quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A mídia e o apoio ao Golpe de 1964

Folha da Tarde foi um vespertino brasileiro publicado pela Folha de São Paulo e distribuído em SP entre os anos de 1945 e 1999. Foi substituído pelo popular Agora São Paulo.


Aqueles que lutavam contra a ditadura civil-militar brasileira - 1964/1985 - nos chamados anos de chumbo, quando se encontravam com os carros da impresa, muitas vezes, em fugas após manifestações e/ou reuniões em aparelhos  chamados subversisvos, ao contrário de se depararem com um oásis em meio ao deserto do autoritarismo, viam sair de dentro de suas carrocerias os agentes da ditadura, prontos para oficializarem as prisões que não eram noticiadas. Com o tempo, as 'viaturas' da Folha passaram a ser vistas como camburões da ditadura. Que bom que foram queimadas.   

Além do apoio político, os jornais, entre eles a Folha de SP, publicavam a morte de ativistas presos bem antes do fato em si. Prova da proximidade das redações dos jornais com os agentes torturadores, uma fonte suja de sangue, mas que anunciava que, "... esse e aquele vão morrer, podem publicar e já!". Mas o cara ainda estava vivo, mesmo assim os jornais publicavam o assassinato que estava por acontecer nos porões da ditadura.  

Bacuri ainda estava vivo, quando saiu a manchete acima na Folha da Tarde


Sobre Herzog, manchete muito além do escárnio





             

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O resto ainda não sabe que é ...só o resto...

Os Maias não foram capazes de profetizar o reencontro
 do Led Zeppelin em 2007...
ninguém é perfeito 

"...aumenta que isso aí é rock'n' roll!!!"

  


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Instituto Benjamenta ...

Robert Walser: no hospício, ao fim da vida, perguntaram
se ele não escrevia mais:
"...estou aqui para se louco e não escritor!"





...lugar onde se aprende a ser nada...

...onde a subjetividade deve ser aniquilida...
...tudo o que é grandioso deve ser abominado..
...não há segredos, nem conspirações, nem mensagens secretas...
...corrija-me, senhor Benjamenta, tenho que ser um objeto prático...


....da obra de Robert Walser, Jakob Van Gunten - um diário



nas telas, pelos irmãos Quay, INSTITUTO BENJAMENTA:



AULA DE DANÇA




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A amante


Intimidade entre FHC e Clinton na 'cópula' das Américas

Fernando Henrique Cardoso foi amante da repórter Miriam Dutra, da TV Globo. Em 2009 reconheceu Tomás Dutra Schmdt como sendo seu filho. Além de ter pedido para que esquecessem o que ele havia escrito, de ter fumado maconha na juventude e de ter assinado, sem ler, o decreto que tornou o sigilo sobre os crimes da Ditadura eterno, FHC se apoderou do Plano Real, criado pelo falecido presidente Itamar Franco. Por isso todo tucano tem esse ar de rufião, de gambá que rouba ovos e põe a culpa no beija-flor, mas que, na realidade, tem o passado imerso em tanta lama de esgoto que poderia fertilizar o deserto do Saara, em toda sua extensão.
J.F.Kennedy, único presidente católico americano, foi assassinado em Dalas, em 1963. Segundo o ‘sonho americano’, era amante de Marilyn Monroe. Há uma teoria de que a atriz mais famosa do mundo, à época, morreu de maneira estranha, provavelmente uma queima de arquivo. O Serviço Secreto dos EUA ficou em dúvidas sobre o teor dos gemidos de Kennedy em seus belos ouvidos. O mundo vivia o período da Guerra Fria, vai que ela já tivesse escutado alguma estratégia militar contra a União Soviética e soltasse a língua, assim, sem o menor constrangimento, em salões de beleza e/ou lojas de sapatos. Melhor mandar a loira pro espaço.
Juscelino Kubitschek teve como amante, Maria Lúcia Pedrosa, fato amplamente explorado pela Rede Globo na minissérie, JK. Detalhe: a Globo mostrou o fato de maneira glamorosa, como se fosse JK um astro irresistível, uma espécie de Errol Flyn do Brasil dos anos de 1950. À época diziam que a construção de Brasília era só um disfarce para que o presidente pudesse encontrar com sua amante. Carlos Lacerda, da UDN, oposição a JK, se aproveitava do boato e punha a boca no mundo. Detalhe: a UDN seria o mesmo que o PSDB-DEM de hoje. Ou seja, um discurso de oposição baseado em falso moralismo.
Bill Clinton, em 1998, em pleno Salão Oval da Casa Branca, teria mantido intimidades com uma estagiária. O fato ficou mundialmente conhecido como ‘o sexo oral no Salão Oval’, por Mônica Lewinski. Bill, depois de ter afirmado que havia fumado maconha na juventude, mas que não a havia tragado, — o que deixou toda a associação de pais e mestres da América aliviada —, deixou claro que até mesmo o Presidente dos EUA, a nação que mais exerce fascínio sobre os idiotas no mundo todo, também tem direito a um leve trajeto além do limite. Ou seja, de uma puladinha de cerca. As questões econômicas mundiais e militares da época que esperassem pelo alívio de Bill. 
Caro leitor, você deve estar perguntando: "mas qual a finalidade desta crônica?". A resposta é essa mesmo, é um assunto vazio e que não leva a lugar algum. Do vazio ao nada. Mas parece que é essa a especialidade da Mídia, que tudo bem, a gente sabe que é craque em regurgitar excrementos em nossos ouvidos. O duro é a moda pegar e se espalhar pelo mundo e os limites entre o público e o privado se diluírem a ponto de acharmos normal invadir o quarto alheio.
Bem faz Fernando Henrique Cardoso que hoje luta para legalizar a maconha. Quer fumar para esquecer. Afinal, o filho que reconheceu, segundo teste de DNA, não é seu. Ou seja, traído pela própria amante. Em casos como esses, só se pode dizer: “só dói quando eu não fumo!”          
                      

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Protógenes



“Foi um pintor da Grécia Antiga, do séc. II d.C. Fez uma pintura sobre os Arcontes Thesmothetae (os guardiões das leis da história grega) que decorava a câmara onde se reunia o governo de Atenas, formado por quinhentos homens”.
Nosso Deputado Federal, Delegado Protógenes Queirós, do PCdoB, passou por Cruzeiro, 27/11/12, e deixou uma impressão ainda mais positiva sobre sua pessoa e seu trabalho, do que já se tinha conhecimento.
Tal como seu xará grego, ‘pintou’ belos quadros sobre a justiça em nosso país. Um deles foi o comando Operação da Polícia Federal, Sathyagraha, — junção das palavras verdade e firmeza, em sânscrito —, no ano de 2004, que investigou desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro para Portugal. O final da Operação foi coroado pela prisão, com algema e tudo, do banqueiro Daniel Dantas e similares: Naji Nahas e Celso Pita, além de outros do ‘submundo’ da corrupção.
Porém, uma das mais belas pinturas da Justiça de nosso país foi borrada pelas mãos de um chefe de jagunços, o Ministro do STF, Gilmar Mendes, que autorizou Habeas Corpus por telefone à gangue que fora detida e passou a desabonar a Operação Sathyagraha. Até então, um Habeas Corpus por telefone ‘era inédito’ em termos de privilégio dos criminosos do colarinho branco. Viva Gilmar Mendes!!
Aliás, após essa ‘pérola’, Gilmar Mendes foi rebatizado como Gilmar Dantas, pelo colunista do Globo, Noblat. Porém, independente de ser Mendes ou Dantas, o Ministro do STF lutou para que o Delegado Protógenes fosse afastado da Polícia Federal, e a Operação Satyagraha engavetada no limbo mais distante da luz da verdade e da razão.
O tempo passou e Protógenes venceu as trevas oriundas de Dantas-Mendes e foi eleito Deputado Federal; sua luta continua. Hoje deseja instalar a CPI da PRIVATARIA TUCANA, resultado do livro investigativo do repórter Amauri Jr, que detalha linha por linha o que foi feito com dinheiro adquirido com as privatizações do ‘governo’ FHC. O maior crime contra o patrimônio público da História do Brasil, quiça das Américas.
Desejo sorte ao meu Deputado. Sei que ele não conta com apoio da Rede Globo, nem da Folha de São Paulo, menos ainda da Veja e de outras empresas de comunicação, ferramentas do fascismo udenista tardio, metamorfoseado em PSDB. Mas ele sabe que pode contar com a blogosfera.
       Quero que minha pequena crônica, a esse grande homem, termine com versos de Bertold Brecht: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis"

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A justiça



Em troca de alguns poucos segundos de fama no JN da Globo, Ministros do Supremo Tribunal venderam a alma à fama. Não importa mais a história que escreveram, ou o quê ficará deles nos registros, ou da base jurisprudente que as gerações futuras herdarão. Seduzidos pela vaidade, transformaram pedra em pão e aceitaram como seu, o mundo diante de seus pés.
Acreditam cegamente que falam a uma massa de ignorantes que não sabe o significado de seus termos jurídicos, e mais confortáveis ainda se encontram, quando o bestiário geral impresso e televisado os eleva como personagens clássicos, Cavaleiros de novelas, autos, ou auto-farsas que brilham com a pureza de um manto imaculado negro. Mas não devemos nos esquecer que, personagens são sempre manipulados por aqueles que escrevem a 'história'.
Joaquim Barbosa se tornou a própria face da justiça, que tradicionalmente se representa por uma ‘mulher’ de olhos vendados e espada sobre o colo; na outra mão uma balança. A face de Barbosa se tornou a nova imagem ‘sincrética’ da justiça, fusão entre Nossa Senhora Aparecida e Iansã, a deusa de ébano da guerra, no candomblé. Verborrágico, inquisidor, vingador, Jack Estripador, raivoso, esfregou as páginas de nossa Constituição nos lugares mais sujos à busca por condenações à base de deduções sobre deduções e mais subjetividades, e tudo isso para condenar um homem.
Freud explica, ele quer destruir tudo o que nunca conseguiu ser, e que está personificado diante dele: um homem, um Zé Dirceu da vida, que nunca se importou com o que a elite dizia, e ainda por cima, enfrentou um Estado Ditatorial. Penso comigo mesmo se o STF vai julgar os assassinos da Ditadura com a mesma voz grossa com que condenou Zé Dirceu sobre o ‘domínio dos fatos’. (?)
Já se fala numa possível candidatura de Joca Barbosa para 2014, talvez pelo DEM, ou pelo PSDB, e isso bem a gosto da elite, pois é um amante dos holofotes, berra com seus pares pela posse exclusiva da razão e não gosta de diálogo. — Detalhe: a paixão das elites brasileiras por Ditaduras de Direita deixa claro que há algo a ser resolvido, digo em termos terapêuticos, pois essa obsessão pelo homem de farda, capitalista e falando em inglês, é um tanto quanto masoquista por demais.    
Mas nem tudo está fadado ao fracasso. Nossa sociedade evoluiu: antes era o poder executivo federal que era usado pelas elites, a famosa Casa Grande, como ferramenta de manipulação das massas, mas veio a era das urnas livres e a história mudou isso. Depois veio a tentativa de manipular a política pela mídia, os barões da informação passaram a perseguir os governos populares, num intuito de desmoralização e reversão posterior nas urnas, mas a internet, a blogosfera, mudou os rumos da posse da informação e mais uma vez, a canoa da elite branca udenista-psdebista furou. 
O que fazer, então? Sem o Executivo, sem a força da mídia tradicional e sem o efeito desejado nas eleições pela propagação do falso moralismo? Claro, ainda restava uma esperança: o STF! Patetas de toga à espera de um bom roteiro, de uma boa maquiagem, de quem os manipule em troca do glamour da ribalta do moralismo decadente da antiga UDN hipócrita, a mesma que levou Getúlio Vargas ao ‘suicídio’ e que carrega, ainda hoje, o estandarte das privatizações: quantos mais pros EUA, melhor. Aos brasileiros, as batatas.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Tropa de elite III (roteiro em construção)




Cena 1

Interior do palácio dos Bandeirantes. O governador recebe os dados sobre a violência: 145 mortos no mês de outubro. Levanta de sua mesa e vai ao encontro da imprensa que o aguarda: Globo, Folha, Veja, Estadão. Antes da entrevista, ocorre uma conversa em off. Em nome dos barões da mídia, o governador recebe a notícia de que vão dar mais enfoque ao assassinato de Celso Daniel. Luís da Silva é o assassino. O governador se mostra preocupado, diz que não gosta disso. Mas os repórteres afirmam que são ordens dos superiores de seu partido e há cobertura no STF. Que se tranquilize.  Como sua reeleição corre risco, ele aceita.

Cena 2 

Jabor aparece indignado na tela do JN e grita que Luís da Silva é um assassino. Depois encara a tela em silêncio. Não cita a violência em São Paulo, a canalhice da Veja que tentou fraudar o ENEM, ignora o baixo salário dos professores públicos e policiais de São Paulo e ainda tenta, junto a ressurreição do cadáver de Celso Daniel, colar o mensalão, já julgado, às costas de Luís da Silva. Esse cabra tem que morrer. Não basta sua morte política. Cita Pablo Escobar, Nem da Rocinha, Fernandinho Beira-mar, todos tais quais como Luís da Silva, bandidos.   

Cena 3

Ministros do Supremo tribunal aparecem numa sala acarpetada, copos de uísque em mãos e num sofá importado. Garotas e garotos de programa os rodeiam, todos com correntes no pescoço e roupas de couro. Discutem o que irão ganhar com a condenação de Luís da Silva pelo assassinato de Celso Daniel. Um deles alerta que não há provas. Os mais velhos dizem que é bobagem, isso nunca impediu ninguém de ser condenado no Brasil. Principalmente quando há cobertura da imprensa.  Não haverá mais eleições de postes, nós é que o pregaremos no poste de Judas. Risos e o barulho do brinde nos copos com gelo se sobrepõe na cena. Um deles recebe a notícia que será candidato à presidência da República, já em 2014. Mais vivas!   

Cena 4

Bastidores da Globo News: todos os programas: Entre Aspas, Painel, Milênio, Conexão Manhattan e Jornais em geral organizam a mesma pauta: Luis da Silva matou Celso Daniel. Dizer a mesma coisa ao longo do dia, da semana, do mês, do ano há de transformá-la numa verdade. Luís da Silva é um assassino e ainda não foi devidamente culpado pelo mensalão. Mas dessa ele não escapa.

Cena 5 (imagens cortadas do filme)

Jovens carentes que ingressaram nas escolas públicas superiores, 31 milhões de pessoas fora da linha da pobreza, baixa taxa de desemprego, taxa de juros em níveis toleráveis, melhoria da infra-estrutura, Petrobrás descobre o pré-sal, o Brasil volta a construir estaleiros, a Copa e as Olimpíadas serão aqui, a crise internacional foi controlada com intervenção do Estado e isso incomoda Washington e as hienas do sistema financeiro. Dessa maneira a intervenção ocorrerá via STF, mídia e antiga UDN, hoje PSDB, tal como ocorreu com Getúlio Vargas em seu 'suicídio'. Além do mais,  Luís da Silva elegeu a primeira mulher presidente do país. E ela continua seu trabalho. Perigo! Perigo!

Cena 6 (ainda sendo escrita)

Veja publica mais uma reportagem sem fonte jornalística e STF deixa vazar depoimento sigiloso que buscava delação premiada. Eis a ética personificada.                  

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Haddad vence STF e o mensalão




E eis que a realidade se nega a aderir à manipulação programada pelo STF, Globo, PSDB e afins. Nem mesmo os 18 minutos no Jornal Nacional, na quinta-feira, 25/10/12, reta final do segundo turno, um resumão do mensalão, mudou o resultado da eleição municipal de São Paulo, ‘a mais importante do Brasil’, segundo uma renca de analistas globais e de outros jornais e revistas que não valem a citação.
“De poste em poste, Lula vai iluminar o país”.  A frase percorreu as redes sociais e se espalhou pelo Brasil. Mas Lula venceu ou perdeu? Na somatória dos votos, como um todo, ficou com 30% dos eleitores do país e vai administrar 77,7 bilhões de reais das verbas municipais, o valor mais alto. Seu maior inimigo, o PSDB, diminuiu o número de prefeituras. O PT aumentou; mas o jornal O Globo, em 30/10/12, anunciou uma derrota petista, numa inversão da lógica, pois o PT, desde 1982, só cresce, mas perdeu, segundo os irmãos Marinho. Fazer o quê, os médicos pediram pra não contrariar.   
Mas Lula e o PT perderam em várias cidades pro PSB, partido da base aliada, e em algumas capitais do Nordeste para a oposição. Menos mal. Particularmente acho extraordinário que a alternativa ao PT seja o PSB. Isso significa que a ladainha caquética dos tucanos não faz mais a cabeça do povo e, finalmente, a classe média entendeu que o resultado da ‘administração’ tucana é a falência do ensino público, o caos na segurança pública, juros altos, desemprego, moeda depreciada e venda a baciada do patrimônio publico produtivo.
Só de lembrar que essa gente queria vender a Petrobrás, me dá arrepios na coluna. E, diga-se de passagem, seria uma transação com apoio da imprensa. Lembrete: tudo o que favorece os EUA e ferra o Brasil tem apoio da mídia: Globo, Veja, Folha de SP e entreguismos mais.
Mas o melhor do espetáculo foi ver o ídolo da elite decadente, Joaquim Barbosa Néscio I que, no esperado momento glorioso de atribuir as penas aos demônios do mensalão, também na reta final do segundo turno, errou! Tal como um calouro, um inepto, determinou multa e penas impossíveis. Alertado ao pé do ouvido, pois é um pit-bull à beira de uma crise de nervos, com uma obsessão de agradar a mídia e a elite, aceitou a soprada de Fux. Tirou os óculos e consultou no código penal, uma colinha, eh! eh! eh!; leu sobre o quê tinha de fazer.
Alguns dirão que o código está ali para ser consultado, mas o ‘herói’ deixou claro que o espetáculo é mais importante do que o julgamento, pois não havia estudado corretamente, negligenciou o dever de casa. Deixou Merval Pereira, ‘imortal’ comentarista da Globo, irritado: “Esse Joaquim não sabe usar o ‘chicote’! Não serve pra Capitão do Mato”, cuspiu o ‘intelectual’. Se a sessão do STF fosse gravada e depois transmitida, dava pra editar, igual nas novelas, ou no JN, mas ao vivo, hum!, a lambança escorreu na tela.
E já que Roberto Jeferson, delator do mensalão, ‘sempre’ diz a verdade, foi ele quem melhor definiu o que é o Lula: a cantiga do povo. E ela não acaba e não envelhece. Lula transformou o voto do brasileiro em algo existencial, material e sinônimo do afastamento da miséria.
O falso moralismo da Casa Grande da elite não cola mais. Quero saber o que ela dirá quando se lembrar de 1993, 13 de maio, — dia simbólico — na Folha de São Paulo, sobre a publicação da declaração do então deputado do PFL, Ronivon Santiago, do Acre, na primeira página que: “...recebi 200 mil reais para votar na reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso”. 
            No outro dia, 14 de maio de 1993, a Folha publicou que: “Nova fita liga Sergio Motta a compra de votos no Congresso para reeleição de Fernando Henrique Cardoso”.
Bem que dizia Cazuza: “a tua piscina tá cheia de ratos, joaquins, fernandos e suas ideias não correspondem aos fatos”. Mas na urna os habitantes das senzalas são livres. 13.      
                            

domingo, 28 de outubro de 2012

Novas notícias sobre o mensalão




13 de maio de 1997, 'governo' FHC 




Não vejo a hora para acompanhar o julgamento!


Pô! e não é que esse tem prova física, e não somente dedutiva!!


abraços aos Tom Vital, minha fonte secreta.
eh! eh! eh!  





terça-feira, 9 de outubro de 2012

Marx, again...O Julgamento





[...] "Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão - 
Era ele quem os fazia 
Ele, um humilde operário, 
Um operário em construção. 
Olhou em torno: gamela 
Banco, enxerga, caldeirão 
Vidro, parede, janela 
Casa, cidade, nação! 
Tudo, tudo o que existia 
Era ele quem o fazia 
Ele, um humilde operário 
Um operário que sabia 
Exercer a profissão. [...]






O julgamento

Sócrates, filósofo grego antigo, foi julgado e condenado à morte por corromper a juventude, por não acreditar nos deuses, — até que se provasse o contrário — e também por não compactuar dos costumes do povo de Atenas. Sócrates era um ser pensante e isso era um crime, mesmo na cidade de Atenas, berço da Democracia. Por isso morreu envenenado, poderia ter fugido, mas não o quis. Ao aceitar sua sentença, deixou claro o quanto eram falhas as leis de Atenas.  
Jesus Cristo foi morto e condenado, 500 anos depois de Sócrates, em Jerusalém, por crimes contra o sistema, também chamado de sepulcros caídos. Com um cajado em mãos, entrou no templo que sacrificava animais e foi diretamente nas barracas onde se trocava moedas, as que faziam o sistema de câmbio funcionar. A grosso modo, a primeira Bolsa de Valores que se tem notícia. A usura, a trapaça, a desvalorização da humanidade em função da especulação foram seu alvo mais claro e óbvio, e também o que o levou à cruz. Um crime que até então ninguém havia cometido.
Jesus e Sócrates foram derrotados. Mesmo tendo entrado, ambos, pra história, a força do sistema foi mais forte do que eles. Sócrates virou literatura, livro de filosofia; Jesus virou religião dividida em correntes e seitas que vivem do comércio de sua imagem, a exemplo do que faziam no templo ‘privatizado’ que ele quis destruir.
Pra quem não sabe, desde os anos de 1990, o FMI tem um projeto de privatização geral dos estados que compõem o mundo Ocidental; o plano é chamado de ‘Catastroika’. A receita é simples: através da mídia ocorre a desconstrução dos partidos sindicais e das lideranças populares. O eleitorado, intoxicado por um falso moralismo, adere aos partidos chamados de direita e conservadores; todos eles com tendências privatistas.
Assim que chegam ao poder, essa direita começa o processo de desmanche do Estado. Através da mídia passam a propagar que: funcionários públicos são um empecilho; os aposentados, coisa do passado, ou vagabundos; o Estado não pode arcar com a qualidade de vida do próprio contribuinte; educação, só a privada; estradas, só com pedágios; filiação partidária, coisa ultrapassada; a mídia só diz a verdade; esse negócio de esquerda e direita não existe mais. Vide Grécia, Itália e Espanha. Adeririam à ‘Catastroika’. Venderam a alma ao diabo.
No Brasil a coisa teria seguido o mesmo fluxo, não fosse o eleitorado, em 2002, ter gritado “Agora é Lula!”, assim o ‘nove dedos’, com sua voz rouca, levou o Brasil para o rumo dos antigos países do norte da Europa, que sempre lutaram, historicamente, por uma sociedade que vivesse no bem estar social, e não eternamente em dívidas, com o estresse no talo e com a clara idéia que tempo é dinheiro, e que tudo deva ser privatizado.
Lula foi julgado, não ainda pelo poder da elite, mas pela simplicidade do povo brasileiro que viu nele a possibilidade de poder passar a fazer três refeições por dia, sua plataforma básica de governo. Faça um teste você mesmo leitor. Quando estiver com fome, tente se alimentar com as páginas da Veja, da Folha de São Paulo, das palavras que saem da boca dos apresentadores do Jornal Nacional, ou do veredicto do STF. Quando sentir frio, tente se vestir com essas páginas, ou tente pagar suas contas com elas. Almoce num restaurante e tente pagar com as capas da Veja. Depois me conte.
A condição material do Homem precede ao moralismo tosco que a elite brasileira americanizada propaga. Até mesmo o cristianismo, para que pudesse existir como tal, necessitou que, primeiro, Deus se fizesse homem, o Cristo; e ele precisou de alimento, de proteção contra o frio; recebeu carinho dos irmãos e irmãs, teve um lar e foi criança.  
Na semana da condenação de Zé Dirceu, o FMI anunciou que o Brasil, além de não poder, não vai suportar à crise econômica, e essa é a vontade do mundo especulativo financeiro. O FMI não suporta mais esperar que outro partido de elite volte ao poder, pelas urnas, para continuar o desmanche de nosso Estado. As ordens são: “destruam o Zé Dirceu, o Lula, a Dilma; coloquem no poder o Serra, o Aécio, Alckmin, nossos patetas manipuláveis de sempre, pra que o estado volte a ser sucateado o mais rápido possível”.
Só assim a comunidade financeira internacional poderá respirar de novo em paz, e continuar sua ‘Catastroika’. Com Zé Dirceu, uma parte da soberania do Brasil irá pra atrás das grades. Observe quem está a festejar e pergunte a ele, o quê ele pensa do Brasil e por que festeja.  
E outra coisa: qual poder tem o seu voto, caro leitor, sobre as empresas privadas e quem ‘elegeu’ a direção do FMI?                            

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Os blocos de carnaval, os moinhos de vento e o Cony




O Mago é a carta número 1 do Tarô, que tem como característica a manipulação das ilusões diante de uma platéia que pensa estar olhando pra realidade. Um Bloco de Carnaval é isso: um aglomerado de Magos, todos ansiosos e inebriados pelos próprios sonhos a ponto de acreditar que as ilusões, ‘as que deveras sonham’, são verdades àqueles pra quem o bloco se apresenta.
Certa vez imaginei um Bloco de Carnaval que tinha o inusitado nome de Filhos de Onã, uma conotação debochada sobre a auto-suficiência sexual dos adolescentes em ebulição, os ávidos e eternos leitores da revista Playboy. Mas um amigo, Alício de Areias, jogou água no projeto. Disse que era um paradoxo, — disse isso enquanto gargalhava —, pois Onã, na Bíblia, fora condenado por desperdiçar o esperma sobre a terra e, em seu caso específico, ‘por não permitir a transmissão a nenhuma criatura o legado de nossa miséria; e com isso não teve filhos’.
Ainda tentei salvar a ideia, o conceito do Bloco que vislumbrava. Vi atrás de um estandarte estampado, Filhos de Onã, uma horda de Brás Cubas esmerilhando o chão com passos de bailarinos bêbados, magníficos foliões. Atinei depois, enquanto Alício ainda sorria, que o enredo era complexo por demais, muito pior do que os das escolas de samba do Rio de Janeiro. Necessitaria de um carro de som para explicar ao venerável público a proposta do Bloco, o que tornaria o treco todo inviável.
Pra quem não sabe, Alício tem muito em comum com o roqueiro Ozzy Osbourne, que em pleno show do Black Sabbath agarrou um morcego e o arrancou-lhe a cabeça com os dentes. Dizem que era de plástico, mas na dúvida, o roqueiro tomou todas as antitetânicas indicadas para tão exótico paladar.
Se engana quem pensa que Alício comeu algum morcego. Não, ele inalou a poeira de uma Caverna temperada com restos orgânicos fisiológicos de morcegos, numa excursão pedagógica que visava a análise in loco de estalactites e estalagmites. Resultado: pulmões cheios de bactérias; foi salvo pela alopatia e pelo consumo de carne. Over dose de proteína para melhor absorção dos remédios. Para um homeopata e vegetariano de carteirinha foi a profanação mor de seu templo, mas que lhe salvou a vida.
Passados o susto e o tempo, fui eu quem bateu na quina do túmulo e retornou pra vida, onde numa noite, há mais de dois anos, minha pressão arterial conseguiu a fantástica cifra de 22/21, e eu não estava sentido nada de anormal. ‘Foi infarto?! Foi! Não foi! Foi! Não foi!’. O fato é que sobrevivi. Tudo culpa da boca, que não se cansa de carne, cerveja e derivados. E foi aí que surgiu meu segundo Bloco de Carnaval.
Dentre os vários remédios que tive que passar a tomar, tinha um que se chamava Alopurinol e de tanto pronunciar seu nome me veio à cabeça uma derivação onomatopéica para o remédio, e que por acaso, ficava bem como nome de Bloco de Carnaval: Alô, urinol! Só o nome já me bastou para a criação de um enredo: foliões com penicos 1,99 sobre a cabeça, como o Elmo sagrado de Dom Quixote, barbicha no queixo, e bacias no peito como escudos. As lanças seriam aquelas vassouras de limpar latrinas.
O samba teria no refrão o apelo ao amor de Dulcinéia del Toboso; no restante da letra, a narrativa das lutas dos foliões contra os moinhos de vento, que na verdade são monstros que teimamos em ver como moinhos inofensivos. Carlos Heitor Cony, um dos mestres de nossa literatura, sabe muito bem disso. Ele tem um fiapo da pele de um moinho guardado num diário secreto, onde registrou certa viagem que fez para Espanha, em plena Mancha, terra de Quixote. Comprovou que os tais moinhos são, realmente, monstros disfarçados de moinhos. É que estamos todos cegos, como no Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago: “...e se fossemos todos cegos?”. 
      Às vezes, em meio 'aos delírios do cotidiano', me vem à cabeça imagens, cenários de sonhos, que não sei mais de que fontes são originários. Algum filme, algum carnaval, uma reportagem, sei lá! Me esforço na busca do fio do tempo que costura os quadros da memória, uma vã tentativa de veneração e obediência ao deus Cronos, à busca da origem onírica dessas 'minhas imagens', mais o significado, além dos motivos pelos quais foram forjados. 
      Eis-me a negar Heráclito, pois entro várias vezes no mesmo rio das lembranças, na topografia da memória, e solto as velas do barco e o deixo navegar por mares de sonhos 'meus', que já nem sei mais por quem foram criados, ou dos motivos de suas edificações. Seus lastros conotativos desapareceram, mas os cenários ainda estão vivos, despreocupados com a realidade. Abrigos para que se possa fugir da 'loucura'.                                                                                                               

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Tá russo, mano!





A lição é amarga e a mídia brasileira não aprende. Nos últimos anos tornou-se comum o desejo de desconstruir o PT com matérias mentirosas, análises falso-moralistas, críticas insanas e afetos mais. Apesar do alvo ser o Partido do Trabalhadores, a mídia nacional (Veja, Folha de SP, Estadão, Globo e similares transgênicos) endereçou também seus torpedos às políticas sociais e ao ‘politicamente correto’, tido pela ‘intelectualidade’ como sinônimo de ‘petismo’.
E é nessa hora que a espingarda do Mazzaropi tem uma mira mais eficaz do que o faro e as articulações dos ‘Jabores’ da vida, que dizem qualquer besteira temperada a fascismo, na busca de um bom salário global.
As balas da mídia não sortiram o efeito esperado por ela mesma. Atacar ao PT e suas propostas, mais o pensamento progressista, — que não é exclusividade do petismo —, não desencadeou o crescimento do PSDB, partido xodó do jornalismo tupiniquim-americanófilo. E o preço foi alto. Quem mais saiu perdendo fomos todos nós. Vide em São Paulo o crescimento do candidato Russomano.
Russomano vem pela via evangélica, ancorada pela Igreja Universal do Reino de Deus, nada tenho contra as Igrejas, mas não concordo com a linha de pensamento que têm sobre assuntos da Sociedade Civil. O Estado é laico e assim deve ser. Dessa maneira, a maior de nossas cidades pode estar a ponto de instaurar um modelo de administração pública calcado em valores Medievais. Ah! Como São Paulo é moderna! O que Oswald e Mário de Andrade não diriam se estivessem vivos?! A Paulicéia, antes Desvairada, quer ser agora ‘Medievalizada’, ou ‘mervalizada’; aquele colunista patético da Globo.  
O tiro equivocado da mídia, nas idéias progressistas, resultou na ‘re-criação’ de um Frankstein do conservadorismo paulistano, hoje encarnado por Russomano. E só agora a Globo & derivados entenderam que, a eterna Cruzada contra as idéias progressistas e à figura de Lula, ao longo desses anos todos, criou o ambiente favorável para multiplicação de seu maior inimigo: Edir Macedo e a Rede Record.
A ficha caiu quando a rejeição a José Serra alcançou 40% do eleitorado, nessas eleições municipais. Apenas lembrando: a outra ‘jóia’ da mídia é FHC, que terminou seu 2º mandato de presidente com extraordinários 75% de rejeição. Por que a Globo & derivados gostam tanto daquilo que o povo abomina? O povo, penso eu, numa Democracia, tem certa relevância.
Bem, mas agora Inês é morta. A cidade de São Paulo está cega, surda e prestes a abraçar as trevas e isso de tanto ouvir a mídia com seus ‘faróis’. Momentaneamente incapaz de entender o que dizem Haddad, Chalita, Soninha, as vozes do Pensamento Progressista, serão eles mesmos, os paulistanos, os maiores sacrificados, caso não haja uma mudança significativa no 2º turno.
No mais, quero agradecer a Haddad por ter sofisticado o ENEM, diga-se de passagem, criação do PSDB. A integração do acesso ao sistema federal de ensino superior foi uma das grandes transformações desse país. E digo isso com base em minha própria história. Eu, o filho de um mecânico, que teve que trabalhar para pagar seus estudos noturnos, teve a grata satisfação de ver o filho caçula, através de uma prova do ENEM, feita em Cruzeiro, concorrer por uma vaga em todas as Universidades Federais do país, e com isso sonhar com um futuro melhor. Hoje ele estuda na Universidade Federal Paulista, no curso de Ciências.
Pra quem se esqueceu, Haddad foi ministro da Educação do Governo Lula. O governo que mais abriu Universidades na História do país. Mas há ainda bastante gente desinformada a ponto de dizer que o Lula não gosta do estudo e do ambiente acadêmico. Foi com Lula que aprendi algo que nunca me ensinaram na escola: se você vive de salário, vote sempre num partido sindical. A elite nunca vai fazer algo, politicamente, que nos torne mais classe média, enquanto ela passa a ser menos elite. Por que ela faria isso por nós? Afinal, isso acarretaria numa redução de seus lucros exorbitantes. 
      E interessante: é a elite quem mantém a mídia, que quer destruir Lula, com o dinheiro da propaganda. Será que isso tem alguma relação?

domingo, 9 de setembro de 2012

O Carnaval





“..a salsicha está chorando pela morte da lingüiça, no meio do macarrão!” Meu tio ‘Vito Mello’ (Francisco de Paula Victor) cantava isso pra gente, quando éramos crianças, um bando de primos ao redor do tio pra melhor entender o mundo, nas manhãs de sábado, na casa da avó. O verso era uma adaptação do mais belo clássico do Carnaval, Máscara Negra, “...tanto riso, oh! quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...”. Obra do grande Zé Kéti.
Em tempos passados, sabíamos que o Carnaval era uma festa em que se usava as máscaras para que a celebração da carne se perdesse num universo de estereótipos e tudo, inclusive os pecados cometidos no salão, se diluísse como numa trama teatral. Os corpos, poeticamente, escondiam suas identidades verdadeiras atrás dos anseios dos personagens e, enquanto isso durava, a carne usufruía do prazer. Findada a terça-feira dourada, tirava-se as máscaras e amanhecíamos puros.
A devassidão evaporava nas fantasias que eram guardadas em gavetas profundas, túmulos que só seriam abertos na próxima estação, onde o Pierrot, a Colombina, o Arlequim, o Pirata, a Odalisca poderiam ressuscitar para o retorno da renovada festa da carne.
Já nos carnavais modernos ocorre o contrário. O pau canta, literalmente, com o consumo de drogas e álcool ao limite, violência, descaso, poesia morta, música de péssima qualidade, encontros religiosos fora de hora, exploração consumista fútil, vide desfiles de Escolas de Samba no Rio de Janeiro.
Inverteu-se a lógica: tira-se as máscaras no Carnaval e a besta fera, reinante nos homens pós-modernos, barbárie à base de especulação financeira, explode e se apodera do mundo. Findada a terça-feira, coloca-se a máscara do homem comum sobre a máscara do homem-besta-fera, que é o próprio rosto de quem se olha no espelho para viver o dia-a-dia.
Sem poesia e teatralização não há Carnaval. Se engana quem pensa que a finalidade dessa crônica é o saudosismo e/ou um discurso falso moralista. A Fantasia dos Carnavais que nos formaram, com seus foliões mascarados e canções inesquecíveis, tinham um objetivo quase que pedagógico, pois projetavam a Humanidade num mundo de sonhos, que saboreados, resultavam em poesia. Ao retornar a Terra Cotidiana, no pós-quarta-feira de cinzas, era inevitável que passassêmos a entendê-la como um lugar que poderia ser sempre melhor. Menos burocrática,  menos institucional e definitivamente humanizada.  Esse sempre foi o efeito das bênçãos de Dionísio, o deus do vinho e das festas dos mascarados; esse é o papel da ficção carnavalesca.
A inversão da lógica na Fantasia do Carnaval moderno, pelo contrário, não é sinônimo de avanço cultural: invadir os territórios dos sonhos com a realidade, só nos fará mais bárbaros e bestas-feras. O Carnaval não é vídeo game de Guerra que acontece no Iraque, com algum anglo-saxão no comando, que normalmente não entende nada de samba. Precisamos de mais caipirinha e samba; menos uísque com red-bull e raves à base das mesmas batidas: Bum! Bum! Tum! Tum! Que não dizem nada.
A morte da teatralização, e de sua trilha sonora, tem suas conseqüências nefastas para vida sobre a Terra. Os exemplos estão em toda parte: o funk: uma música para quem não gosta e/ou sabe o que é uma música; Zorra Total no lugar dos livros e das peças de teatro; máscaras de santos no lugar da face de Dionísio; Armas, socos, carros dilacerando carne. Patético se não fosse decadente.
“Atravessando o deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara”. E nessa hora, ao ver a morena de olhos verdes, me lembrei que sempre quis beijá-la. Então a convidei para bebermos uma cerveja gelada:
— O que você acha?
— Mas eu sou noiva!
         ...— Se colocar a máscara da Colombina não será mais e até o fim do baile!   

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Os mestres de Lagado



A Universidade de Balnibarbos, país visitado por Gulliver numa de suas viagens, é conhecida como Academia de Lagado — Lagado é também o nome da capital de Balnibarbo. O viajante mais extraordinário da literatura ficou abismado com a maneira como a razão e a lógica eram maltratadas no local onde deveriam ser respeitadas e amadas pelos ‘mestres’ daquele mundo. E como a tolice é contagiosa, o estrago acontecia também com as Artes, que sofriam drasticamente uma metamorfose dita ‘evolutiva’. Num curso de Artes, por exemplo, Gulliver constatou ser comum começar um quadro pela moldura, e só depois chegar ao desenho propriamente dito, que é um mero detalhe, segundo conceitos de seus especialistas, e não a essência dessa expressão.
O mais agravante nisso tudo é que a Academia de Lagado, não satisfeita com a ação de seus ‘gênios’ em seu país, passou a exportá-los para onde houvesse necessidade de avanços civilizatórios. Conseqüência: há muito eles estão no meio de nós e ‘quase’ não percebemos mais suas ações, o que pode ser perigoso. Só que é relativamente fácil identificar um ‘mestre’ que veio de Lagado: postura altiva, posse da verdade e crença dogmática no próprio currículo, além de não enxergar um palmo à frente do nariz.
Foram os engenheiros de Lagado que criaram a concepção de como se pode aumentar a potência das rodas d’água: uma caixa d’água deve ser construída no alto de um morro, depois é só bombear a água do rio pra enchê-la. Terminada a primeira parte, deve-se construir outra roda d’água no alto do mesmo morro; basta abrir as comportas da nova caixa d’água e a gravidade faz o resto. Não sei como não pensamos nisso antes! Mas o fato é que essa patente é de Lagado. Imagine se algum gênio resolve adaptar tal processo na construção de uma hidrelétrica?
Em termos de precisão histórica, é possível indicar o início da atuação dos mestres de Lagado em nosso mundo. Mas acredita-se que eram eles que, em plenos anos de 1990, já estavam à frente do maior volume de exportação de milho que o Brasil conhecera até então. Ocorreram festas, reportagens nas TVs de todo o país, a ponto de Fernando Henrique Cardoso, então presidente, fazer discursos sobre a felicidade das exportações do milho.
Nem bem encerradas as comemorações, veio a notícia de que o Brasil exportara todo milho que tinha e precisava importá-lo de novo para a produção da ração dos rebanhos bovinos, suínos, caprinos e galináceos mais. Hoje se tem certeza que os mestres de Lagado tinham forte influência no governo Fernando Henrique. Mas graças aos céus, esse tempo passou.
Mas se engana quem pensa que os mestres de Lagado voltaram pra Balnibarbos após o fiasco do governo FHC. Muitos se tornaram engenheiros da petroleira ‘Chevron Desastres Ecológicos Marítimos S.A.’, alguns passaram a ministrar aulas em cursos de mestrados e doutorados, mundo afora, — e isso graças a um acordo internacional com a ONU.
Ainda tem mais: uma quantidade considerável tornou-se parte ativa da jurisprudência do Direito mundial. Há também quem diga que foram os mestres de lagado que projetaram a usina nuclear de Fukushima, no Japão, à beira mar e sobre uma fenda tectônica. Alguns mais privilegiados, de maneira secreta, se tornaram conselheiros dos investidores da Bolsa de NY, mais precisamente em 2008.
Não quero ser pessimista, caro leitor, mas este cronista pangaré que lhe escreve tem a obrigação moral de dizer a verdade. Eles, os mestres de Lagado, estão em toda parte e não é possível tapar o sol com a peneira. Acredito ainda que alguns se candidataram ao cargo de vereador para as eleições municipais de 2012. Estão em busca do sucesso na carreira política. Começaram sujando a cidade com toneladas de papel, ao mesmo tempo em que propagam um discurso à base de promessas para que a cidade seja mais limpa, ética e saudável.     




     

sábado, 1 de setembro de 2012

O amor


Dos quatro irmãos ele ficou em casa e cuidou da mãe. Solteiro, do trabalho pra casa, da casa para o trabalho e durante longos anos. Sabia da rotina da pequena cidade tal como sabia de si mesmo. Olhava sempre pela janela do escritório de contabilidade os mesmos passando pela rua. Um universo de mil e poucas pessoas numa cidade pode ser menor que uma caixa de fósforos. O rádio sempre tocava as mesmas coisas, pois o “dono” da rádio comunitária tinha poucos discos. A estação ferroviária, motivo da cidade ter surgido, era a toca do chefe da estação, de uniforme azul, cadeira inclinada, encostada na parede, cochilando e vendo o movimento nenhum das carroças e caminhões de leite. Esperava apenas pela a aposentadoria.
Em casa Heráclito ouvia as lamúrias e as esperanças da mãe. Velha, muito velha, esperava a chegada das datas especiais para rever os outros três filhos que haviam ganhado mundo. Nos últimos anos as visitas passaram a ser substituídas por telefonemas. Aquele aparelho velho, preto, era o transmissor das desculpas das ausências nas festas de fim de ano. Nada de filhos, nada de netos. Ela só tinha Heráclito. E Heráclito não tinha ninguém.
Suas lembranças se resumiam à infância, à partida dos irmãos, às chuvas que destruíram estradas, à morte de pessoas, cachorros e bois da região. Padres que iam e vinham, trens que, às vezes, mudavam a cidade com seu barulho de universo sendo rasgado. À noite, horário nobre, ele e a mãe saboreavam a eterna rotina da TV. Onde não havia rotina?
Heráclito às vezes se lembrava de seu pai, filósofo de botequim, que havia batizado os quatros filhos com nomes de filósofos. Sempre dizia a ele que o filósofo Heráclito anunciou que não se podia atravessar duas vezes a mesma água de um rio. Tudo mudava constantemente, a água que passava, não voltava mais. A água era o tempo. Assim ele percebia que sua vida era uma contradição: seu nome era uma homenagem ao pré-socrático que defendia o eterno movimento, mas sua vida era a eterna pasmaceira daquela cidade. Vivia na mesma água, sempre. Não era aquilo um rio, mas sim um lago pequeno e raso. Andava no mesmo barro todo dia. Nem a agonia fazia efeito. O domingo, à tarde, era a própria essência de tudo o que era estático. A mais profunda silenciosa dor do mundo.
Mas um dia a dor de Heráclito começou a mudar. É que todo universo por mais extático que possa parecer, também se transforma. É demolido por uma força centrífuga. Suas saídas do escritório eram sempre às seis da tarde. Sempre sob o mesmo crepúsculo, ia solitário, carregado de cotidiano, sem a menor chance de amar alguém. Sabia até mesmo das folhas que caiam no chão, sempre nos mesmos lugares, fazendo os mesmos desenhos. Um dia, sem saber o porquê, entrou na igreja. Antes da Missa a capela ficava aberta e praticamente vazia.  Então ele começou a olhar o que já conhecia e foi aí que conheceu a mulher que mudou sua vida.
Foi na capela paralela ao altar que ele a viu. Vestido branco, com o olhar mais doce que uma mulher pode ter; Heráclito caiu de joelhos. A água do rio, finalmente, havia passado diante de seus pés. Sentiu o mundo girar, a brisa tocou seus em cabelos; era o amor pelos olhos da mulher vestida de branco. Tudo normal não fosse a mulher uma estátua de Santa Clara.
Em casa não conseguiu mais se concentrar na TV. Seu pensamento havia sido tomado pela estátua daquela mulher que a Igreja dizia ser santa. Mas se era ela a parte que lhe cabia nessa vida marasmática, sentiu a ansiedade tomar-lhe o mundo. O travesseiro não lhe deu paz, seus sonhos eram de olhos abertos, salpicados pelo suor da inconformidade por não poder beijar Clara. Ela não era santa, mas sim seu amor. Iria lutar contra tudo, contra todos só para tê-la em seus braços. Um cavaleiro deve destruir os algozes de seu amor, o castelo que a guardava deveria ser invadido. Era preciso buscá-la o mais rápido possível.
Mesmo sem ter dormido uma gota, entrou na igreja e ouviu o sermão do padre. Por coincidência, era sobre o amor de Clara por São Francisco, um amor puro, sem contato carnal, abençoado pela Igreja. Heráclito sentiu uma revolta profunda, ninguém saía dizendo aos quatro ventos que sua amada tinha outro homem, mesmo que esse homem fosse santo. Sua honra fora ultrajada, tinha que desafiar seu concorrente a um duelo. Assim é que se resolviam os triângulos amorosos.
Em seus relatórios só via espadas, cavalos e lanças. À tarde iria libertar sua amada daquela prisão. Precisava de um cavalo, de uma armadura e de muita coragem. Antes de terminar seu expediente, saiu em busca do cavalo. O encontrou-o perto da Estação de trem, pastando no abandono da Rede Ferroviária. Com a crina como rédea, o levou para o alto do morro onde um alpendre abandonado seria seu paiol. Suas armas seriam colocadas ali e ao amanhecer, invadiria a igreja.
Passou a noite em vigília. Um São Jorge a espera para vencer o dragão. Sua mãe não o viu mais, o esperou por toda noite. Escondeu-se na vergonha, tinha medo de pedir ajuda. Se um filho não volta pra casa, é por que algo maior o prendeu. Mulheres, jogo, festa, música, coisas assim. Ela não precisava ligar para a polícia. Mais cedo ou mais tarde os filhos saem de casa. Heráclito havia escolhido sair por último. Sim agora ela estava sozinha. Diante dela apenas uma estrada abandonada que findava no túmulo. Eis a perfeição.
O sol tocou nas lâminas da armadura de Heráclito e como num sinal, desencadeou suas ações morro abaixo, rumo à fortaleza que prendia sua amada. A paisagem passava zunindo por sua cabeça; àquela hora da manhã ninguém presta muita atenção em um homem em sua armadura sobre um cavalo marrom e branco. 
As patas dianteiras arrebentaram a porta da igreja. As ferraduras estalavam no chão de granito. Passou com sua espada em punho diante do altar e com uma só pancada, arrombou as grades que cercavam Clara. Ela levantou os braços e com os olhos em lágrimas, encontrou a garupa de seu herói. Saíram pelos jatos de luz da porta principal. O mundo os esperava, quem poderia dizer que não?
Longe da cidade, sobre um morro verde, Heráclito levantou a tampa de seu capacete e beijou sua amada. A brisa fazia aqueles cabelos claros voarem soltos pelo mundo novo. Os corações batiam forte. Ela não era mais de pedra, nem ele de gelo. Mas no auge, vem a mancha da ferrugem. O sorriso de Clara foi se fechando. Ela olhava pro horizonte. Algo vinha na direção deles. Ela disse que era Francisco. Ele não iria deixar que sua amada fugisse assim, com outro, após séculos de espera. Seria preciso um duelo pra ver com quem Clara ficaria. Heráclito sentiu o mundo todo sacudir seu norte. Não se duelava com santos, inda mais São Francisco. Mas Clara não deu opção a seu cavaleiro. Ou era luta, ou ela ia com o santo.
O tempo girou como numa névoa, o cenário transfigurou-se e eles estavam numa arena. No local do imperador romano, estava Clara. Iria esperar o vencedor para desposá-lo numa longa lua de mel mundo afora.
O gongo soou e os gladiadores se aproximaram. Heráclito levantou a espada e estava pronto para decepar o santo. Quando seus olhos viram os de Francisco, se deparou com tanta ternura, tanta humanidade que todo seu corpo desfigurou-se de uma só vez. Seu sangue irrigava tudo com uma força jamais vista. Não poderia matar aquele homem, aquela simplicidade plantada diante dele, era tudo o que ele não fora. Não era possível atravessar a mesma água duas vezes porque não se podia viver fora do rio, fora do ar matinal que orvalhava o mundo. A espada foi ficando pesada, foi caindo e o mundo desaparecendo. Não viria mais Clara. Uma longa noite se abateu sobre o reinado de Heráclito.
Quando acordou, deparou-se com os olhos do enfermeiro como dois objetos luminosos. Um sorriso brilhava naquela face. Conforme adentrava a razão, percebeu que um outro enfermeiro também estava ali. Então ouviu.
Foi a crise mais forte que ele já teve!
- Com certeza!
É preciso dizer pr’aquele médico novato, que Jimi Hendrix não é indicado a pacientes que vivem aqui.
Deixa que eu falo.