Para glória
maior dos brasileiros, Dom Odilo Scherer não foi eleito papa. Nos dias do
Conclave, pesquisas de boca de urna indicavam uma leve preferência do colégio
cardinalício pelo Bispo brasileiro. Mas como se sabe, em toda e qualquer
eleição há sempre muita informação e contra-informação propagadas com o intuito
de interferir no resultado do pleito. No Conclave, lógico, não foi diferente.
Assim, quando as portas da Capela Sistina se fecharam, correu à
boca miúda que Dom Odilo era corintiano, e caso fosse eleito, tiraria de sua ‘pochete’
um sinalizador naval e o usaria para comemorar sua vitória. Diga-se de
passagem, moda vigente entre os gaviões da fiel. Um sinalizador no interior da
Capela Sistina colocaria os afrescos de Michelangelo em perigo. A maior obra de
arte da humanidade poderia ser chamuscada pela euforia corintiana. Resultado: a primeira fumaça foi preta.
Antes da
segunda votação, cabos eleitorais de Dom Odilo trouxeram à luz a verdade até
então sufocada: Dom Odilo nunca foi corintiano, sempre foi um tricolor
paulista, bambi da gema, ponta firme no Morumbi em dia de clássicos. Mas a
aparente tranqüilidade suscitada pela revelação do DNA tricolor de Dom Odilo,
não afastava os riscos de danos à obra de Michelangelo.
Tanto a
torcida tricolor paulista, quanto a tricolor carioca, usam toneladas de pó-de-arroz
para saudar seus ‘esquadrões’ à entrada dos gramados. Dessa forma, ao invés de
estar portando em sua pochete o sinalizador naval corintiano, o Bispo
brasileiro poderia estar carregado quilos pó-de-arroz e sua vitória produziria
uma nuvem do cosmético no interior da Capela Sistina e até face de Deus seria
maquiada, — uma das especialidade do Vaticano — , mas que naquele momento, não era
bem-vinda. Eis a segunda fumaça negra.
Porém, a gota
d’água estava por vir. Dom Odilo chegou a discursar de maneira enfática aos
seus pares que pouco se importava com o São Paulo, estava mais preocupado era com
a casa de São Pedro e sua regeneração, que aquela altura, mais se parecia com
uma gaiola das loucas do que um Estado Católico. Mas não foi possível, pior do
que ser corintiano ou são-paulino, era sua filiação partidária. Cardeais de
esquerda revelaram que Dom Odilo era um tucano de alta plumagem. Inevitável: a
terceira fumaça também foi negra.
Um Papa
Tucano: o desespero havia caído sobre o mundo católico, tal como correu nas
pragas de Moisés sobre o Egito. A idéia de que um tucano poderia ‘governar’ a
Igreja levou grande parte do colégio cardinalício a se organizar contra ele.
Até a uma manifestação de Deus, estampando nos afrescos de Michelangelo, foi
vista. Deus teria dito: “...um tucano no comando da Igreja, vocês estão loucos!
Ele vai privatizar o Banco Ambrosiano, terceirizar a hóstia, emprestar dinheiro
do FMI, criar pedágios e fechar nossas Universidades. Nem Lúcifer faria pior!”. Nâo deu outra: vá de retro, tucano privateiro.
Com uma
intervenção dessas, mais do que de imediato, o cardeal argentino, Dom Jorge
Mario Bergoglio, subiu num banquinho e pronunciou, “...yo so partidario do San
Lourenço!” (eu sou torcedor do São Lourenço!), espécie de América F.C. da
Argentina e acabou sendo eleito em primeiro turno. O Vaticano havia sobrevivido
à sua maior provação, a idéia de ser conduzido por alguém do PSDB. Surgiu assim, finalmente, a fumaça branca.
Quem consolou
Dom Odilo foi o Cardeal africano, Peter Tuckson. Chegou perto do amigo,
colocou-lhe a mão no ombro, deu-lhe um lenço para que enxugasse as lágrimas e
disse: “...foi melhor assim. No Brasil vocês apelidam todo e qualquer loiro de
olhos azuis de Xuxa. Acabariam chamando você de Papa Xuxa, não sei
se teríamos força para sobrevier com um treco desses se espalhando pelo
facebook!”
PS: com um
papa argentino, o único risco que a Igreja corre e de Maradona ser nomeado
coroinha. No mais, a zona continua.