da Petrobrás sobem. E, diga-se de passagem, Fernando Henrique Cardoso — perdoe a citação, caro leitor — queria vendê-la ao capital estrangeiro, só para poder dizer ao mundo que o Brasil era moderno porque privatizava estatais durante seu ‘governo’.
Imaginemos o comprometimento do abastecimento de petróleo, de uma maneira geral, causando inflação e uma estagnação da produção industrial, em função das revoltas nos países árabes. O que seria de nós, pobres brasileiros, nessa hora, sem a Petrobrás e o Pré-sal? Não me venha com esse papo de energia eólica.
Por isso é bom jogarmos na defesa. Tal como Monteiro Lobato havia dito, durante a ditadura Vargas, e por isso pegou cana: “O petróleo é nosso!”. Então por analogia, Pré-sal neles! Além disso, é um bom momento para a Europa dar um exemplo ao mundo e abandonar de vez o petróleo como fonte de energia.
O Greenpeace deveria ‘invadir a Europa’ e gritar ao mundo que ela mantém ditaduras para obter petróleo barato e ainda polui o meio ambiente. Que horror, o velho continente ainda usa combustíveis fósseis! É hora dos países desenvolvidos utilizarem fontes de energia renováveis e abandonar, de vez, seus discursos acusatórios de que, nós, nos países em desenvolvimento, vamos destruir o mundo.
quinta-feira, 10 de março de 2011
São Thomé das Letras
Hoje a cidade foi disfigurada pelo turismo banal e por um excesso de misticismo alienado. Lá rola uma energia diferente, porque a montanha onde está a cidade é de pedra. Ficamos longe dos minerais. Nos tormanos terra sobre a pedra, não só condutores do que há entre céu e terra.
Zé Ramalho tocou lá, dias desses. Minas Gerais
A música do Caetano, Canto de um povo de algum lugar, me lembra a cidade. A letra traduz o que a cidade já foi um dia. Hoje é só mais um ponto turístico bancado pelos cartões Visa e derivados. Visnu perdeu para Visa.
quarta-feira, 9 de março de 2011
A lua
Sua obscura luz azul nos molha à noite e nos anestesia em meio a árvores. O céu fica mais calmo. À sombra em noite lunar, se percebe o verdadeiro clarão do satélite. Tudo parece calmo, em câmera lenta. Flutuante.
Somos seres flutuantes no céu lunar. Os passos não fazem barulho, o chão se transforma em nuvem. A lua nos encanta, nos guia na rota misteriosa de nós mesmos. Quem olha pra ela vira poeta, ao menos por um instante. É o que basta: olhar a lua e ser poeta.
Poeta é aquele que olha pra lua e não vê só a lua. Ela pode ser tudo, mas podemos começar pelo sonho. Ou pelo o que não é lua.
Já viu quando o vento carrega nuvens diante dos olhos da lua? As nuvens parecem o tempo passando diante de nós. Me deixo levar, pois ela também se deixa levar para qualquer lugar. Acompanha o carro em movimento como um anjo vigilante. Paralaxe é o nome do fenômeno. Ela sempre nos segue, pra qualquer viagem. Tanto a mim, quanto a você. E podemos não estar no mesmo caminho. Paralaxe!
—...vou casá com a lua!!! Vou casá com a lua!!!
Essa frase não é minha. Pertence a um homem que era louco, livre, que fazia fogueiras na beira da estrada de ferro. Dormia nas ruínas da estação ferroviária, nas ruínas do próprio país. Dentro da cidade.
Tinha um bigode ralo, mexicano, com cabelo preto, liso, um índio. Ficava dizendo que iria casar com a lua. Diziam que fora um renomado professor de matemática, expulso da própria casa por uma maldosa família. Perdeu o fruto de seu trabalho. Nome: Zé Porquinho.
Sua loucura era composta de vários mundos. Havia os dias lunares e as viagens ao país da aritmética. Estava sempre alheio, mas bastava ouvir a pergunta sobre um cálculo qualquer que respondia imediatamente:
—...raiz de 25, quanto é?
—..é 5!!
Uma precisão absoluta.
Mas havia dias em que o mistério tomava-lhe a alma e parecia querer libertá-lo dos números, daquela maldita memória exata que todos forçavam-no a reviver, só para alimento do deboche.
Agora sei que sua proteção vinha da lua. Ela sentia seu sofrimento, sua agonia numeral e libertava seus sonhos. Os números que fosse para o meio da beirada. E não adiantava forçar a barra.
—..3 X 3 é quanto, Zé Porquinho?
—...72!! vou casá com a lua, ...33, vou casá com a lua!!!
Sua figura não saiu de minha memória. Ainda vejo a lata de óleo vazia sendo usada como panela em meio a restos de madeira. Ele agachado, coçando a cabeça, os pés no chão, um sorriso estático, preso em algum lugar que eu não tinha acesso. Eu tinha tanta coisa em minha casa, menos a coragem para viver tal como ele: livre. Dar um chute no sistema e ficar olhando a lua, com o direito a errar contas. As recriminações não teriam efeito, o deboche não mudaria o quadro, a caridade seria só a caridade, mais nada. Só faltou minha coragem.
Ele era o caçador de luas, o amante das nuvens. Meu!! Que inveja!
—Vou casá com a lua, com a lua, com a lua, com a luuuuaaaaaaa...
terça-feira, 8 de março de 2011
Allman Brothers
segunda-feira, 7 de março de 2011
Wolf, Page e Bonamassa: pai, filho e espírito-santo
domingo, 6 de março de 2011
Julio Cortázar
Poucos escritores me impressionaram tanto como Cortázar.
Um mundo sombrio e adormecido dentro de nós, traduzido num realismo fantástico.
No 'espírito' humano não há só anjos, deuses, deusas, heróis.
Há também o musgo, os insetos, os gatos, os cães, os vermes, os dragões; aranhas!
sábado, 5 de março de 2011
Baco, carnaval nas brasas de Pompéia
Encharquei o sangue de vinho.
A escada me levou ao sol etílico.
Passei nuvens de pernas lisas.
O mar se partiu em faixas de som.
Encharcado de vinho o cipreste e liso.
Sinto o calor feliz humanidade.
O vinho é a chama da boca santa.
As mãos tocam o sino da alegria clara.
Riachos conduzem memória diamantes.
Olhos faiscando luz perdoada de luxúria.
É o vinho caminhante na sanguínea casca.
A procissão de Baco nas terras barrocas.
Larva em pó retirante. Eu, filho do porre!
Inverno-verão-primavera-solstício.
Rodopiando em meio ao salão do baile.
O globo de isopor girando, cheio de pedaços de espelhos.
A máscara é de carne mesmo.